1 – Esta bicicleta é do meu tamanho?
Bicicletas são como roupas e sapatos; elas tem tamanho. É de
extrema importância usar uma bicicleta apropriada ao comprimento de suas
pernas, tronco e braços, bem como adequada ao seu estilo de pedalar.
Para ilustrar, imagine-se subindo uma trilha íngreme à pé ou
correndo no parque calçando sapatos sociais dois números maiores
que seu pés. Ruim, não?
Para se ter uma noção da adequação de uma quadro ao seu tamanho, fique de pé com os dois pés no chão com a bicicleta entre suas pernas e o selim próximo às suas costas e meça a distância do seu cavalo (seu entrepernas) ao tubo superior da bicicleta. Para mountain bikes essa distância deve ser em torno de 9 cm e, para bicicletas de estrada, cerca de 6 cm. Isso é apenas uma avaliação inicial e deve ser vista com ressalvas, mas uma medida muito diferente da explicada indica um tamanho inapropriado. Esse método é valido para desenhos de quadro com o tubo superior na posição tradicional. Se esse não for o caso, estime onde estaria este tubo caso o desenho da bicicleta fosse o tradicional e calcule a distância.
Além do tamanho do quadro da bicicleta, o mais importante e popular, há diferentes medidas em alguns dos componentes. Guidão, suporte de guidão e pedivela vêm em tamanhos diversos e devem ser escolhidos com critério, bem como o posicionamento do selim. Procure um profissional qualificado para avaliar sua bicicleta e para posicioná-lo corretamente nela. Você vai pedalar certamente melhor e preservar sua saúde.
2 – Minha bicicleta é novinha e a corrente quebrou. Por quê?
A causa mais comum de uma corrente quebrada é a troca de marcha inadequada. É muito
freqüente encontrar pessoas trocando de marchas enquanto aplicam uma força
enorme no pedal e isso é errado. O exemplo que melhor ilustra essa situação é um
ciclista inexperiente em uma descida seguida de uma subida repentina. Ele vem
descendo em uma marcha pesada e de repente se vê em uma subida dura tendo
que trocar várias marchas e pedalar forte ao mesmo tempo para vencer
a inclinação. Ele certamente ouvirá um série de
estalos altos vindos da corrente e, muito provavelmente, terá sua corrente
quebrada.
Correntes são elementos projetados para trabalhar sob forte tensão na sua direção longitudinal. As tensões laterais que elas suportam, entretanto, são pequenas. Isso significa dizer que, enquanto você estiver numa mesma marcha, não há força que você possa fazer para arrebentá-la. Porém, durante a troca de marcha, uma pressão um pouco mais descuidada nos pedais pode abri-la com incrível facilidade.
Preste muita atenção nas trocas de marcha, principalmente nas subidas. Procure fazer uma pequena força extra para impulsionar a bike ANTES da mudança de marcha, e NÃO DURANTE a troca. Vai ser uma grande economia de tempo e de dores de cabeça.
3 – Que ferramentas e sobressalentes devo levar comigo em uma
pedalada?
Procure ser subsistente. Mesmo pedalando em grupo, existe a chance de você se
separar e ter que se virar sozinho.
Leve bomba, câmara de ar (lembre-se que a válvula tem que ser
compatível com o aro de sua roda), kit de remendo e espátulas
para consertar furos no pneu, canivete multifunção (com chaves
Allen, phillips, boca e fenda), chave de corrente e gancheira reserva, se sua
bike usa gancheira removível. Nos percursos mais longos e com chance
de pegar chuva ou lama, leve também óleo lubrificante, uma pequena
escova e um trapo. E não esqueça o mais importante: o conhecimento
para poder usar o que você carregou. Esse você adquire em cursos
de mecânica de emergência e com a experiência. Não
deixe isso em casa!
4 – Com que freqüência devo revisar minha bike?
O que determina a freqüência de manutenção na bicicleta é a
condição a que ela é submetida. A piores condições
são a chuva intensa e a lama ou a areia. Ao pedalar nestas condições é aconselhável
fazer uma visita à oficina na primeira oportunidade. Este também é o
caso se você notou algum comportamento estranho ou ruído inesperado
ao pedalar. Por outro lado, se sua bike é bem mantida e você só pedala
em tempo seco, veja o seu mecânico a cada 200 km de terra ou 400 km de
asfalto. E se você domina a manutenção básica (limpeza
e lubrificação da transmissão, limpeza das sapatas de
freio, esticamento de cabos de freio e reapertos) você provavelmente
só precisará de serviços especializados a cada 400 km
sem pavimento ou 800 km com ele.
É importante manter os pneus sempre calibrados uma vez que eles perdem pressão naturalmente pelos microscópicos poros da borracha. Verifique isso toda vez que for sair de casa.
As suspensões e freios a disco são peças que merecem uma atenção especial. Leia seus manuais de uso para saber suas necessidades específicas de manutenção e procure segui-las. Na hora de comprar um equipamento destes, certifique-se de que há uma empresa séria que represente a marca no Brasil e que ofereça garantia e assistência técnica.
5 – Qual a melhor bicicleta de mountain bike que existe?
É
aquela mais adequada ao uso que você vai fazer dela (x-country, aventura,
freeride, downhill, competição, passeio), ao seu tamanho e ao
seu bolso.
Existem dezenas de marcas idôneas e de qualidade no mercado mundial e todas disponibilizam vários modelos para os diferentes usos e bolsos. No Brasil estão disponíveis no momento (jan/2003) as nacionais Caloi, Volare e Alfameq, e as importadas Scott, Trek, Santa Cruz, Rocky Mountain (exclusivamente na Pedal Power), Giant, KHS, Cannondale, Bianchi e Fisher, entre outras.
Por outro lado existem vários produtos que impressionam visualmente e que são inúteis ou sem qualidade. Um exemplo são bikes muito baratas equipadas com freios a disco e amortecedores dianteiro e traseiro. Chamam a atenção dos desavisados mas acabam surpreendendo mais por sua falta de qualidade. Simplesmente não funcionam e não duram.
6 – Que pressão devo usar nos pneus?
A pressão nos pneus é determinada em função
do pneu escolhido, do peso do ciclista, do seu estilo de pilotagem, da existência
de amortecedores na bike e do tipo de terreno enfrentado. Por isso a ordem
aqui é experimentar. Com exceção dos pisos de areia solta
(tipo praia) não use menos do que 35 psi. Não passe também
do limite máximo impresso no pneu, normalmente 70 ou 80 psi. Entre estes
valores, experimente. Normalmente se usa pressão igual nos dois pneus
ou até 3 psi menos no traseiro para garantir uma boa tração
nas subidas. Tenha uma bomba e um calibrador e faça experiências
para escolher o que é melhor para você, atentando para as seguintes
linhas de pensamento:
Menos pressão:
Mais pressão:
7 – Onde encontro bons lugares para pedalar?
É
muito comum pessoas comprarem excelentes bicicletas e não saberem aonde
ir para usá-las. Procure pessoas que pedalam juntas. Na Pedal Power,
nas academias e assessorias esportivas sempre se formam grupos que organizam
passeios, viagens e treinos. Não tenha receio de estar fora de forma
porque sempre há alguém na mesma condição que você.
Certifique-se entretanto de que há pessoas no seu nível de preparo
que saibam bem o caminho e se junte a elas. É uma experiência
muito frustrante ser deixado para trás num lugar desconhecido, assim
como sair para pedalar e ter que esperar demais por pessoas muito mais lentas
que você.
Há empresas e clubes, como o Sampa Bikers (www.sampabikers.com.br), que oferecem pacotes de viagens nacionais e internacionais, com passeios de um ou mais dias.
Nas lojas especializadas há guias impressos com os percursos da região (como o Guia de Trilhas do Guilherme Cavallari, com 25 opções próximas a São Paulo), revistas (como a Bike Action) e você sempre consegue dicas dos funcionários, sócios e de outros clientes. Procure se informar também se há pessoas que oferecem serviços de guia. Às vezes, pagar para pedalar soa estranho, mas este tipo de suporte vale a pena para quem quer conhecer um lugar novo com tranqüilidade!
Não deixa também de conferir o calendário das competições. Há provas para todos os níveis e competir com um bom espírito esportivo é uma experiência estimulante e agradável. A Internet e as lojas do ramo são as melhores maneiras de pesquisar estas datas.
8 – Vale a pena usar pedais de encaixe tipo SPD e sapatilhas?
Com toda a certeza em 90% das situações. São raros os
casos nos quais não se vale a pena escolher essa opção.
As sapatilhas tem solas rígidas que transferem com maior eficiência
a força do seus pés para os pedais, não tem cadarços
que se soltam e que podem se enroscar em partes da bike e normalmente são
feitas de forma a secar com facilidade. Em conjunto com os pedais de encaixe,
possibilitam pedalar inclusive puxando os mesmos para cima, técnica útil
em algumas situações encontradas no mountain bike, e mantém
seus pés firmes no lugar para enfrentar obstáculos com mais segurança.
O maior receio das pessoas é de que os pés fiquem presos à bicicleta e o tombo seja inevitável. Soltar as sapatilhas dos pedais é extremamente fácil e, com um pouco de prática, quase infalível. Ao estrear um conjunto desses, reserve 15 minutos em um terreno plano e sem perigos para você encaixar e desencaixar seus pés quantas vezes puder para se acostumar.
A opção por sapatilhas e pedais de encaixe só não é a melhor em trechos nos quais pedalar é impraticável e empurrar a bicicleta é a saída, principalmente se isso durar muito. Há situações como essa em certas corridas de aventura. Dependendo do percurso e das condições de tempo, deixe a sua sapatilha em casa e use o seu tênis.
9 – O câmbio desregula com facilidade?
A bicicleta moderna é uma máquina maravilhosa pois é extremamente
simples e eficiente. Devido à sua simplicidade mecânica, qualquer
pequeno desajuste pode ser sentido por quem a pilota.
Um câmbio de boa qualidade não perde sua regulagem com facilidade, desde que seja bem cuidado. Os fatores mais comuns de desajuste são: desalinhamento da gancheira, laceamento de cabos e perda de lubrificação.
A gancheira é a parte do quadro onde o câmbio traseiro é fixado. Alinhá-la é uma tarefa para profissionais e seu alinhamento é fundamental para o bom funcionamento das marchas. É uma peça relativamente frágil e pode entortar com facilidade se não estiver protegida. A situação mais crítica é o transporte da bicicleta dentro de um veículo, principalmente quando a sua roda traseira é removida. Qualquer força lateral aplicada ao câmbio traseiro pode comprometer o seu alinhamento e arruinar seu funcionamento. Um tombo ou o impacto de um galho ou pedra também são perigos comuns. Evite bater ou apoiar qualquer coisa no câmbio traseiro de sua bike.
O acionamento dos câmbios de uma bicicleta é feito através de cabos de aço. Quando um cabo novo é instalado em sua bike, ele está sujeito a um esticamento ou laceamento natural que ocorre nas primeiras trocas de marcha. Usualmente, duas ou três trilhas são suficientes para que esse processo se encerre mas, enquanto isso acontece, seu câmbio pode desregular. Peça para o seu mecânico estressar os cabos novos de sua bike para minimizar a chance deles lacearem.
A lubrificação correta de uma bicicleta garante um funcionamento macio e silencioso. Lubrificação em excesso ou desnecessária atrai sujeira e é um fator de desgaste prematuro. Água e lama são os piores inimigos dos lubrificantes usados em sua bike e devem ser evitados ao máximo. Se não há saída para evitar esses males e isso é muito comum em pedaladas longas e corridas de aventura. Tenha um pequeno tubo de óleo especial para bicicletas à mão para relubrificar a corrente e talvez os cabos conforme necessário. Não deixe de consultar seu mecânico sobre a maneira correta de aplicá-lo.
10 – O que é chain suck?
Chain suck é uma expressão em inglês. Chain significa corrente
e suck pode ser traduzido por sugada. O resultado, corrente sugada, descreve
um sintoma que muitas bicicletas apresentam, normalmente de forma esporádica,
no qual a corrente é sugada pelas coroas se encavalando no meio delas
e, muitas vezes, entre elas e o quadro. A conseqüência disso pode
ser custosa e extremamente desagradável, destruindo câmbios, corrente,
coroas, até mesmo o quadro da bicicleta, e deixando o ciclista à pé.
A melhor maneira de evitar os dissabores de um chain suck é pedalar de uma maneira suave e com atenção – e isso não impede ninguém de andar rápido, forte e competitivamente. Troque de marchas com suavidade e, ao menor sinal resistência à continuidade da pedalada, pare de pedalar, analise as causas e tente soluções. A condição de chuva, transposição de cursos d’água e lama ou areia é a mais favorável a ocorrências de chain suck. Nestes casos perde-se a lubrificação da corrente pela ação da água e a lama funciona como uma cola, contribuindo para que a corrente grude nas coroas.
Ao perceber um chain suck nessas condições, esteja preparado para limpar, secar e relubrificar a corrente de sua bicicleta. Se isso não resolver tente isolar o problema descobrindo em qual combinação de marchas ele está ocorrendo e evitando a mesma. Muitas vezes tem que se deixar de usar uma coroa. Isso pode ser chato, mas é bem mais inteligente que incorrer em prejuízos desnecessários e empurrar a bicicleta com as suas peças destruídas até o fim do percurso.
O chain suck é um sintoma e descobrir a sua causa pode ser um processo longo e incerto que só vale a pena se ele acontece com freqüência. Procure uma oficina especializada e honesta para ajudá-lo e prepare-se para ter paciência. Deve-se estudar principalmente a compatibilidade da corrente com as coroas e às vezes a substituição destas peças se faz necessária.
Marcelo Maciel é mountain biker, corredor de aventura e sócio da Pedal Power (www.pedalpower.com.br). Já participou de várias corridas de aventura nacionais e internacionais como a EMA, Southern Traverse e o Elf Authentic Adventure.
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