Correr em dupla masculina ou solo? Combinamos de fazermos a inscrição na Solo e só decidirmos na hora. Pouco treino da nossa parte e uma prova que prometia ter bastante orientação. Optamos por fazer uma dupla de dois solos, ou seja, correr todo o trajeto juntos. E assim fomos para Peruíbe, para mais uma temida Chauás.
Dadas as costumeiras buzinadas do Lucas na largada, rapidamente assumimos a nossa posição no fim do pelotão. Decidimos fazer um caminho alternativo em sentido contrário para o PC 1b, na esperança de ganhar algumas posições. Não adiantou. Enquanto nos subíamos a estrada, todo o pelotão passou por nós correndo ladeira abaixo e acabamos chegando entre os últimos no PC-2.
Pegamos as bikes e pedalamos em bom ritmo chegamos ao PC-3. Passamos por um barzinho de beira de estrada, compramos um refrigerante e começamos o trecking de fácil orientação pelas praias. Ao chegar ao PC-5 (Barra do Guaraú) percebemos que tínhamos pouca água e comida. Pegamos um duck emprestado e cruzamos o rio para comprar água e uns amendoins no “bar da frente”. Tomamos uns refrigerantes gelados e voltamos à prova.
Começamos a trilha para o PC-6. Logo no começo algumas bifurcações nos deixaram em dúvida, mas encontramos a trilha com o azimute correto. Tínhamos caminhado um bom trecho quando percebemos que a trilha não estava mais no azimute. Já estávamos na dúvida quando a Selva (que fazia percurso um pouco diferente) passa por nós em um ritmo forte. Minutos depois eles voltam na contramão correndo. A conclusão: perdemos algumas das “trocentas” bifurcações que não estavam no mapa. Ficamos tentados em seguí-los, mas deixamos pra lá. Não ia dar mesmo. Encontramos onde erramos e continuamos na trilha certa. Cinco minutos a Selva passa por nós novamente, correndo quando a trilha parece que bifurca. Eles para um lado, nós para outro e... fomos parar no mangue. Acabamos tomando uma trilha “fantasma” (não plotada) que descia para o rio. Decidimos seguir pela margem do mangue. Encontramos alguns atletas em sentido contrário e é um dos problemas dos retardatários, sempre se encontra atletas assegurando que foram “lá no final” e não encontraram o PC (óbvio, senão não teriam voltado). Voltar ou não voltar? De onde estávamos podíamos ver o rio fazendo a curva e o PC estava depois da curva. Decidimos continuar. Saímos da margem do rio rasgando o mato no azimute e encontramos a trilha. Em poucos minutos já estávamos no PC-6.
Animados partimos para o PC-7 já anoitecendo. Estávamos na trilha até que ela sumiu. Em vez de procurar a trilha ao redor ou seguindo um rio que a trilha margeava, decidimos seguir pelo azimute para encontrar a trilha rasgando o mato. Foi o erro. Acabamos subindo muito o morro à esquerda do rio e rasgamos o mato paralelo e por cima da trilha o que acabou nos desorientando. Lá pela meia-noite e meia, tínhamos uma baita “piramba” íngreme para descer pela frente sem trilha. Cansados e por temor de um acidente, resolvemos parar, abrimos os cobertores de emergência e descansamos no meio do mato, de noite e perdidos. Só faltava chover... e começou a chover. Improvisamos uma proteção com umas das capas de chuva e esperamos pelo amanhecer.
Ao amanhecer conseguimos nos localizar. Podíamos ver os morros e um rio fazendo a curva lá longe. Marcamos o azimute e começamos a descer a pirambeira com cuidado. Segura em árvores, galhos, “esqui-bunda” e quando o terreno ficou mais plano encontramos o rio Tocaia e pouco depois a trilha. Ironia das corridas de aventura, pois paramos para dormir a menos de uma hora do PC.
No PC-7, não faltaram as piadinhas do pessoal: “por culpa de vocês nós tivemos que dormir aqui”, “como demoraram” e etc. Mas nós já estamos acostumados. O Fran quando nos viu, logo avisou: “O PC-8 está fechado”. Mas como fechado, se é virtual? Tomamos um corte especialmente criado para nós: os últimos da turma do fundão. Do PC-7 fomos direto para o PC-9 de duck. Pegamos as bikes e fomos para a chegada com direito a carro de escolta dirigido pelo médico da Chauás. Um dos privilégios da turma do fundão. Sabem como é, a essa altura da prova, a organização não vai querer que “os caras” se percam de novo, mesmo que o estradão para a chegada seja quase uma reta só.
Na chegada os aplausos dos atletas que esperavam a premiação e a tradicional tirada de sarro do Lucas. Não é para menos. Na Ilha Comprida chegamos por último nas duplas, agora em Peruíbe os últimos na categoria solo. Só este ano fechamos duas provas! Mas aí é que está o nosso Espírito de Aventura, pois por mais difícil que seja a situação e o perrengue, nós sempre tiramos umas piadas da mochila, tomamos um gole de água e continuamos no nosso ritmo. Expedição Chauás não é fácil não, pode parecer quando plotamos o mapa e traçamos os caminhos, mas quando chegamos às trilhas é que o “bicho pega” e temos de encarar os azimutes e rasgar mato. Por isso terminar a Chauás por último ainda é gratificante, pois sabemos que muitos nem chegaram ao PC-6 e nós tiramos foto no pórtico de chegada.
Nossas congratulações para o nosso amigo Enrique Aoki da Calangos e Calangos 2 pela grande prova que realizaram.
Parabéns ao Lucas, ao Fran e a todo o staff da Chauás por mais uma grande prova.
Sergio Rodriguez / Franz K. Neubern
Espírito de Aventura (Dupla de Solos)
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