Relato da equipe Curupira Pirô - Revista Azimute

Por Gustavo Scalzilli - 16 Dez 2008 - 22h47
Se, cada prova que enfrentássemos, déssemos um título, essa última etapa da Chauás seria: Equipamento. Ávidos por uma Corrida de Aventura, nossa equipe se preparou como pôde para estar presente e fazer uma boa Chauás. Eram praticamente 5 meses sem uma provinha e a tremedeira já estava pegando. Abstinência é complicada... Durante a semana e preparação de equipamentos, percebemos que alguns itens estavam em sua fase final de vida. Estava na hora de começarmos a renovar tênis, odômetros, calças, meias e afins. Mas pensamos "Fim de ano... última prova... sem grana... deixa para depois... mais uma provinha aguenta". Dois dias antes da prova meu odômetro da bike simplesmente apaga... que beleza! Mexe daqui, cutuca dali e nada. Troca de bateria e nada... bom, pelo menos temos mais dois para fazer a prova (fomos em uma dupla e um solo). Comentei do acaso com meu irmão já no carro durante a viagem e recebi um interessante: "nossa, meu odômetro não funciona faz tempo. Tô sem grana, então tô sem." Hummm não gostei da idéia e perguntei para a Vanessa do dela. "Tá meio capenga.. hora funciona hora não" CARAMBA! Como vamos fazer uma CA sem odômetro de bike?!?! Bom, depois de um belo congestionamento no Rodoanel (para fugir do trânsito de SP), chegamos em Guaraú com chuvas nos ombros. Viva CHUÁS! Cumprimentos para todos. Rostos amigos que a tanto tempo não víamos... rostos novos... legal.. sempre é bom ter gente nova na Chauás... hehee Vimos o mapa e comemoramos... odômetro da bike não será necessário... ufa! Porque percebemos durante a noite que NENHUM funcionava. Mapa plotado, pizza consumida, sono pesado, mochilas prontas, caixa também... fomos dormir. Dia amanhece ensolarado.... e com cara que seria uma Chauás seca. Raridade, diga-se. Nos preparamos e durante a preparação das bikes o odômetro da Vanessa volta a funcionar. "Aleluia!". Mas ao calibrar meus pneus consegui (não me perguntem como) quebrar minha bomba. Aeeee que beleza! Tínhamos mais 2. Com essa maré de "azar" já colocamos câmaras extras na bagagem. Vai saber se não acontece de furar pneu por aí... Todos preparados para a largada... corridinha básica de 5km até pegar a bike e socar a bota. Corneta tocada... saudades desse som, dessa adrenalina... desse calor, desse povo louco que larga a mil.... hehe fomos no nosso bom e velho ritmo "Nóis demora mais nóis chega"... e sempre, ou quase sempre, que chegamos, pegamos boas colocações. Perseverança e paciência acima de tudo para conseguir vencer as trilhas do titio maLucas. Navegação mais do que sossegada para pegar os PCs 1a, 1b e 1c, mero 'city tour' pela cidade e praias... separar os 'homi dos menino', como dizem. Pegamos a bike e fomos em ritmo bom para fraco. Nossa preparação boa 'pero no mucho' começou a dar sinais de vida. Estávamos nitidamente no pelotão do final. "sem problemas. Na navegação nós pegamos eles." Na bike encontramos a única garota que fez a prova solo, nos 45km. Parabéns para ela que terminou a prova. Maravilha. Torcíamos muito por você durante a prova mesmo sem saber seu nome, até agora. Fica aqui nossos parabéns. Bom, ao chegar no final da bike ouço a Vanessa berrando: "Meu odômetro morreu de vez." Que beleza... já entrou na lista dos novos equipos 2009, com certeza. E encontramos as primeiras equipes... a pé... sentido oposto... indo para o famoso trekking das trilhas de maLucas. Contei e verifiquei que estávamos a uns 5km de distância de 4 duplas mistas. Ou seja, metade das equipes. Isso deu uma animada. Deixamos a bike e fomos de encontro ao trekking no nosso ritmo... trote no plano e descida e caminhada na subida. Na entrada da estrada encontramos uma excelente bica para refrescar nossas cabeças, reabastecer e iniciar o trekking forte. Encontramos nesse ponto algumas equipes perdidas, o que estranhamos muito, afinal de contas era um trecho "tranquilo" da prova... Trekking subida forte, descida forte... e de repente ouvimos vozes... olhamos para trás e 4 atletas vinham em ritmo moderado em nosso encontro. Pensei: "Meu deus... é quarteto... não podemos estar tão atrasados assim". Não era quarteto e sim duas duplas masculinas que erraram a entrada para a estrada. "Erraram? Mas tava na cara... logo ali"... tudo bem... fomos ultrapassados... lá se foram eles... Chegamos na praia... PC4 registrado.. e as duas duplas entram para o mato conforme previsto... um atleta solo surge para nos fazer companhia... e tudo continua... já na trilha muito batida a primeira bifurcação mas nada demais.... seguimos nosso ritmo... chegamos a segunda praia... e quem encontramos vindo de uma direção completamente estranha, nada previsível? Sim o mesmo quarteto de antes... os atletas tomaram um susto ao nos ver... "Acho que nos perdemos pelo visto" Respondemos "Acham não... se perderam... a trilha era essa tranquila"... "Segue esses caras que eles sabem o que fazem" ouvimos... ok simbora! No final da praia tinha uma entrada para uma trilha... entrada com água acumulada que tinha cara de riacho... ficamos um pouco na dúvida e, nesse ponto, já acumulavam algumas equipes e solos conosco... Vanessa leu o mapa com calma e seguimos pelo alagado que logo se transformou uma avenida de trilha.... acertamos.... e cadê o resto do pessoal?? Ficaram para trás.... tudo bem... apertamos um pouco o passo... subida íngrime... descida idem... e pimba... praia novamente e.... mais equipe parada... 2 duplas mistas e 1 solo faziam uma pausa para comer algo... passamos "rápido" por eles e apertamos o ritmo... pelo menos passamos 2 equipes.... estamos bem... no PC5 as duplas de 45km iam em direção a cidade e a chegada... e nós de 80km íamos enfrentar a mata... as tais trilhas Chauás. Até aquele ponto a navegação tinha sido tranquila o que para nós não é tão bom pois a velocidade predominou, nosso ponto fraco. Começamos a entrar na trilha.... bifurca daqui, bifurca dali... mas seguimos num bom ritmo, azimute e afins. Tava tudo certo. Estávamos navegando bem e queríamos chegar ao PC6 antes de escurecer. PC6 que ficava no "meio" do nada. Era puro azimute e, acreditar que aquelas trilhas no mapa eram reais e nítidas seria muita ingenuidade. Logo a 'trilha' em que estávamos sumiu. Maravilha... agora começou a brincadeira. Cortamos um pouco de mato e ouvimos vozes.. muitas vozes diga-se.. uma verdadeira conferência de duplas e solos tentando achar uma saída. Penso "como é bom encontrar esse povo aqui. Embolou tudo de novo no pelotão do meio" Por experiência resolvemos não prestar muito a atenção no que diziam e fazer a nossa prova. Tínhamos na cabeça o que fazer... pegamos uma trilha e seguimos... primeira dúvida da prova... tinha que subir... mas nem tanto... pegamos um rumo e começamos a subir... subir... e a mudar de rumo... hummm tá tudo errado... vamos voltar ao local que conhecemos e arrumar isso... na volta quem eu vejo?!?!?! Caco e a Selva... NÃÃÃOOOO os quartetos nos alcançaram depois de percorrem 10km a mais sendo bons km de remo... ô povo insano seu!! :-) E diga-se temos um bom histórico de encontrarmos com a Selva em situações de navegação complicada. Pequena troca de informações e Caco solta um "nossa já sei aonde estou. É aqui" aponta no mapa e sai correndo... agradece... e some... literalmente... queria um dia andar tão rápido qto essas equipes de ponta num mato chato como aquele... um dia... quem sabe... pelo menos nossa informação ajudou (de novo!!! lalalalalala essa Selva não é de nada :-P ) alguém... e nos ajudou também... Percebemos que não iríamos procurar trilha nenhuma... já aprendemos em muitas Chauás que trilha é lenda... a mata era fechada mas nem tanto... dava para fazer um vara mato sem problemas... pegamos nosso azimute e coincidentemente era na direção do sol... pensamos... "segue o sol" que sairíamos no PC... e lá fomos nós... no meio do caminho encontramos duas duplas... aquelas mesmas que estavam fazendo uma parada praias atrás... trocamos informações e expomos nossa estratégia "Segue o sol". Alguns riram, outros debocharam e outros acharam interessante. Explicamos: "sabemos que o azimute é o sol. Então para não ficar lendo a bússola toda hora e aproveitar a presença do sol, segue ele. Não tem erro. Chegaremos no PC" e não estávamos brincando... era sério... eles entenderam a idéia mas resolveram adotar outra tática... sem problemas... Lá fomos nós... vara-mato Chauás.... tem coisas que não são explicáveis... somente se você estiver lá... essa é uma delas... espinho, bambu (até que tinha pouco dessa vez), cipós, etc... pra quem gosta... e chegamos no mangue... aeeee mangue quer dizer que estamos perto do rio principal... e logo perto do PC... perto é tudo relativo quando se anda em mangue... estávamos perto mesmo (depois descobrimos) mas andar em mangue e sair ileso é para poucos... e no começo andávamos rápido o suficiente para evitar voltar para a mata... e vimos o final forçado de mangue devido a uma enorme pedra no caminho... tínhamos que terminar o mangue e voltar para a mata ou, encarar nadar um trecho no rio...sem coletes, enfrentamos o mangue... eram poucos metros.... e... anda, atola, desatola, atola, atola, atola mais um pouco e anda, atola, arrasta e vai... trancos e barrancos... e ouço de Vanessa "Meu deus... meu tenis não vai aguentar" hummm como assim não vai aguentar?? Sabíamos que seria a última prova dele...mas ele começava a dar sinais de destruição... ela mostra o solado de um dos pés...40% descolado... "Isso não... " pensei... Tentamos dar um jeito de afundar mas nem tanto... para não destruir mais o tenis... e não adiantou... na segunda atolada 'com gosto' lá se foi a primeira sola do tênis... sim ela saiu por completo do pé... descolou.... assim... no meio de um mangue no meio de uma Chauás. Bom, no desespero de sair logo dali para não estragar o que estava previsível que iria acontecer todos atolamos de vez... e lá se foi o segundo solado... sim, senhores.... os dois pés do tênis da Vanessa ficaram sem sola... Terminamos o mangue com ela descalça... engatinhando, atolando... Ao começarmos a entrar na mata de novo ela fez uma 'ganbiarra' com a meia, calçando-a por cima do tênis para tentar segurar a sola junto ao pé. A situação ficou complicada. Escorregava com qualquer coisa, perigo sério de torcer o pé... o sol ainda dava o ar da graça... e encontramos o rio Itu, o rio em que o PC estaria... e ouvimos ao longe "PC!!!!" sim encontramos o famigerado PC6... Dito e Marquinho, mateiros da região e sua fogueira com churrasco. Sobrevivemos ao primeiro trecho de trekking casca da prova. Mas estávamos com um problema. Vanessa não tinha tenis, ou melhor, sola do tenis. Sabíamos que a partir dali seriam uns 8km de vara-mato total. Vanessa fez outra 'gambiarra' para conseguir andar. Depois desse trekking seria remo e bike apenas. Então o problema estava em atravessar a mata... continuamos a prova... trilha definida por 100m... começou o vara mato... e não conseguimos andar 300m e os problemas com ela começaram a acontecer... espinhos, escorregões, falta total de aderência... pensamos.. refletimos... e chegamos a conclusão que não dava para continuar dessa maneira... e aproveitamos que estávamos perto do PC para retornar e abandonar a prova. Estávamos bem fisicamente e, pela minha contagem, em 5 na classificação da categoria, e empolgados pela excelente navegação anterior para atravessarmos a mata... mas sem tenis, não tem como... comunicamos pelo rádio nossa desistência... e pedimos resgate... e a chuva veio... e frio o também... mas a fogueira armada pela dupla de mateiros nos salvou... e aqueceu nossos corações partidos... Ao chegarmos no PC6 encontramos o Marcelo que estava fazendo a prova solo. Ele tinha perdido o mapa e resolveu, desanimado, abandonar a prova. Poucos minutos depois começou a passar frio e verificou que seu cobertor de emergência estava transparente de tão gasto. Não tinha levado 'anorak' ou qualquer tipo de corta vento. Tinha pouca comida. Demos nossa assistência para evitar que tivesse uma hipotermia. E foi a lição da noite: andar 'pesado' não faz mal a ninguém. Sempre tenha em mãos os equipamentos necessários e obrigatórios. Nunca se sabe quando irá precisar deles. Voltamos de resgate pelo rio 3h depois e aquela sensação chata de dever não cumprido... tudo por causa do tênis... e no barco percebi que tinha perdido meu óculos de bike...e contando com a luva de Vanessa que também sumiu... entrou para a lista de EQUIPAMENTOS para 2009.... já estava mais do que na hora de renovar algumas coisinhas... e descobrimos da pior maneira. Parabéns a todos que completaram a prova, ao Lucas e Fran pela prova linda, como sempre, e ao Dito e Marquinho do PC6 pelo acolhimento local. Obrigado também aos companheiros Curupiras Guiba e Vanessa, pela cia sempre agradável e companheirismo inigualável. Abraços a todos e até Fevereiro em Cananéia. E em Junho na travessia da Mata Atlântica ;-) Gustavo Curupira Pirô - Revista Azimute
Gustavo Scalzilli
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16 Dez 2008 - 22h47 | relatos |
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