Como alguns devem saber, as trilhas do mtb me levaram ao mundo (mágico) das corridas de aventura, depois de quase dois anos aprendendo e errando bastante nas provas. Duas equipes se uniram para formar uma equipe mais competitiva. Minha equipe era a Expedições, formada pelo Marcelo Musial, Carla Fiore (ambos do Rio) e eu, de Campinas. A outra equipe veio da Cariocas da Lama, também do Rio, formada pelo Miro Mendonça (idealizador e organizador do CariocaAdventure), Luciene Teixeira e pelo Rodrigo Simões.
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A primeira prova da Craft/Camelbak foi o qualifying Ecomotion-Pro na Serra do Cipó, ao norte de MG, que ocorreu neste último feriado de 19 a 22 de junho. Estavam inscritas nada menos que as 42 melhores equipes do Brasil e a prova tinha previsão de 48 horas e seria com equipes de apoio. Nossa equipe estava formada pelo Marcelo Musial, Luciene Teixeira, Rodrigo Simões e eu. No apoio tinhamos Miro Mendonça, Isabela (namorada do Rodrigo) e Rodrigo da Camelbak, agora gerente da equipe.
A largada foi dada às 15:40h da quinta feira sob um belo visual na vila de Cardeal Mota. Corremos cerca de 1,5 km e nadamos uns 20 metros para pegarmos as bikes e seguirmos até o PC 7 pedalando cerca de 55 km. Até pegar as bike e na saída ainda estávamos naquele esquema de “boiada”, todo mundo embolado e misturado, “cadê fulano e cadê ciclano? Vamos embora!”.
A 200 metros do PC 3 a bike da Luciene quebra, torcendo a gancheira e o câmbio indo parar sobre a catraca entre os raios da roda. Pronto, dançou tudo!!! Perdemos 1:30h para tirar o câmbio, arrumar a corrente que estava lastimável e deixar a bike com uma marcha só. Mesmo assim a corrente não parava quieta numa mesma catraca. Depois de rodar mais um tanto a corrente da Lu quebra mais uma vez. Jjá era mais de 18:00h. Depois de (quase) arrumada a bike, a Lu segue na bike do Rodrigo e este vai na bike da Lu, mas sem pedalar. Na descida era só sentar em cima, no reto o Musial puxava e na subida o Rodrigo empurrava a bike (trotando!). Pensei que este moleque ia se arrebentar antes das primeiras 24 horas, mas que nada, ele deu conta do recado.
Chegamos ao PC 7 às 00:40h da sexta-feira em 37º lugar e entramos no rio (duck) às 01:00h. Frio? Eu sei que estava vestido com a calça de lycra e a camisa de ciclismo, uma “jardineira” de neoprene, uma blusa manga longa de neoprene, anorak com capuz, colete salva-vidas e o colete de prova. Se parasse de remar por dois minutos começava a tremer de frio. Dá pra imaginar, né? Depois de 17 km descendo o rio chegamos ao PC 8 em 29º às 05:30h da matina. Dali resolvemos mudar de estratégia e fazermos a segunda pernada do duck com ele nas costas, seguindo pela estrada. Cansativo. Conclusão: chegamos ao PC 9 às 08:00h em 20º. Encontramos com o apoio e saímos alguns minutos depois para um trekking que duraria quase todo o dia.
Subimos e descemos muito e várias vezes, os pés e as coxas diziam “olha, estamos aqui!!!” Caminhamos até meio dia, subindo por montanhas, falésias e paredões gigantes e lindos. As paisagens mais belas da prova e uma das mais bela do Brasil. Vocês lembram de Highlander, o primeiro, com Sean Connery e Christopher Lambert treinando luta de espada sobre aquelas imensas falésias sob a trilha sonora de Queen, “Who wants to live forever”? Era exatamente ali que estávamos, até a música dava para ouvir. São nesses momentos que agradeço a Deus pela nossa fortuna.
Ao meio dia da sexta-feira começamos o trecho de ride n` run, ou seja, onde um segue a cavalo e os outros três a pé. Agora o problema era o calor e a sede. Algo como “abaixe a cabeça, continue e não reclame”.
Às 17:00h chegamos no PC 14, entregamos o cavalo em algo entre 19º e 21º lugar, na ponta de uma represa. Dali dois seguiam em canoa canadense e os outros dois seguiam a pé até a outra ponta da represa. Nesta ponta essas duas duplas trocavam de lugar: quem foi a pé voltava remando e vice- versa. Fizemos a troca às 18:00h. A volta foi pior para as duas duplas. Mesmo de headlamp eu e Rodrigo, que voltamos na canoa, não víamos nada e quando menos esperávamos estávamos encalhados em bancos de areia. Era um labirinto de bancos de areia e mangues. Apanhamos um pouco mas escapamos logo. Eu e o Rodrigo trocamos uns berros perdidos no meio da represa, mas nada que não estivesse dentro do “planejado”.
Chegamos ao PC 17, no mesmo local do PC14, às 19:30h em 19º lugar. Comenos, nos arrumamos e deixamos nossos apoios Miro e Bela. Ele não deixava de nos dar os puxões de orelha e incentivos necessários. Seguimos para a segunda noite para subir mais uma montanha sentido PC 18. Tínhamos duas equipes na nossa cola e o Musial navegou magistralmente, perfeito e rápido.
No PC 18 chegamos em 13º às 23:00h, muito empolgados. Dali para o PC 19 cometemos alguns erros de navegação e descansamos um pouco no final da madrugada. A Luciene sofreu um pouco com o frio e também com as picadas de carrapato. Ela é alérgica e estava com a barriga cheia de picadas, mas nada que tirasse a sua beleza, animo e garra para continuar.
Depois de umas belas (e inúteis) voltas chegamos ao desejado PC 19 às 07:00h do sábado, não perca a conta! Soubemos que várias equipes dormiram ali. Porém estávamos em 20º lugar. Embora tivéssemos perdido algumas posições, não havia mais como desistir.
Subimos e descemos mais umas duas montanhas com lindos visuais entre os PC 20 e 21 e seguimos por um belo vale até o PC 22. Atravessamos um rio numa balsa puxada a corda e seguimos até o PC 23 para fazer o rappel e a tirolesa. Chegamos ao meio dia do sábado, em 20º, todos cansados mas numa boa. Tivemos uma zona neutra de tempo até às 13:30h. Encontramos nossos 3 apoios (Rodrigo, Miro e Bela) e soubemos o quanto eles também tinham sofrido e passado por alguns apertos. Apoio rala tanto quanto quem esta correndo. Valeu Bela, Rodrigo e Miro!
Brincamos nas técnicas verticais (esse é o “lazer” nestas provas) e seguimos de bike para a chegada da prova, no hotel do mesmo local da largada. O Rodrigo e o Miro tinham dado mais um trato na corrente da bike da Lu, mas ela já estava condenada e rompeu mais uma vez. Então o Rodriguinho, que estava com ela, colocou-a na mochila e eu vim tracionando-o. Mais umas subidinhas, uma bela serrinha para descer e com 19 km de pedal completamos o Ecomotion Pro às 16:00h do sábado. 48 horas depois da largada chegamos em 20º lugar. O Rodriguinho ainda me faz o favor de levar um capote em frente à chegada (a bike dele estava presa na minha) mas nada grave. Todos inteiros, felizes e alegres, só um gostinho amargo e motivador de que dava para ter feito melhor. Que venha a próxima!!
Em 2 anos de corridas de aventura é a primeira vez que acabo uma prova com a equipe completa. Daí o fato de completar a prova já ser tão gratificante. É uma sensação de bem estar, paz interna e satisfação que dura quase uma semana. Não sei explicar o porquê, mas que é muito bom, isso é!
Deixo um muito obrigado ao Rodrigo da
Camelbak
pela confiança em nós investida e pela ajuda durante a corrida.
Ao “paizão” e professor Miro, à Bela pela paciência
e carinho.
Obrigado ao Cris Cordeiro pela equipe que ele iniciou e agora caminha
com suas pernas e Célio Leite, padrinho desta equipe. Carlinha, não
pare de treinar, hein!
Agradeço também aos co-patrocinadores por acreditar e incentivar o
esporte: Canadian Bikes,
Fox e
Valvoline Lubrificantes
A próxima prova da Craft/Camelbak será a Expedição Chauas (www.chauas.com.br) dias 19 e 20 de julho e em agosto no CariocAdventure (www.cariocadventure.com.br).
Parabéns a quem teve resistência para ler até aqui.
Thierry Roldan
Equipe Craft/Camelbak
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