A 27ª edição do Coast to Coast, realizado no dia 14 de fevereiro de 2009, teve como grandes vencedores Emily Miazga e Gordon Walker, respectivamente tri (2006, 2008 e 2009) e bicampeões (2007 e 2009) do Campeonato Mundial de Multisport.
As condições climáticas tem um papel decisivo no ritmo da corrida e ambos os vencedores afirmaram após a linha de chegada que este ano as condições estavam mais duras do que quando venceram anteriormente. Foi um belo dia de sol mas com muito vento contra, tanto na canoagem de 67 km pelo rio Waimakiriri quanto nos últimos 70 km de speed bike (vácuo proibido) para a linha de chegada.
O dia começa às 4h da matina com bastante frio quando os atletas começam a acordar e se dirigirem ao local de largada em Kumara Beach no mar da Tasmânia. É preciso deixar as bikes na primeira área de transição e seguir a pé por 3 km até a praia. As equipes de apoio não podem assistir a largada pois tem que se dirigir imediatamente para o AT 2, final da bike (pelotão permitido) e início da corrida de 33 km na montanha.
Precisamente às 6h da manhã de sábado foi dada a largada. Ainda no breu da noite, os 188 atletas da prova principal - ou seja, o Campeonato Mundial (disputado em um único dia) – largam para os 243 km pela frente. Pode-se competir também como indivíduo ou time de revezamento (duplas) na prova de dois dias, que larga um dia antes e tem o mesmo percurso.
Essa prova de dois dias é extremamente popular e conta com cerca de 600 inscritos que pedalam e correm na montanha no primeiro dia e remam no rio e pedalam no segundo. Há um festivo acampamento na noite entre os dias de competição.
Na categoria revezamento, os grandes campeões foram pai e filho, the Jonsies. O conhecido corredor de aventura Neil Jones (Ecomotion 05, 06 e 07 com a equipe Merrel), vencedor do mundial em 1996, remou o suficiente para garantir a vitória da dupla, já que seu filho Daniel de 18 anos havia aberto uma diferença de 21 minutos na corrida de montanha, tornando-se o corredor mais veloz de 2009 com um tempo de 2h52 para os 33km. Só um detalhe, em 8 dias o garoto fez o percurso 5 vezes !! Bom treininho na semana anterior à prova, hein?!?
Voltando ao Campeonato Mundial, após a largada os atletas correm 3 km até as bikes e pedalam em pelotões os 55 km iniciais. Houve uma fuga de um ciclista olímpico neozelandês que conseguiu abrir 7 minutos do pelotão principal onde estavam os candidatos ao titulo. Outros pelotões vinham logo atrás com poucos minutos de diferença entre eles. Guilherme Pahl, da Oskalunga Sundown, vinha no pelotão principal que concluiu o trecho em 1h54.
A primeira área de transição apoiada é uma verdadeira bagunça. Os apoios e curiosos ficam espalhados logo após o pórtico e muitos atletas demoram alguns minutos para encontrar sua equipe de apoio. Eles deixam a bike, tiram roupas extra e pegam a mochila com as roupas e equipamentos obrigatórios para a montanha. Três quilômetros depois há a primeira travessia de rio, coisa que será freqüente daqui para frente.
A ilha do sul da Nova Zelândia é cortada de norte a sul por uma grande cadeia montanhosa, conhecida como a Main Divide. Ou seja, dessas montanhas correm rios para as direções oeste (largada) e leste (chegada). O percurso da corrida segue dois cursos d’água, subindo o vale do Deception River até Goat Pass (com 1.074m de altitude) e descendo pelo vale do Minga River até a área de transição.
A corrida é extremamente técnica e nem sempre há trilhas marcadas. É muito importante para o sucesso neste trecho ter feito o percurso anteriormente e se acostumar com o processo de tomada de decisão sobre o melhor caminho e sobre atalhos. O pé está sempre molhado, há muitas raízes na trilhas e infinitas pedras para serem negociadas. Muitos chegam com sangue escorrendo das canelas devido a má aterrissagem nas pedras.
Em Goat Pass acaba a subida. O local é lindo e muito freqüentado por montanhistas. Há inclusive uma cabana de suporte para os caminhantes que no dia da prova vira ponto de controle. Foi lá que fiquei conversando por muito tempo - esperando os competidores - com um simpático John, que depois de algum tempo descobri tratar-se de John Howard, a lenda ! Hoje ele é o chefe da segurança da seção de montanha, tendo vencido a segunda edição da prova em 1984, quando o evento ainda era disputado obrigatoriamente em dois dias.
O primeiro atleta a passar foi Carl Bevins, 28. Ele completaria a seção de corrida em primeiro lugar mas apenas 20 segundos à frente do favoritíssimo Gordon Walker, 36, (Ecomotion 08 com a Nike) que vinha em segundo e parecia muito confortável com o ritmo imposto pelo rival. A seguir passaram Luke Vaughan, 25, Trevor Voice, 28 (que terminaria a competição em segundo geral), Steven McKinstry, 27, Luke Chapman, 24 (3º geral), Marcel Hagener, 41 (Ecomotion 08 com Wilsa), Mike Kelly, 31, Gordon Blythen, 44 (2º colocado em Abu Dhabi 2008 com Team NZ), Rhys Bowen, 26.
Na 11ª posição passou Guilherme Pahl, 27, três posições à frente do campeão mundial de corrida de aventura Wayne Oxeham, 37 (Ecomotion 07 e 08 com Orion Health) e apenas 9 minutos atrás do líder. Havíamos planejado bem a estratégia de prova e Guilherme parecia não estar excessivamente desgastado ao final da subida. Essa posição portanto era muito boa pois a prova é decidida mesmo na canoagem.
No feminino a disputa estava eletrizante, exatamente como o previsto quando Robin Judkins anunciou que 2009 era o ano da mulher. Tanto pelo número recorde de inscritas (25% do total) quanto pela competitividade entre as atletas. Fleur Pawsey, 29, vencedora em 2007, liderava mas tinha a campeã de 2008, Emily Miazga, 34, a poucos metros atrás de si. A menos de 2 minutos delas vinham Jill Westenra, 44 (Ecomotion 06 com Go Lite / Timberland), Elina Ussher, 32 (vencedora do EMA 2001 com a Nokia).
Há um pequeno trecho de 15 km de bike que liga o final da corrida com o início do kaiak. No pedal Gordon Walker assumiu a liderança e não seria mais visto por nenhum outro competidor até a linha de chegada, onde finalizou a prova com 31 minutos de vantagem sobre o segundo colocado.
Ele é um ex-ciclista profissional mas muitos se esquecem que também é especialista em canoagem pois desde criança disputava campeonatos de descida em águas brancas. Sendo assim, no rio sua vantagem apenas aumentou. Walker fez a melhor parcial do dia com 4h55 (incluído aqui o trecho de 15km de bike), 15 minutos mais rápido que a segunda melhor marca.
Enquanto a maioria dos competidores fez essa perna de rio entre 5h10 e 5h30, Guilherme Pahl viu suas chances de brigar pelo top 10 da classificação desaparecerem ao finalizar em 6h11. Ele entrou no rio em uma excelente 14ª posição e 33 minutos atrás do líder.
Após a remada de 67 km escolhendo a melhor rota entre os braços do rio e tentando escapar das corredeiras classe II e das pedras rasas, ficou claro que esta é uma prova onde a canoagem desempenha papel fundamental para o sucesso. Não apenas força mas, principalmente, técnica, são fundamentais para brigar por boas posições.
Guilherme estava usando um bom caiaque de performance e havia treinado no rio com ele por duas vezes. Se não é muito, pelo menos permitiu um acerto confortável do equipamento e confiança para escolher os caminhos com correnteza mais forte. Como o rio estava com nível muito baixo, essas escolhas seriam decisivas.
Ele não teve muitos problemas de ter que carregar o barco nas raseiras do rio ou com as corredeiras. Contudo, não conseguiu seguir com aqueles que passavam por ele mesmo ficando na esteira desses competidores. “ Os caras pareciam estar passeando no rio e mesmo remando com tudo eu não conseguia acompanhá-los, parecia que as 8 sessões de remadas de 50 km em rio em Brasília não tinham adiantado nada “, comentou o atleta.
Na entrada do rio a disputa no feminino pegava fogo. Emily Miazga liderava com pequena margem sobre Fleur Pawsey. No ano passado Emily ultrapassou Fleur nos quilômetros finais da última bike e venceu por apenas 40 segundos. Isso gerou uma certa rivalidade e neste momento a disputa entre elas estava totalmente aberta. Logo atrás entraram na água Elina Ussher, Fleur Lattimore e a muito experiente Jill Westenra, que já defendeu a seleção neozelandesa em triatlo, duatlo e corrida de montanha, fez uma excelente canoagem. Westenra foi a melhor canoísta do dia cravando 5h40, três minutos a menos que Emily e cinco a menos que Elina.
Gordon Walker aumentou sua liderança em mais 16 minutos no trecho final de 70 km de bike, sua especialidade. Finalizou a prova em 11h49 (o único indivíduo a completar o C2C 2009 abaixo de 12 horas) e obtendo as melhores parciais em 3 dos quatro estágios: melhor corrida de montanha (3h04), melhor canoagem (4h55) e melhor ciclismo sem vácuo (1h54). Tais números confirmam o porque do favoritismo que lhe foi dado antes da prova.
Com Richard Ussher fora do evento (o atleta está focado no Ironman New Zealand, que acontece dia 7 de março, e pretende chegar a Kona em outubro) não havia mesmo alguém capaz de derrotar Walker, que perderia o titulo para ninguém a não ser ele mesmo. Trevor Voice (2º) e Luke Chapman (3º) não estavam cotados entres as apostas para finalizar entre os Top 10 mas surpreenderam até mesmo a si próprios com seus resultados. Porém, muito distantes para ameaçarem Walker, que disse após cruzar a linha de chegada, “Tudo foi muito bem hoje. Eu tinha um plano que funcionou quase perfeitamente. Mas foi muito duro. Creio que as condições (vento contra e rio raso) foram provavelmente as mais difíceis que encontrei nos 7 anos que competi no Coast to Coast.”
Guilherme completou seu segundo C2C na 30ª posição geral com o tempo de 13h48, cinco posições atrás da campeã Emily Miazga (13h39) e apenas 12 segundos à frente de Westenra, a segunda colocada que fez os 70 km de contra relógio mais veloz do que nosso compatriota. O brasileiro estava muito desmotivado na bike por causa do insucesso na canoagem.
Apesar de distante das primeiras 10 posições, o resultado de Guilherme é realmente muito bom. Sendo estrangeiro, seu resultado é respeitável. O fato de estar longe do percurso onde todos os locais treinam constantemente e a falta de tradição do nosso país na canoagem em eventos multiesportivos, como a corrida de aventura, prejudicam bastante o desempenho no Coast to Coast. Além disso, a maioria dos campeões neozelandeses leva várias edições até atingirem o podium, tal as especificidades da prova.
O que é muito positivo é o fato de agora o caminho para o Coast to Coast estar mais aberto para os brasileiros. Organização, atletas e jornalistas estão cientes da cena de Adventure Race que temos no Brasil e sabem que temos eventos de multisport acontecendo no país, como é o caso de Floripa e Brasília.
Completar um Coast to Coast é um selo internacional de proficiência em atividades multiesportivas. Isso ajuda o corredor de aventura a conseguir encaixar-se em outras equipes tornando-o um parceiro internacional. E permite ao indivíduo colocar uma meta para si sem precisar contar com a disponibilidade de outros parceiros de time, facilitando a logística, a captação de patrocínio e o alcance de metas pessoais.
Se você pensa em estar lá ano que vem, comece a se preparar desde já ! O caminho é melhorar a canoagem e participar das provas “Multisport Brasil” dia 14/03 em Florianópolis e “Brasília Multisport” dia 11/07 em Brasília. Vamos levar uma esquadra brazuca para o Campeonato Mundial !
Em 2010 estaremos novamente na Nova Zelândia. Guilherme buscando o Top 10 e estreiando na prova eu e Márcio Franco, que foi nosso apoio e morando em Queenstown/NZ tem chances de se preparar bem. Queremos ajudar outros brasileiros a irem também, portanto se precisarem de informação, dicas de treino, equipamento, viagem, etc... podem entrar em contato conosco que teremos maior prazer em repassar a expertise que adquirimos. It is all about “Perfect Timing“ !!
Alexandre Carrijo
Organizador do Brasília Multisport
Mais informações:
www.coasttocoast.co.nz
www.brasiliamultisport.com.br
www.sportzhub.com/site/index.php?option=com_content&task=section&id=5&Itemid=29
www.nzherald.co.nz/multisports/news/article.cfm?c_id=67&objectid=10556811
www.endurancesport.co.nz
www.multisportbrasil.com.br
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