Se em algum momento da minha vida eu senti na pele o que é ter uma hipertermia, foi nesta etapa da Chauás, realizada na cidade de Eldorado, Vale do Ribeira. O que foi aquele calor? Literalmente, a cada quilômetro de trekking vencido, recebia como recompensa um monte de estrelas na vista. Sem contar o clarão, daquele que você sente momentos antes de uma queda abrupta na pressão sanguínea. Chegar no fim deste Chauás foi uma negociação constante com a temperatura e hidratação corporal, cuidados na reposição dos sais e, não menos importante, trabalho em equipe.
Esta prova foi justamente um exemplo do porque as corridas de aventura evoluíram como um esporte de equipe. Conferindo os resultados finais, percebe-se que grandes atletas de corridas de aventura que competiam na categoria solo sofreram para completar a prova. Parece que lhes faltou algo. E te digo o quê: faltou o parceiro de equipe para dar a força quando se mais precisa. O parceiro que carrega a sua mochila; que coloca rehidrate na sua água sem você saber o que está acontecendo; que te faz engolir um gel apesar da boca seca e falta de apetite; que alivia sua temperatura jogando a preciosa água da caramanhola dele em sua nuca. É o parceiro que te guia quando você está sem direção e a vista tão clara que você mal enxerga. É com este parceiro (ou parceiros) que a equipe chega ao fim.
Antes mesmo da largada, o que se via na praça central de Eldorado era muita gente sem camisa e com garrafas de água, gatorade, sucos e afins em mãos. Normalmente quem participa de um Chauás já tem certa experiência em corridas de aventura e sabe se cuidar quando o assunto é hipertermia, hipotermia e etc. Apesar disso, o queridos organizadores da Chauás foram taxativos durante o briefing: “Moçada, água não será o suficiente hoje! Lembrem-se dos sais! Cuidem-se!”
E lá fomos nós, com o radiador fervendo desde a largada. Corrida em bando por um bananal até a primeira curta etapa de canoagem pelo Ribeira do Iguape. Correnteza forte, nem deu tempo de remar direito e já estávamos carregando canoas morro acima para sair correndo atrás das bikes deixadas no centro da cidade. Primeiro pedal tranqüilo por estradas de terra e um pouco de pasto, de volta a cidade e as canoas, para uma etapa de remo um pouco mais longa.
Terminado a segunda etapa de canoagem, veio o “crux” da prova. Um trekking curto e grosso por um bananal com muito charco. Neste momento, as famosas e temidas trilhas pontilhadas de vermelho dos mapas Chauás fizeram jus a sua fama: navegação complicada. Muita atenção necessária bem na hora do sol a pino. Caldeirão do Diabo, “dono do lugar” como o Togumi já escreveu. E navegar não foi fácil. Que bafo naquele bananal. Todos da equipe viam estrelas. E justamente aí, no momento crítico, que o trabalho em equipe fez a diferença. Perdidos e sofrendo muito com o calor, dividimos a equipe em “bons” e “feridos”. Quem estava bem, navegava e procurava a trilha, quem estava “mais ou menos” ajudava quem estava mal. E assim, ajudando uns aos outros, saímos daquela enrascada. Firmes de novo.
Foi lindo. O trabalho em equipe. Foi lindo!
Calor. Bafo. Fervor. Os poucos riachos que cruzávamos eram uma salvação momentânea. Frescor que durava 2 minutos, pois o corpo encharcado precisava somente deste tempo para ficar completamente seco. Sem exageros. Além do calor, a bondade das pessoas da roça também estava presente por ali. Em uma casa, a família nos alimentou com toda sua água gelada. Imagino que eles iriam demorar algumas horas (talvez dias com aquele calor) para poder ter água gelada novamente. Mas sem problemas, eles tinham o sorriso no rosto de poder ajudar os malucos que enfrentavam a caldeira do lado de fora.
Depois da água gelada e de um salvador arroz doce liofilizado, subimos o morro do Cruzeiro. Navegação simples, subida não tão simples. Novamente, equipe desgastada e sofrendo, mas nada que estes companheiros, unidos, não pudesse resolver. Tendo o trabalho em equipe como prioridade, resolvemos fácil o problema na subida e descemos voando, com medo do corte que o alienígena do Xiquito poderia impôr, sem intenção, sobre a nossa equipe. Mas deu tudo certo. Chegamos com uma hora de sobra no corte. Era pegar as bikes e pedalar uns 20 kilometros até a chegada.
Já de noite, o calor caiu de 50°C para 49°C. Muito melhor. Pedal tranqüilo até uma subidinha dolorida. Duzentos e poucos metros de ascensão empurrando a bike e dali, um descidão de 9 quilômetros até a chegada.
Equipe XINGU unida no querido pórtico Chauás. Quartetos, Duplas, Duplas Light. Todos cruzando o pórtico juntos. Que momento. Família feliz. Espírito de Equipe. Amigos para sempre.
Perfeito!
Marcelo Catalan
Equipe XINGU LIOFOODS
www.liofoods.com.br
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