É fato que as principais organizações de corrida de aventura do Brasil estão no Sudeste. A região também abriga sete das top 10 do Ranking Brasileiro de Corrida de Aventura (RBCA). Os motivos podem ser vários. Talvez por concentrar as principais economias brasileiras ou talvez por ser a região que originou o esporte no país. Mas o que acontece além das fronteiras do Sudeste?
Temos visto equipes de diversos estados, fora as do Sudeste, trocarem posições entre as melhores do ranking e outras que se tornam conhecidas também pela seção ‘Equipe do Mês’, do Adventuremag. No entanto, boa parte das pessoas sabe quase nada sobre a origem das competições Brasil afora, como se estruturaram, evoluíram e o que pretendem fazer lá na frente.
Como parte das comemorações dos 10 anos das corridas de aventura no Brasil, conheça uma parte da história de alguns idealizadores que, assim como Alexandre Freitas, resolveram apostar neste esporte ainda hoje tão pouco conhecido.
Nordeste
As histórias das corridas de aventura na maioria dos estados brasileiros, por motivos óbvios exceto São Paulo, traçaram caminhos semelhantes. Em geral, elas começam com alguma ligação dos primeiros organizadores dos demais estados com a EMA; depois passam pela experiência da primeira prova, seguida por um boom de adeptos nos anos subseqüentes; para então chegar a uma espécie de calmaria, com a entrada de novos corredores e a saída de outros mais experientes.
Na Paraíba, por exemplo, apesar do primeiro contato com o esporte ter-se dado com um convite para o Eco Challenge Marrocos, em 1998, a falta de patrocínio, acabou colocando Edmilson Fonseca direto na primeira corrida de aventura do País, na EMA Litoral Norte e, no ano seguinte, na etapa Petar. Foi o suficiente para que o proprietário da Neblina Adventure Center inaugurasse, ainda em 1999, o esporte no Nordeste, numa prova com 150km, percorridos por equipes mistas e, pela primeira vez no Brasil, sem equipe de apoio.
No mesmo ano, a empresa de Edmilson lançou o Campeonato Paraibano e ainda contribuiu para o desenvolvimento do esporte em mais dois estados: Pernambuco e Rio Grande do Norte. Daí para o Circuito Nordestino de Aventura - CNA – foi um pulo. A evolução da corrida de aventura, Edmilson remete não só à ‘Equipe Neblina’, mas principalmente à garra de voluntários e à participação de órgãos públicos como prefeituras, secretarias de estado e do Sebrae. Completa a lista, na opinião dele, a marca esportiva Try On, que patrocinou o Try On Adventure Meeting em todo o Brasil, nos anos de 2005 e 2006.
Atualmente, o CNA inclui pelo menos três etapas anuais, que podem ocorrer em cinco estados diferentes, dentre os quais a Bahia. Este estado passou a fazer parte do circuito apenas em 2003, mesmo ano de estréia no esporte. Embora disponha de cenário propício para a realização das modalidades envolvidas nas corridas de aventura, a Bahia só conheceu o esporte depois que o empresário Anderson Magalhães, da SubZero Esportes de Aventura, passou uma temporada trabalhando no Rio de Janeiro, em 2002, e teve a oportunidade de ir à Bertioga, no litoral de São Paulo, participar de um EMA Escola e de outras modalidades como Enduro a Pé e do Circuito Carioca Praia do Recreio.
De volta à terra natal, Anderson se juntou à ONG Nascentes Vivas com o intuito de lançar no final daquele ano o circuito Baiano de Enduro a Pé, como preparativo para as corridas de aventura, que só ocorreriam em outubro de 2003, com o surgimento da Paletada Adventure. Foi também em 2003 que a Bahia recebeu a primeira etapa da maior prova do país depois do cancelamento da EMA, o Ecomotion Pro - Chapada Diamantina.
A partir de 2004, a Paletada Adventure deu lugar ao Circuito Baiano de Corrida de Aventura, composto por quatro etapas, dentre as quais uma promovida na Costa do Dendê, como parte integrante do CNA. No mesmo ano a região recebeu a segunda edição do Ecomotion Pro.
As competições baianas atingem seu auge em 2006, com a participação de mais de 120 participantes em uma única etapa, que incluía quartetos e duplas. Também em 2006, os baianos ganharam uma nova categoria, a solo, que também foi inserida no circuito.
Apesar de achar que, em 2007, o esporte tivesse atingido um certo grau de estagnação, com a redução do número de atletas, Anderson Magalhães sabe que as corridas de aventura continuam se estruturando e buscando novas parcerias. No ano passado, por exemplo, foi criada a Federação Baiana, que ficou com a tutela do circuito baiano e passou a agregar a Carrasco D´Aventura e o recém-criado Raid Selvagem. Atualmente, a Bahia promove uma prova acima de 200 km (Carrasco D´Aventura), outra acima de 100 km (Paletada Adventure – etapa CNA) e as demais entre 40-80 km.
Em 2008, a federação também participou da montagem do Brasil Wild Extreme, etapa mais nordestina impossível. Realizada em maio, a prova percorreu os estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. A expectativa agora, segundo com Anderson, é de que se acelere a, já notada por ele, movimentação de diferentes segmentos governamentais de apoio ao esporte. De acordo com ele, alguns investimentos estão em fase de aprovação, gerando expectativas entre organizadores e atletas. “Analisando os números de equipes e rankings, vemos ainda que a quantidade de pessoas que estão deixando de correr é quase igual ou um pouco maior do que as pessoas novas, o que dificulta o crescimento do esporte”, acrescenta.
Sul
Não só no mundo das corridas de aventuras, mas em geral, poucas são as empresas brasileiras constituídas com algum planejamento. Nesse seleto grupo, está uma de história curiosa, que foi criada, em 2001, a partir de um plano de negócio, nascido de um projeto acadêmico de conclusão de curso. O autor do trabalho era Julio Camargo, que aproveitou a indicação positiva de viabilidade financeira do estudo e se tornou organizador do Circuito Extremaventura de Corridas de Aventura e proprietário da Trade Sports - Marketing e Esporte.
Com o dinheiro que ganhava de eventos esportivos que promovia em empresas, Julio Camargo colocou em prática o projeto do curso de Administração Esportiva e, após participar de duas temporadas do Circuito Brasileiro de Corridas de Aventura, lançou a primeira corrida no Sul do Brasil. Em 2002, foi a vez de criar o primeiro circuito da região, com provas regulares que variam até hoje entre 80-120 km.
Além do esporte em si, Julio Camargo lista uma série de inovações levadas pela Extremaventura ao Paraná, como o uso de ducks, modalidades com cavalo e em águas brancas, uso de chips para cronometragem de tempos e cobertura on line. Esta última, apoiada pela assessoria de imprensa da Trade Sports, a quem o organizador se orgulha de ter conquistado espaço permanente na mídia paranaense para divulgação do esporte.
A Extremaventura atualmente é organizada pela Associação Brasileira de Inclusão e Desenvolvimento ao Esporte - ABIDE - e comercializada pela própria Trade Sports. Nos últimos cinco anos, recebeu, numa etapa por ano, patrocínio da Cimentos Itambé e, nos anos de 2005 e 2006, também fez parte do Circuito Try On Adventure Meeting.
No Rio Grande do Sul, os primeiros esboços para a primeira corrida de aventura começaram a surgir depois de uma reunião entre Evandro Schütz, da Atitude Ecologia & Turismo, e representantes das secretarias de turismo de quatro municípios. Aprovada a proposta de divulgar as belezas e potencialidades turísticas da região por meio do esporte, Evandro dedicou seis meses de trabalho para apresentar o resultado, em 2002, ao fundador do esporte no Brasil. Alexandre Freitas aprovou o projeto e o incluiu no Circuito Brasileiro das Corridas de Aventura, realizando as duas primeiras etapas do circuito fora do Sudeste. A primeira aconteceu em 10 de março de 2003, com a largada em Gramado e chegada em Nova Petrópolis. Uma semana depois, em 17 de março, acontecia a segunda prova, que saiu de São Francisco de Paula para chegar no município de Canela. Três anos mais tarde, as cidades voltariam ao cenário das corridas de aventura, com a realização do Ecomotion Pro Serras Gaúchas.
Da participação no Circuito Brasileiro, extinto após a saída de Alexandre Freitas por questões de saúde, a Atitude deu início ao Circuito Ecoatitude de Corridas de Aventura, promovido por três anos consecutivos (2004, 2005 e 2006), sendo os dois último como parte do Try On Adventure Meeting Brasil. Apesar das belas paisagens da região e do potencial para as corridas de aventura, a Atitude Ecologia & Turismo encerrou a participação em corridas de aventura em 2007, passando a se dedicar exclusivamente ao turismo de aventura.
A Átria Esportes de Aventura foi a primeira a deixar de organizar provas no Rio Grande do Sul. Em 2006, a ausência de patrocinadores levou Leonardo Souza se retirar do esporte que trabalhava desde 2004. O empresário conta que promoveu, apenas com o dinheiro arrecadado com as inscrições, seis provas, das quais cinco com distâncias que variavam entre 50-70km e a última noturna, com 110 km. Apesar de conseguir reunir entre 30-40 equipes em cada prova, Leonardo só recebia apoio de estrutura, pessoal, troféus e medalhas das prefeituras por onde suas competições passavam. Com o nível de exigência dos competidores de ponta aumentando e o pelotão intermediário abandonando o esporte, Leonardo lamenta, mas foi impossível continuar arcando com os custos envolvidos.
Atualmente poucos organizadores ainda se arriscam na modalidade no Rio Grande do Sul. Leonardo contabiliza apenas duas etapas promovidas em 2008, número bem diferente, por exemplo, das 15 provas realizadas em 2005. “Se seguir nestes mesmos moldes, de provas longas, noturnas, com inscrições caras e sempre buscando só agradar as equipes de ponta, o esporte vai morrer. Aliás, já está quase morto por aqui”, desabafa.
Fazem parte do circuito etapas como a Desafio Sejel, que também realizou, em agosto último, uma prova de 150 km; e a Desafio dos Espigões, promovida em Março, em Nova Petrópolis.
Em Santa Catarina o número de aventureiros da promoção do esporte até que é considerável. O estado conta, desde 2002, com a Naturesporte – Associação de Esportes da Natureza, compostas por diferentes empresas organizadoras. Nomes como Sul Brasilis, Bituin, SB5 Eventos & Marketing, Paz na Terra e Expedição Xokleng já tiveram ou têm sua representatividade da entidade. A primeira, a Sul Brasilis, foi a responsável pela introdução das corridas de aventura catarinense, no feriado e 07 de setembro de 2001, com uma prova de mais de 180 km.
Para Paulo Cadallóra, da Expedição Xokleng, fatores como o crescente número de organizadores no Estado e as variações nos locais de prova têm contribuído para o desenvolvimento do esporte. A própria Xokleng, surgiu apenas em 2005 e em 2007 já realizou uma prova de 170 km, reunindo uma média de 54 equipes em suas provas, entre duplas e quartetos e que se dividem nas categorias aventura e expedição.
Resumo do histórico das Corridas de Aventura no Nordeste e Sul
Nordeste | ||
Paraíba | Bahia | |
1ª Competição | Desafio Costa do Sol | Paletada Adventure |
Data e local da primeira prova | 13 a 15/11/1999 Litoral Sul |
05-06/10/2003 São Francisco do Conde - Recôncavo Baiano |
Modalidades Esportivas | Trekking, natação, costeira, caving, mountain biking, técnicas certicais e orientação | Orientação, canoagem, mountain biking, trekking, verticais, bike´n run, costeira |
- Distância; - Tempo do vencedor; - Tempo médio |
150 km; 20 horas; 26 horas |
40 km Expedição / 25 Km Adventure; 10 horas tempo médio |
-Nº de equipes; -Formato |
- 7 equipes; - Quartetos mistos e não mistos |
- 11 equipes na expedição e 6, na adventure; - Trios mistos e não mistos |
Organizador (es) | Neblina Adventure | ONG Nascentes Vivas e SubZero Esportes de Aventura |
Equipe(s) vencedora (s) | Equipe Gravidade Zero (PB) | Equipe COAMA (Expedição) / Dea da Mata e Caiporas Trekking (Adventure) |
Memórias da primeira prova | A atleta da Gravidade Zero venceu a prova mesmo tendo fraturado o braço no trecho de mountain biking. A equipe desmontou a bicicleta dela e um dos atletas a carregou no quadro da bike pela prova toda | Uma tempestade invadiu a Baía de Todos os Santos, virando diversas canoas e gerando o resgate da equipe Soterópolis, presa em um maguezal. |
Média de equipes participantes atualmente | 16 | 23 |
Sul | |||
Paraná | Rio Grande do Sul | Santa Catarina | |
1ª Competição | Raid Extremaventura | Circuito EcoAtitude | SulBrasilis |
Data e local da primeira prova | 05/05/2001 Campina Grande do Sul |
10/03/2003 Gramado a Nova Petrópolis |
07/09/2001 Antonio Carlos a Santo Amaro de Imperatriz |
Modalidades Esportivas | Orientação, trekking, mountain biking, natação, técnicas verticais e ride & run | Orientação, canoagem, Mountain biking, natação e trekking. | Orientação, canoagem, mountain biking, trekking, natação |
- Distância; - Tempo do vencedor; - Tempo médio |
- 55 km; - 11h30; - 13h |
- 45 km; - 4h30 (tempo médio) |
- 188 km; - 39h; - 52h |
-Nº de equipes; -Formato |
- 21 equipes; |
- 50 equipes - Quartetos mistos |
- 19 equipes - Quartetos mistos |
Organizador | Extrema Aventura Marketing e Eventos | Atitude Ecologia & Turismo | SulBrasilis |
Equipe(s) vencedora (s) | Equipe Ixion Geo | QuasarLontra | Visite Punta Del Leste Team / Uruguai |
Memórias da primeira prova | O frio congelou as equipes, que também não tinham experiência em orientação. | Na primeira etapa a equipe Atenah foi penalizada por 15 minutos logo no início da prova por terem sido flagradas fazendo "estudo de campo" da prova no dia anterior à largada. | Na Natação de 700 metros, o atleta da equipe uruguaia Alejandro, foi atacado pelo "Sleep Monster" e cochilou durante a natação, obrigando seus companheiros de equipe a nadar e rebocá-lo. |
Média de equipes participantes atualmente | 70 | 25 | 50 |
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