Uma das definições curiosas da corrida de aventura é “expedição com horário limite”, que particularmente eu adicionaria uma vírgula e um “sem limites”. Por mais que as provas sejam duras e que levem à fronteira do esforço físico e mental, os corredores de aventura sempre querem mais. E por quererem mais, algumas dessas figurinhas deram um salto ao participarem da BR 135 Ultramarathon - Corrida nas Montanhas, realizada no sul de Minas Gerais, entre os dias 23 e 25 de janeiro.
Na categoria solo estavam Marco Farinazzo (equipe Armada - RJ), Flavio Viana (Trotamundo - MG), Mauro Chasilew (On The Rocks – RJ), Fernando Jesus (PMB SOS Mata Atlântica - SP) e no revezamento a equipe Senta a Pua (SP), de Marcio Razera, Robinson Simões e Sandra Simões, que também foi a primeira mulher a cruzar a linha de chegada.
Para a surpresa de muitos experientes ultramaratonistas, Marco Farinazzo venceu a prova e ainda bateu o recorde de Walmir Nunes, considerado o melhor ultramaratonista do mundo. O recorde anterior, de 27h26, ficou dois anos sem ser superado, até que Farinazzo completou os 217 quilômetros em 26h43 (clique aqui para ler o relato de Aline Paganelli sobre a participação do Farinazzo). Na seqüência do ranking da aventura, em quarto lugar ficou Flavio Viana, com 32h56, e em nono Mauro Chasilew, com 38h30. Fernando Jesus torceu o pé e parou a prova no quilômetro 78, em Serra dos Limas. 42 dos 80 atletas que largaram na solo concluíram o trajeto dentro do tempo máximo de 60 horas.
No revezamento o percurso era o mesmo, porém as equipes tinham apenas 48 horas para fazê-lo. A Senta a Pua completou em 30h30, incluindo 1h30 de perdidas. Como o percurso da prova é sinalizado pelas setas amarelas do Caminho da Fé, na noite de sexta-feira, já cansados, os atletas passaram duas entradas e acabaram adicionando alguns quilômetros no currículo da BR 135.
A prova - A BR 135 Ultramarathon - Corrida nas Montanhas é uma das três provas da Copa do Mundo das competições de extrema dificuldade. As outras são: Badwater Ultramarathon - Corrida no Deserto, no Vale da Morte, na Califórnia (EUA), e Arrowhead Ultramarathon - Corrida no Gelo, no norte dos EUA.
No Brasil, a prova larga no município mineiro de Poços de Caldas e termina na pequena Paraisópolis. Considerado o trecho mais duro do Caminho da Fé, dos 217 km, apenas 20 km são planos, o que mostra o alto nível de dificuldade da prova.
Outro ponto interessante desta competição, organizada há cinco anos pelo ultramaratonista Mario Lacerda, é a sensação de amizade e companheirismo entre os atletas. Mesmo na solo, muitos deles topam o desafio sem equipe de apoio e acabam recebendo ajuda somente nos suports points – postos de controles, que também oferecem refeições e massagens – ou ainda de carros de apoio de desconhecidos. Apesar de parecer confortável e conveniente o auxílio da organização, na maioria das vezes, ela só acontece a cada 70 quilômetros ou mais.
Mas os atletas que acabam passando mal ou resolvem dar uma paradinha antes do ponto de apoio têm uma segunda alternativa, no mínimo interessante: Cada competidor, inclusive os das equipes, recebe antes da largada uma estaca – isso mesmo, uma estaca – com seu número de peito. Para quem não está acostumado, esse tipo de artifício pode parecer até engraçado, mas entre os ultramaratonistas é comum e inclusive foi utilizado na etapa 2009 por um norte-americano. O atleta que competia na solo passou mal, fincou a estaca onde estava, pegou carona até a cidade mais próxima, foi medicado, dormiu, mais uma carona para voltar, colocou a estaca na mochila e concluiu a prova.
Para a alegria dos participantes, o clima de união, solidariedade e os festejos da BR 135 não terminam na linha de chegada. Muito diferente da maioria das corridas de aventura, cada equipe e cada atleta da ultramaratona é recebido com muitos sorrisos, aplausos, fotos, abraços de desconhecidos e faixa de chegada.
Disparidade também na premiação. Coisa rara nas corridas de aventura, o organizador Mario Lacerda convida um a um, equipes e atletas, para ele mesmo entregar a medalha e camiseta de finisher. Camisetas e medalhas vestidas, independente da colocação, todos se juntam para a foto que ilustra, sem exceção, o sorriso de orelha a orelha da felicidade de missão cumprida.
Quem pensa que parou por aí se engana. Do jeito mais transparente possível, Mario Lacerda comunicou durante a semana a hospitalização do atleta inglês Gary Johnson, por alto índice de desidratação e risco de parada dos rins. No segundo boletim, Lacerda comentava a transferência de hospital para São José dos Campos e o estado estável do competidor, que ficou em 15º lugar, com 40h56. Johnson está se recuperando e enquanto isso a turma da ultramaratona faz uma corrente de bons fluídos para esse quase desconhecido íntimo.
Classificação geral: www.brazil135.com.br
Relato da equipe Senta a Pua: www.equipeguaranis.com.br
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