“Minha luta pela vida é longa, mas estou confiante da vitória. O apoio dos meus familiares e amigos tem sido importante para a minha recuperação e sei que tenho dado muito trabalho a todos.
A minha história é única: em outubro de 2002, durante uma competição nas Ilhas Fiji, fui infectado por um parasita endêmico da região (angiostrongylus cantonensis), provavelmente através da ingestão de verduras cruas ou peixes mal cozidos. O parasita alojou-se no tronco da medula. Durante dois meses e meio, fiquei inconsciente e permaneci na UTI (primeiro em um hospital na Austrália, depois transferido para o Brasil). Quando acordei constatei que conseguia apenas mexer meus olhos. Nada mais. O fato mais doloroso era que eu tinha consciência das minhas limitações, mas não conseguia manifestar nenhum tipo de reação. Apesar das dificuldades, meu maior tesouro estava preservado: minha consciência.
Hoje sou assistido em casa. Meu quadro atual é de meningite eosinófila: eu não ando, não enxergo as coisas com nitidez, não degluto normalmente e não falo sem o auxílio de uma válvula. Tenho que reaprender a viver. Minha visão foi extremamente prejudicada por uma úlcera de córnea, o que me incomoda muito e, por vezes, retarda o processo de recuperação. Cerca de 95% da sensibilidade humana é representada pela visão. Outro agravante no meu processo de melhora é que dependo de um aparelho para respirar, pois ainda retenho mais gás carbônico (CO2) que o normal. Isto me prende muito, mas sei que em breve deixarei de utilizar a máquina.
Sou uma pessoa bastante determinada, tenho certeza de que vou me recuperar totalmente e, para isso, levarei o tempo que for necessário. Tenho consciência de que sobrevivi apenas por ser uma pessoa de hábitos saudáveis: me alimento corretamente, não bebo, não fumo, não uso nenhum tipo de droga e pratico exercícios diários. Sei, também, que para melhorar, tenho que me esforçar muito, por isso me aplico com afinco aos exercícios de fonoaudiologia e fisioterapia, sem reclamar da dor ou cansaço que eles me causam. Minhas atividades começam às 6h30 e terminam somente às 20h. Por vezes, acordo durante a madrugada para me exercitar sozinho. Já consigo ficar de pé com o auxílio de enfermeiros, tenho sustentação dos músculos, faço exercícios de equilíbrio de tronco.
Acredito que a fase crítica já foi superada. Sei que, agora, minha luta depende muito mais de mim do que dos médicos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e enfermeiros que me assistem, mas reconheço que ainda necessito deles. Agradeço a todos que, de alguma maneira, têm me ajudado a passar por tudo isto, em especial aos meus pais Henrique e Vera, minha irmã Vera Helena, meus filhos Amanda e Rodrigo, minha esposa Elza, amigos e familiares. Estou determinado a voltar às minhas atividades brevemente”.
A iniciativa de escrever este comunicado foi do próprio Alexandre que, durante uma sessão de fonoterapia, com o auxílio de uma válvula, ditou as principais idéias para a Patrícia Croci, da Sociedade Brasileira de Corridas de Aventuras (SBCA)