A Corrida de Aventura hoje está nas mãos de quem? Eu diria que está nas mãos de ninguém. Apesar de diversos bons organizadores e centenas de atletas, se olharmos para cima, quem encontraremos? Ninguém. Não há hierarquia nesse esporte mais, o que é uma pena diante de um cenário tão rico no Brasil e no mundo.
Na verdade, um esporte ainda adolescente e já caiu nas graças da politicagem e do exercício do pequeno poder. Tudo bem, eu explico. Sobre a politicagem, prefiro deixar como está, porque não há como falar sobre isso sem levantar uma imensa polêmica, já estampada em Fóruns aqui na Adventure Mag, no Facebook, e por ai vai. Mas o pequeno poder pode ser bem explicado. Aliás, ele está totalmente atrelado ao fato do esporte não ter hoje um comando à pulso firme, e isso está totalmente atrelado a politicagem. Bom, concluímos antes mesmo de começarmos a falar que é tudo um grande círculo que jamais acaba.
Os atletas de corrida de aventura hoje pisam em ovos em todos os sentidos. Caso haja um problema em uma prova e ele vai resolver com o organizador, mas os dois não conseguem entrar em um acordo, quem resolve? Ninguém. Ninguém resolve porque ninguém comanda esse esporte no país de um modo geral, e particularmente falo do Estado de São Paulo.
Já houve dias em que os grandes atletas e entusiastas tentavam fazer das burocracias do esporte a grande alavanca para ele crescer, mas hoje, quem faz isso? Teoricamente, com as rédeas da corrida de aventura nas mãos, hoje em dia, não há alguém. Há, talvez, uma, duas ou três pessoas que nada significam para o esporte. Que nunca se envolveram com ele. Que certamente nunca correram uma prova, que jamais se sujaram com a terra da aventura, não sentiram o frio na barriga em um rapel durante o percurso, não sentiram as pernas queimando na bike, nem perderam todo seu fôlego correndo para passar embaixo do pórtico. Talvez essas pessoas nunca praticaram um esporte. E, quem sabe, essas uma, duas ou três pessoas não tenham formação para serem gestores esportivos, fato comum no esporte nacional de uma maneira geral. Mas sem conhecer o esporte por dentro e por fora, o que fazem elas lá? Nada. Ou melhor, fazem duas coisas: usam os atletas em prol de seus interesses pessoais (le-se dinheiro) e fazem politicagem, mas eu prometi não falar sobre isso.
Enfim, e sendo assim, os atletas contam com ninguém em caso de outras instâncias de decisões e regulamentações. Isso passa a ser um problema em algumas situações, mas por enquanto devemos agradecer os grandes organizadores que já foram corredores e que se posicionam sempre ao nosso lado.
Os atletas pisam em ovos em quase todas as provas, ao menos as de São Paulo, porque se deparam com situações que poderiam não fazer parte do percurso das provas. Por exemplo, quando saem de etapas duras, com alto grau de exigência física e mental e ficam contentes em constatar que falta apenas 15 quilômetros para a prova acabar, quando se deparam com gritos, falta de educação, falta de respeito. Quem nunca correu uma dessas provas deve se perguntar “do que ela está falando?”, mas quem corre sabe bem do que estou falando. Quando tudo o que você precisa é uma voz te incentivando, mas o que houve é um grito te insultando. “Quem diabos ele pensa que é?” é o que a maioria pensa, mas o que poucos falam. E aí entra o exercício do pequeno poder. Pessoas que se apequenam camufladas em roupas e máscaras que a aventura proporciona, onde elas alimentam uma imagem falsa e mentirosa. Usam a aventura apenas para exercerem seu pequeno poder, já que entre todos no esporte, a amizade e a confiança prevalecem. Se valem dos bons sentimentos dos outros para, talvez, quem sabe, subirem de cargo e chegarem em um posto onde a politicagem traz os benefícios. Ih, politicagem de novo. Ok, próximo parágrafo.
E quem olha por todos? Pelos atletas, pelos staffs, pelos organizadores, pelos patrocinadores? Quem? Ninguém. Ninguém, ou 'ninguéns' estão lá, fazendo nada, mas com seus postos oficiais garantidos à frente de órgãos que hoje significam absolutamente um vazio no espaço. E mexer nessa situação faz bagunça, apesar do nada prevalecer. Quem vai por sua mão no vespeiro? Apesar do kit de primeiros socorros ser obrigatório em todas as provas, e todos os atletas correm com seus antiinflamatórios, gaze, antialérgicos, pomadinhas e tudo mais, para mexer nessa bagunça precisa ter uma ambulância à disposição. E quem sabe até uma viatura da polícia!
Todos sabem que, por exemplo, a checagem de equipamentos obrigatória é algo polêmico, pois os atletas são obrigados a terem tudo o que é exigido no percurso, mas como, de uma maneira inteligente, educada e efetiva checar isso? Ainda não temos uma fórmula ideal e não tem quem pense por nós. Cada organizador estabelece suas regras, fiscaliza como quer e pune os 'contraventores' como acha melhor. Mas a verdade é que há uma checagem inicial obrigatória, e a responsabilidade de dispensar algum item antes da largada é de cada um, que deve preservar sua vida, sua saúde e integridade. E caso não queira se preservar, não deve ouvir estupidez, baixarias e outras coisas horríveis por isso.
Hoje, infelizmente, pisamos em ovos. Com 'ninguéns' no comando, qual a função, então, de pessoas como Zé Pupo, Togumi, Shubi, Alexandre Freitas, Rafael Campos, Vitão, Zolino, Julio – que são algumas das figuras mais representativas na história da corrida de aventura no país – nessa miscelânea que se tornou a gestão do esporte? Não sei responder, infelizmente.
E apesar dos pesares, temos muito o que comemorar. Nunca se viu tantos circuitos bem sucedidos no país. Os atletas hoje escolhem qual prova correr. Muitos deles têm diversas equipes, correm com diversos propósitos, lutam em diversos cenários diferentes. As provas atuais estão belíssimas. Hoje podemos correr provas em Visconde de Mauá, como o Adventure Camp proporcionou este ano, em Ribeirão Pires, uma cidade vizinha de São Paulo mas pouco explorada pelos atletas, como o Troféu São Paulo fez, em São Luis do Paraitinga, uma cidade devastada como nos filmes norte-americanos pavorosos sobre o fim do mundo, onde todos ajudaram um pouquinho na reconstrução, como o Haka Race fez, dentre diversas outras coisas a serem comemoradas e feitas por outros grandes organizadores.
Mas, ainda assim, pisamos em ovos quando falamos de algo mais, quando pensamos onde queremos chegar. Alguém vislumbra como será a corrida de aventura no Brasil em 2020? Para onde estamos indo? Para onde queremos ir? Para onde estão nos levando?
Gestão de 'ninguéns', palavras desaforadas no meio do percurso, fatos inexplicáveis que surgem ao vento e somem com 'cala bocas' distribuídos por ai, e dai, vamos para onde? Alguém fez esse azimute?
A euforia de cada vez mais termos atletas em atividade no país talvez tenha cegado a maioria sobre o futuro, que envolve simplesmente cada pessoinha que pretende continuar correndo aventura no país. É como a gestão do país nas mãos do presidente e sua trupe. Estamos nas mãos de quem no esporte?
A alegria, a euforia, a satisfação que eu tenho ao correr e completar uma prova é inversamente proporcional à tristeza e inconformismo que sinto ao olhar para trás dos panos.
Não quero ser voz dissonante, mas sim formar um coro uníssono. Mas nessa aventura, um quarteto só não faz verão. Precisamos de um exército determinado, vestidos como nos vestimos e paramentamos para as provas, com seu mapa plotado, adrenalina pulsando nas veias e amor ao esporte no coração. Há algum tempo eu escolhi por quais trilhas vou fazer meu caminho e qual vai ser a imagem de vitória desta prova, que não vai ter pódio, pois nenhum espaço comporta os milhares de atletas que vencerão essa disputa. Aqui, a única checagem obrigatória é com relação aos seus valores morais. Para quem quiser correr essa prova de aventura no estilo mais expedicionário e auto suficiente possível, as inscrições estão abertas.
Lilian El Maerrawi
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