Victor Teixeira relata a participação da Terra Mundi QuasarLontra Master no PER 2010

Por Victor Lopes Teixeira Filho - 17 Fev 2010 - 18h58

A 8ª edição da Patagonia Expedition Race testou os limites humanos da forma mais extrema possivel. O percurso desenhado pela organização em nenhum momento momento trouxe conforto fisico ou mental aos atletas. Em contrapartida a beleza selvagem e exuberante mostrou a força bruta da natureza selvagem em sua essência primitiva.


Percurso explorou o extremo sul do continente
© divulgação / Terra Mundi QuasarLontra


Carrina Faggiani
© Espinoza / Patagonia Expedition Race

A Terra Mundi QuasarLontra Master esteve composta nesta expedição pelos atletas Victor Teixeira, Guilherme Pahl, Telmo Carvalho e Carina Faggiani.

A largada estava prevista para a modalidade caiaque, em percurso de 8 km que atravessaria o estreito de Magalhães, mas foi suspensa uma vez que os ventos de 50 nós levantavam ondas de 4 metros. Com isso, após atravessarmos de balsa, iniciamos um trekkig de 24 km em uma praia coberta de pedras grandes, entrecortada por ventos fortissimos, que faziam nossas mochilas com carga de 10 kg cada parecerem bem mais pesadas.

Concluimos esta etapa na 3ª colocação e partimos para uma bike de 110 km até a Estância Blanca Adriana. No percurso, quase que totalmente plano e pedalável, não conseguimos passar de 10 km por hora: os ventos fortissimos nos jogavam constantemente das bikes. Neste trecho tivemos o primeiro desafio: o joelho do Guilherme começou a dar sinal de vida, ou melhor, de morte. Finalmente terminamos o trecho na 6ª colocação e encontramos nossa 1ª bolsa de comida.

Seguimos para um trekkig de 55 km, sem trilha, no meio de turvas, nas quais afundavamos até o joelho: média de 1 km/h de progressão. Passamos pelo Cano Grande, Nomadas del Pleistoceno e Blouqe Erratico. Andamos ao lado da equipe sueca e filandesa, trocando de posição constantemente.

Guilherme mostrou sua perícia na navegação: não erramos nada. Chegamos no AT para seguirmos para uma bike de 178 km. Até então tinhamos percorrido 189 km.

Saimos para Karukinka embaixo de chuva e vento, com temperatura de 0 graus. Antes, comemos comida liofilizada quente e distribuimos nossos alimentos retirados da Bolsa-Comida 1, para nossas mochilas. As retas longas de até 20 km cada, não amenizaram nosso sacrificio: o vento havia aumentado e não conseguiamos passar de 7 km/h. Resultado: o joelho da Carina estourou. Abrimos nosso kit de 1° socorros e concluímos a etapa na base do anti-inflamatório.
Chegamos no Lodge Lago Deseado e encontramos nossa Bolsa-Comida 2.

O trecho seguinte reservava 114 Km de trekking e seria uma seção decisiva para as equipes na prova: vales interminaveis com desnivel acentuado, neve em abundância, mata cerrada e cannyoning em rios com cachoeiras. Neste local os staffs dos 4 Postos de controles haviam sido deixados de helicóptero: nenhum ser humano havia passado por lá.

Depois de 16 km chegamos no Valle Profundo, PC 9 para fazermos um rapel em cachoeira de 60 m, após o qual seguimos em canyoning com progressao de 0,5 km por hora e extremamente perigoso. Nossa prova estava por terminar: o joelho da Carina fazia com que seu sofrimento fosse extremo, além de tornar mais perigosa nossa evolução.

Saimos finalmente deste trecho e chegamos em uma cadeia de montanhas que tivemos que superar em vales expostos e recobertos por lajotas de pedras que a todo o momento rolavam ribanceira abaixo, para um penhasco de 700 metros. O risco de queda era eminente, testando nossas mentes e equilibrio ao máximo. Até então tínhamos andado 383 km em 4 dias. Nosso bivaque foi providencial: montamos nossa barraca em um dos poucos locais planos. Entramos no saco de dormir e saco bivaque, e mesmos dentro da barraca nao parávamos de tremer de frio: fazia menos 10° C lá fora. Vimos a equipe japonesa nos passar e enfrentar naquela noite um penhasco horripilante e perigoso: o limite no seu extremo.

Acordamos depois de 7 horas de sono e saimos para atingir o Rio Azopardo, que atravessariamos de tirolesa. Não conseguiamos progredir: o joelho da Carina não respondia mais aos anti-inflamatórios e estávamos andando a 1 km por hora.

Finalmente chegamos na tirolesa e atravessamos o rio. Completamos então o quilômetro 397 da prova.

Conversamos com a organização: o trecho complementar do trekking seria extenuante, sem possibilidade de eventual resgate em seus 87 kms por turbas e neve.
Nos reunimos e concluimos que não poderiamos arriscar continuar na prova com a lesão da Carina. Além disso, Guilherme também apresentava contusão em seus joelhos: a prova tinha nos massacrado. Se continuassemos, haveria clara possibilidade de morte.

Paramos a corrida, mas vivemos momentos intensos, que nos colocaram no máximo de nossas resistencias fisica e mental.

Fomos conduzidos no dia seguinte, juntos com duas equipes americanas e chilenas que lá chegaram horas depois de nós, de barco para uma base de carabineiros, a polícia do exército chileno. Dois dias depois ficamos sabendo que os japoneses fizeram o trecho que paramos em 70 horas: nossa decisão foi correta.

Como conclusão é a certeza de que a Patagonia Expedition Race é a competição de aventura mais dura, exigente e dificil: não há nada igual.

Apesar de termos feito 70% do percurso (não fizemos a totalidade do trekking e 46 km de caiaque), estamos satisfeitos com o nosso desempenho porque aqui na Patagônia a sobrevivência é o desafio maior.

Victor Afonso Lopes Teixeira Filho
Capitão da Terra Mundi QuasarLontra Master

Victor Lopes Teixeira Filho
Por Victor Lopes Teixeira Filho
17 Fev 2010 - 18h58 | geral |
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