Corrida VIP- Cento e vinte e poucos km, em dois dias, com dormida, jantar de massas, café da manhã antes da segunda largada. Equipe- Eu (Luciana), Aluino, Emanuel e Saroca. Alinhamos nossos objetivos e organizamos tudinho. Para dizer a verdade, eu não fiz nadinha! Os meninos resolveram tudo e só arrumei minha bagagem no último minuto. Xuxu foi extremamente gentil conosco, fez a arrumação das bikes, deixando poucos detalhes para resolvermos.
A viagem até Aracaju foi ótima! O briefing foi num Hotel chequérrimo, na beira da praia. Deixamos as bikes e as caixas, ouvimos as explicações sobre a prova, fomos jantar, estudar o mapa e dormir. Como o mapa era uma imagem do google, fui dormir um pouco depois para tentar enxergar o maior número de trilhas possível naquele emaranhado verde.
1º dia- Largada de bike pela areia da praia. Pedalamos forte por uns 4km até o PC1. Manu foi correndo por uns 800m e voltou num pique só. Continuamos de bike por mais uns 10km até o PC2. Saroca fez o trecho de natação na praia (PC 3) em 13 minutos, enquanto comíamos e continuamos pedalando. Por todo o trecho de bike os dois meninos se revezavam, ajudando para que Saroca pudesse pedalar mais rápido. Lindo de ver! Eles se transformavam num bloco, andando no mesmo ritmo, na maior sincronia. Grande trabalho em equipe!
O PC 4 era na pista, Tinha polícia Rodoviária para todo lado, ajudando a gente a progredir sem ser atropelado. Chegamos ao 5, um bolo danado! Ninguém achava nada, duna pra todo lado! Eu e Manu saímos para procurar, mas haviam levado o prisma e o PC foi cancelado. Continuamos no meio do bolo pedalando modestamente até o PC6. Não perdemos o ritmo, lembrava da alimentação, da hidratação. Mandava os meninos adiantarem um pouco, quando precisava. O sol estava de lascar o cano! Os carros passavam e deixavam um rastro de poeira que respirávamos com toda ofegância. E foi no caminho para o PC 7 que tinha um chuveirão ligado, dando a maior sopa. Não entendi nada daquela situação e Saroca não entendeu nada quando eu disse: “vamos voltar pra tomar banho?”. Ela falou: “SÉRIO?!?”. Saroca pensou que eu estava louca. Mas, o banho só nos faria melhorar ainda mais. Que delícia! Os meninos também não entenderam nada quando aparecemos ensopadas do pé à cabeça.
Dali até o PC 9 foi só pedal! Muita areia, muita poeira, muito sol pela cara! A paisagem era reconfortante! Aluino fez o trecho de natação até o PC10 enquanto tomávamos outro maravilhoso banho na lagoa e bebíamos nosso delicioso “gagau” de Mucilon que Manu levou. “Levar mingau de Mucilon pra prova chega a ser bichisse, né!?” Será que ele conseguiu ler essa parte?
Quando saímos de lá, quase todos já tinham ido. Optamos pelo caminho que dava pra ver no mapa. Fomos até perto do Vilarejo da Dark Zone e subimos pela estradinha à direita. Titubeei um pouco, mas a confiança que os meninos depositavam em mim me fez continuar. Pouco antes de chegar ao 11, encontramos com o diretor da prova, que comentou: “Cês tão bem heim! Segundo lugar! Só a Extreme chegou aí.” Vocês não tem noção da nossa cara de felicidade! Foi ali que a brincadeira começou. Mas eu não podia deixar os meninos afobados, fazer muita pressão.
“Gente, vamos continuar fazendo tudo rápido! Não sei se vamos conseguir segurar essa posição, mas tentaremos. Não se preocupem que não ficarei chateada se não der certo. Vamos nessa!” Largamos a bike, compramos refri, pois tinha gente da organização vendendo refri e sanduíche no meio do mato. Já viram isso?! Subimos mata adentro num trekking fortíssimo. Deixamos Aluino fazendo o rapel. Voltamos com recomendações do PC quanto à descida do barranco. Quando o balizamento acabou, nos deparamos com uma barranco que era um precipício. Eu pensei rapidamente que se uma pessoa quisesse se suicidar poderia pular dali e nem cogitei a possibilidade de enfrentar aquele desafio. “Vamos descer beirando esse buraco até chegar na trilha. Deus me livre de descer por aqui!” Acabamos entrando pela mata novamente e encontramos a trilha logo depois de alguns obstáculos. Lá embaixo, Saroca fez a falsa baiana que ela tanto queria, enquanto eu via o povo das outras equipes se estabocando barranco abaixo. “Que coragem admirável!”
Chegamos ao Vilarejo, colocamos os tênis e partimos para o trekking até o mesmo lago do PC 9. Ali já era o PC 16, onde nadaríamos uns 500m até o outro lado para o PC 17. A entrada do lago era coberta de vegetação que atrapalhava muito o trânsito. Encontrei uma corda que amarrava uns barcos que ajudou muito. A Extreme estava no meio do lago e a Makaíra estava logo atrás. Curti cada momento do demorado trecho e, já no finalzinho, chega Naru arrastando Raissa e me atropelando mesmo. Quando cheguei na mangueira onde estava o PC, Aluino estava lá em cima pegando manga para o lanche.
Dali em diante, não tiramos os olhos da Extreme, e nem eles de nós. Disse a Saroca que o aquele trecho da prova era todinho dela e que trekking só seria forte se eu corresse um pouquinho pra acompanhar. A menina baixou a cabeça, botou sebo nas canelas e meteu bronca. Revezamos corrida com trekking, encontramos os últimos PCs sem dificuldades, nos distanciamos da Makaíra e chegamos a dois minutos e meio da Extreme. Fim do dia!
Que sensação boa! Ficamos super-felizes por manter a posição e só pensávamos que no outro dia poderíamos fazer igual. Ouvi vários bons comentários sobre o nosso desempenho e desejei muito que o segundo dia fosse igualmente bom. O jantar estava uma delícia! Rimos muito, embalamos conversas interessantes, papos-cabeça, papos malucos, piadas engraçadas, compramos uma única escova de dentes com dois dos 6 reais que ainda restavam em nossos bolsos, compartilhamos a escovação, dormimos no chão com as cabeças nos coletes salva-vidas, coisa de bicho mesmo.
Largada depois do café da manhã- o segundo dia começava com um trekking de 14km até a beira do rio. Partimos num trotezinho básico para manter a respiração, entramos num areial federal e partimos pra cima. “Saroca, quem dita as regras é você!” E lá se foi nossa menina botando pra quebrar! Aquele lugar aparecia no mapa como uma mancha verde sem definição alguma e apenas o azimute informava nossa direção. Encontramos o poço de petróleo onde estava o PC 21 e seguimos para o sul até acharmos a trilha que nos levava até o rio. Chegamos logo depois da Extreme e da Makaíra. Outras equipes começaram a se aglomerar também porque os barcos não haviam chegado.
Dentro da prova rolou competição entre os barqueiros e nós estaríamos junto com eles ajudando e atrapalhando também, já que o leme seria nosso, orientado por eles.
A Makaíra foi a primeira a sair, seguida da Extreme, mais nós e umas duas equipes. Nosso barqueiro Saulo estava bem animado, dizendo que a gente não se preocupasse em armar a vela naquele momento porque não tinha vento ainda. Só que o dono do barco, Sr. Pedro Bruto (olhem que nome delicado!), extremamente competitivo e que estava nos vendo do seu outro barco à motor, não se conformou, pulou na água e tomou as rédeas da situação, botando Saulo para fora. O homem chegou louco, dizendo que não gostava de segundo lugar. Só servia primeiro. A vela era enorme e a cada vez que ela se abria, parecíamos voar. Foi uma briga boa, curtimos muito! As outras equipes não tiveram chance. Remamos em vários momentos com os abençoados remos que Arnaldo insistiu em nos emprestar no dia anterior, garantindo que precisaríamos. Valeu Arnaldo querido!
O barco estava furado, a água não parava de entrar e tive que revezar com Saroca a retirada da água e no remo para não afundarmos. Aluino e Manu se revezaram no remo e no leme, que aprenderam com grande rapidez, ganhando mil elogios do pescador. Antes de chegarmos ao Porto, Aluino confessou que perdeu o capacete! Era só o que faltava! Chegamos até ali e tínhamos que terminar a prova. Descemos do barco e ele perdeu as luvas. Meu Deus que loucura!
Saí pedindo loucamente que alguém conseguisse um capacete para nós. Parei um motoqueiro que vinha na estrada sem entender nada e pedi “peloamordeDeus” que ele emprestasse um capacete, que ele fose buscar no hotel, que pagaríamos sua corrida, blá, blá, blá, e tome-lhe perder tempo. Lá estava Aluino parecendo uma formiga atômica ou uma azeitona no palito, com a cabeça tendendo para o chão, a cara abafada toda vermelha, pedalando pelo vilarejo. Rimos! A Makaíra nos alcançou na chegada do último PC. Entramos na praia na segunda posição para uma 4km pela areia. Continuamos o trabalho em equipe, dando os empurrõezinhos em Saroca e pedalando tudo o que podíamos. Chegamos a 6min da Makaíra com a mais perfeita sensação de dever cumprido.
No fim da contagem de tempo aconteceu um empate técnico entre nós e a Makaira, cujo critério de desempate foi os 14segundos de diferença de tempo, o que nos colocou em terceiro lugar. O podium da corrida de Sergipe foi ocupado pelas equipes baianas: Extreme, Makaira e Aventureiros do Agreste.
Tive o grande prazer de correr com pessoas queridíssimas. Corremos a prova toda falando sobre o quanto nos amávamos, o quanto era bom estarmos ali.
Agradeço muito a minha equipe maravilhosa por confiar em mim. Acreditem que procuro fazer sempre o melhor pra o grupo. Penso “Aventureiros” quando estou correndo, não penso Luciana.
Saroca é uma menina de ouro! Corajosa, disposta, organizada, forte! Manu evolui meteoricamente a cada corrida. Ajuda em tudo! Se preocupa com todos! Aluino tem uma pilhazinha duracel, já mostrou a que veio desde a sua primeira prova, tem uma coragem de fazer medo! Desce ladeira desgovernado, dá cavalo de pau com a bike. Um adolescente esse rapaz!
Orgulhosíssima de vocês! Estamos evoluindo!
Em nome da nossa Equipe, agradeço pelo carinho de todos!
Muitos beijos!
Luciana do Agreste