Entre os dias 09 e 11 de maio aconteceu a primeira etapa da temporada 2003 do Raid Series, circuito classificatório de corridas de aventura para o Raid Gauloises 2004, que será realizado no Peru. A equipe Oskalunga Brasil Telecom foi a única representante brasileira e contou com a participação de Nora Audrá, da equipe Atenah, já que o navegador da equipe, Guilherme Pahl, estava se recuperando de um tendinite.
Foram 211km, em sete modalidades - trekking, mountain bike, canoagem, montanhismo, caiaque oceânico, patins in-line e atividades com corda e passou por pontos turísticos da região como o Ben Nevis, pico mais alto da Grã-Bretanha e o lago Ness, famoso pela lenda do monstro que mora em suas águas. A equipe teve alguns problemas durante o percurso e terminou na 44a colocação. Monclair Cammarota, capitão da equipe, conta um pouco sobre a participação no evento:
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Explica um pouco o funcionamento da corrida. Isso é melhor
ou pior do que estamos acostumados por aqui?
Este modelo de corrida é diferente de tudo que a gente tinha
feito antes. O tempo de transição não conta para o tempo
total da prova. Existe um intervalo de tempo que as equipes podem largar, se
a equipe extrapola o tempo da largada ela perde a seção mas não
está desclassificada da prova. O tempo da seção perdida é o
tempo que a última equipe gastou acrescido de uma hora. Outra diferença é que
as equipes correm com três atletas e o quarto integrante fica junto com
o apoio, caso haja um. O revezamento é livre, mas cada atleta pode ficar
de fora apenas um número limitado de seções. Para a gente
foi impressionante como os europeus estão especializados neste tipo
de corrida. A diferença entre o primeiro e o segundo foi de 5 segundos.
Melhor ou pior é relativo, não me preocupo com isso. Sei que
para este modelo de corrida é preciso estar bem fisicamente e ser muito
organizado. Vamos trabalhar em cima disto para a próxima. Também
tem o lance de poder usar o GPS. Na próxima vamos usá-lo muito
mais.
Vocês correram na África do Sul, na Argentina/Chile, no Uruguai
e agora na Escócia. Vocês perceberam alguma diferença de
nível entre os latino-americanos e os europeus e sul-africanos?
Esta
foi uma corrida muito forte do ponto de vista físico. Nós
estamos hoje com um ótimo preparo, mas disputávamos com campeões
mundais de Mountain bike e ciclismo, montanhistas muito experiêntes e atletas
profissionais de diversas modalidades que estão migrando para a aventura.
Sem dúvida na Europa o esporte está muito mais desenvolvido do
que na África e aqui. Na África tivemos a oportunidade de correr
contra os sul-africanos que ficaram em quarto no Eco-Challenge. As outras
equipes sul-africanas não tinham o mesmo nível.
Agora os sul americanos tem suas estrelas. Equipes como OSKALUNGA BRASIL TELECOM,
Quasar Lontra, Atenah, algumas argentinas e chilenas têm mostrado que
não devem nada aos gringos, principalmente nas corridas de expedição.
Vocês já participaram de outras corridas internacionais com
frio e neve. Nessa corrida o frio já era esperado. Como vocês
lidam com isso?
Eles (atletas europeus) são muito fortes e correram
em um clima conhecido para eles. O local da prova também era conhecido
dos expedicionários,
aventureiros e esportistas europeus. O "Ben Nevis" –
montanha mais alta do Reino Unido é um grande
pólo
de esporte de inverno e atrai um número enorme de pessoas todos
os anos. Mais uma vez fomos para o frio. Poucas vezes durante a corrida a temperatura
passou dos 5º C e claro que passamos muito frio, que conjugado com a chuva
e ventos constantes dão uma condição bem adversa para
quem treina no paralelo 16. Chegamos a pegar neve nas montanhas. Lidamos muito
melhor do que nas outras corridas com o monstro do frio. E também depende
de bons equipamentos. Graças a BRASIL TELECOM aos poucos estamos nos
equipando melhor. Passamos alguns apertos com mãos e pés, mas
a experiência também faz muita diferença. Como a Nora me
disse em tom imperativo durante uma seção de MTB em que eu não
sentia minhas mãos ao ponto de não conseguir passar as marchas
da bike: "Controla teu frio que essa porra épsicológica!!!" E
ela está absolutamente certa. O aprendizado é um processo. Sabemos que
-10º é frio mas não é um bicho de sete cabeças.
Hoje somos a equipe brasileira com uma das melhores (e piores ) experiências
com frio.
Fala um pouco sobre a queda do Frederico no Lago Ness
Apesar
de gozarmos de boa condição física os (treinos) específicos
são determinantes para o sucesso do time. O Lico (Frederico Gall) é um
remador muito forte, mas não sabia desvirar um caiaque capotado.
Neste momento havia muitas ondas (algumas maiores que a gente) e virar era
uma realidade,
principalmente quando elas batiam de travez. Assim como não sabíamos
descapotar, o sistema de leme e a bomba de tirar água do barco eram
sistemas diferentes do que conhecíamos. Conclusão: perdemos muito
tempo sem necessidade. Mas é isso aí. Experiência tem seu
preço e acreditamos que estamos no caminho certo. Não é possível
conhecer as características peculiares de cada prova sem corrê-las. Teoria
não é nada sem a prática.
Como o Guilherme estava contundido, vocês correram com a Nora, da
equipe Atenah. Como surgiu essa participação? A experiência
internacional dela ajudou a equipe?
Todo mundo quer correr com sua
equipe completa, mas a Nora representou super bem o Guilherme. Ela é boa
navegadora e tem muita experiência.
Isso acrescido ao fato de ser, assim como a Karina e a Shubi, amigas que gostamos
muito. A experiência da Nora se mostrava mais presente principalmente
nas partes técnicas ou em situações adversas.
Quem foi o navegador da equipe, já que o navegador normalmente é o
Guilherme?
A Nora navegou nas seções mais longas e a Bárbara nas mais curtas – Entretanto
o GPS dá uma nova perspectiva de navegação. Não
aproveitamos tudo o que podíamos do GPS. Na próxima ele será MUITO
mais usado.
Em que ponto sentiram mais dificuldade durante o percurso?
Para
mim foi o MTB, não pela técnica mas passei muito frio.
Agora precisamos melhorar em técnicas de montanhismo e algumas de canoagem.
As equipes no Brasil não tem tradição de montanhismo.
Queremos mudar este quadro.
Vocês chegaram a perder alguma etapa?
Perdemos uma etapa de cordas por
opção. Muitas equipes nos passaram
no caiaque e teríamos que esperar umas 2 horas parados, molhados e com
frio, sem contar o tempo da seção para fazer esta etapa. Foi
uma ótima decisão. Depois perdemos outra etapa por demorar nas
transições.
O tempo não é computado para o cronometragem oficial mas se a
equipe sai próximo ao limite de saída provavelmente perde a largada para o
trecho seguinte. Perdemos uma largada para um trecho de canoagem pois chegamos
do trekking depois da última largada.
O resultado não foi o esperado, mas valeu ter participado da
corrida?
Muito. Nós acreditamos que classificaremos para o RAID GAULOISES.
Precisamos melhorar 22 posições. Mas como perdemos a última
largada para duas seções, perdemos muitas posições.
Nas próximas estaremos preparados para não cometer os mesmos erros.
Tínhamos estudado bastante para a prova. Organizamos nossa estratégia
e corremos de acordo com ela .Não foi um desempenho abaixo do esperado
apesar do resultado. A realidade de um circuito mundial é muito diferente
das provas brasileiras. A melhor parte é que identificamos os principais
pontos para nos especializarmos para a próxima.
Qual o objetivo agora? Participar de outras etapas?
A principio vamos correr 4 das 5 etapas do Raid Series. Algumas coisas
ainda podem mudar. Vamos correr o Ecomotion e provas locais e regionais aqui
no Brasil. Ainda estamos esperando a realizaçao da última etapa
do EMA SERIES. Ainda podemos terminar a temporada 2002 em primeiro do Brasil.
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