Equipe WRR1 conquista podium na Dietrich XK Race - Argentina

Por Pablo Bucciareli - 16 Out 2008 - 10h05

Esse não é bem um relato, seria mais uma forma que encontramos de agradecer as inúmeras vibrações que amigos, familiares e parceiros nos deram quando assumimos essa responsabilidade de viajar para uma etapa de Alta Montanha numa prova disputada por equipes fortes locais e com terreno e clima desfavoráveis para nossa equipe.

© XK Race

© XK Race

© XK Race

© XK Race

© XK Race

A equipe estava formada por Pablo Bucciarelli, navegador e mais novo membro da equipe WRR1, Diogo Malagon, com 11 anos de experiência no Triathlon e fundador do time em 2007, o Argentino Daniel Pincu e a Chilena Verônica Bravo, ambos amigos de Pablo e convidados para substituir Rafael Melges, capitão da equipe, que não pode desmarcar algumas atividades profissionais e exames na faculdade. Na verdade, a equipe ainda não tem uma atleta em definitivo, então Verônica foi uma opção pela experiência em provas frias e por já ter conquistado o Desafio dos Vulcões em 2003, a exemplo de Pincu, que o fez em 2004.

Desde a chegada em Los Molles, depois de 17 horas de ônibus, sem banhos e pouca comida, o clima era de pura alegria, já que sempre que viajamos para fora, somos muito bem recebidos. Pincu e Verônica se juntaram a nós no alojamento concedido por Alito Luchini, organizador do Circuito XK Race, por sinal, excelente em termos de exigência física e está a cada etapa exigindo mais habilidade dos orientadores. A logística e estratégia sempre acompanharam as provas organizadas por Alito. Sua experiência como organizador já acumula circuitos desde 2000, citando Peugeot EcoAdventure, Salomon X-Series, XTremo 6000, entre outros.

Vamos pra prova!
As 17h00, largada em trekking a 1920 msnm, do PC0 ao PC5, com ascensão do Cerro Colorado a 3150 msnm, e um total de 30 km. As provas são disputadas em várias categorias, com equipes de duplas, trios, quartetos masculinos e mistos. A XK Race considera trios e quartetos dentro da mesma categoria, disputando a mesma premiação e ranking, diferentemente do conceito existente no RBCA. A WRR1 marcou presença com um quarteto, para pontuar no ranking nacional de maior concorrência, já que é a meta da equipe para 2009 chegar ao TOP 10.

Esse trekking apresentou-se muito duro, pois o terreno além de ser vulcânico, com muitas pedras, tinha rios cortando as trilhas e caminhos com água de degelo, próximo de 0ºC. Cada passagem dentro dos rios, com água às vezes na cintura, era mais um ritual de preces e orações. A subida deixou todos com dores nos pulmões. Após o PC3, exatamente no cume da montanha, paramos para nos abrigar, pois já era noite e não sentíamos mais os dedos das mãos. Manipular mapas, comida e hidratação tornavam-se tarefas complicadas.

Descemos buscando o relevo do vale, um rio que escoava da neve pelo interior das montanhas era o nosso destino. Descemos alucinados depois do esforço brutal de subir no ritmo daqueles que vivem nas montanhas. Equipes de regiões como Bariloche, Neuquén, San Martin de Los Andes, Mendoza, San Luis, San Juan, Córdoba, etc, eram os que mais nos amedrontavam, pois sabíamos que não seríamos páreo para eles.

Chegamos ao final do trekking, para nossa surpresa, em 2.º lugar na categoria quartetos e trios mistos e 10.º na geral. Incrível! Pensei: “acho que vai dar samba!”. Mantivemos nosso ritmo, buscando não perder tempo em relação à equipe de Charly Galosi, melhor equipe Argentina, que já abria 30 minutos nesse primeiro trecho.

As 22h30 começa a parte mentalmente mais dura, pois seriam 85 km de mountain biking em terreno semi-plano, com inúmeras opções de caminhos e trilhas, um PC virtual, e madrugada com vento frio e úmido. Verônica estava cansada, tendo que ser rebocada por todo a subida do trekking e durante todo o percurso de MTB.

Seguimos em 2.º lugar, quando para nossa supresa, no PC7, após passagem pelo virtual e volta em torno da Laguna Blanca, encontramos uma desagradável notícia: “Hola chicos de Brasil...” Estávamos em 4.º lugar na categoria e 15.º na geral. Nada mal, para quem tinha como meta chegar entre os cinco da mista, porém perder posições numa corrida acaba afetando um pouco... Mas, vamos que tem prova... por sinal, nem tinha começado.

Ao final da MTB já havíamos recuperado, pelo ritmo que conseguimos colocar, uma das posições. Uma equipe de San Martin, com atletas fortes e experientes, buscava podium e nos colocou resistência até o final dos 85 km, a maior parte lado a lado. Duro lidar com a disputa, mas isso foi bom, pois nos mantiveram acordados até as 6h30 da manhã, 8 horas de pedal, frio e uma bela tempestade de neve que caiu nas montanhas da cordilheira, que acabou roubando um pouco da nossa energia. “Torcemos o cabo”... dizia Diogo todo eufórico em sua primeira experiência na Argentina. A neve e o frio ele já havia conhecido de perto na França, quando levou a WRR1 para a Mountain X-Race.

PC9: um “stop” obrigatório de segurança manteve a disputa em alto nível. Conseguimos comer e descansar por duas horas. Saímos em duplas, Pincu e Verônica para um trekking de 8 km em direção à sessão de cordas, uma tirolesa rápida, para depois seguir ao trekking final de ascensão ao Cerro Las Hoyadas, 3025 msnm. Eu e Diogo, juntos corremos com os equipamentos de água (remos, coletes, neoprene.... que neoprene!) para o início da remada a 8 km do centro de Los Molles. A remada se daria no rio Salado formado pelo degelo das montanhas que formam o complexo de turismo de Las Leñas. A sensação térmica foi piorando à medida que descíamos o rio. Conseguimos cravar o trecho em trekking + canoagem em 2h28, a melhor parcial, depois vieram as duas equipes Argentinas mais fortes, uma delas vencedora do Desafio de los Volcanes 2007, com 2h40 e 2h49. O fator vento, mais as ondas e apenas uma peça de peito e costas de neoprene foram determinantes para que eu e Diogo entrássemos em hipotermia. Na verdade, nossa sorte foi que depois de 20 km de remada, rio abaixo e veloz, uma fogueira e muita solidariedade dos colegas de equipe nos colocaram de volta na prova em 15 minutos apenas. Comemos, e seguimos tontos e tremendo e ainda sem sentir os dedos dos pés e mãos.

Na transição do PC 11 disse a Pincu que levasse o mapa até que me recuperasse, passando as dicas do trecho final, com mais 25 km de trekking, 1100 metros de desnível e temperatura em torno de -10ºC no PC12, conforme previsão dos organizadores.

Nesse momento, caminhamos boa parte buscando forças para acertar o ritmo e não cometer erros. Pois, se ainda existia uma chance de conquistar mais uma posição, não deveríamos desperdiçá-la. Mas, na verdade, estávamos muito preocupados em não abrir mão do 3.º lugar, resultado excelente diante das circunstâncias.

Pincu foi lúcido em cada manobra com o mapa, dialogamos quando necessário, mas ele estava no controle. Para os que o conhecem, sabem que ele não sabe nem o que é norte... Costuma dizer: “me voy de trompada”. Mas, na verdade, tem estudado a arte da orientação, e acabou sendo o nosso trunfo no final da prova. Fizemos força... para subir... uffffffffffffff.... mas subimos, com frio na cara, babando, espumando, rasgando mato, e valeu... Batemos no PC12 em 5.º lugar na classificação geral, e garantimos o 3.º na mista, conquistando um podium muito merecido. Opa, na verdade ainda teria a descida... Subimos em 4 horas e a descida nos custou mais 1h30.

Antes da chegada, um susto. Ao olharmos para trás, um quarteto descendo a montanha correndo... Pensamos, será que é mista, vamos ver? Disse: “não importa, vamos correr...”

Chegamos totalmente esgotados, pois ainda foram cerca de 10 minutos de puro terror, se jogando de barrancos, com neve, pedra e até um rio que cruzamos nem sei bem como, pois abrir mão do 3.º lugar a menos de 2 km da chegada, não seria uma boa recordação. Na verdade, o quarteto era masculino da mesma cidade de Pincu, nosso colega de equipe. Ao reconhecer Pincu na equipe, quiseram pregar um susto... Beleza, com susto ou sem susto, chegamos entre os cinco entre masculinos e mistos, o que mais nos impressionou, já que pelas inúmeras vezes que corri na Argentina e América do Sul, sabia o nível exato de cada equipe, seus resultados e não poderia prever tal desempenho, ainda sem a presença do Rafa, capitão da equipe.

Foram mais de 180 km, muito frio, muita dor, realmente fizemos uma corrida magnífica, com poucos erros, e aprendemos algumas coisa mais, mas a maior delas, é de as conquistas são de todos. Se pudessem imaginar nosso sentimento, é como se cruzássemos a linha de chegada de mãos dadas com nossos familiares, pais, irmãos, filhos, amigos, treinadores, parceiros, colegas de equipe, admiradores, todos juntos, pois o mais difícil na verdade é treinar e arrecadar dinheiro e energia para subir no avião, ônibus ou carro, para mais uma expedição rumo ao desconhecido.

Obrigado a todos e um sonoro WWWWWWWWWWRRRRRRRRRRRRRRRR1...
Pablo, Diogo e Rafa!

Mais informações e fotos da prova: www.xkrace.com.ar
Mais informaçõs sobre a equipe: www.wrr1.com

Pablo Bucciareli
Por Pablo Bucciareli
16 Out 2008 - 10h05 | geral |
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