Como tudo começou...
Iniciei em corridas de aventura em 2002 em Brasília, e já em 2004 fiz minha primeira corrida longa com a equipe goiana Leões de Judá, dos amigos Adolfo e Wagner: Brasil Wild Serra da Canastra, 250km 3 dias e 3 noites. Lembro bem da primeira noite, dormíamos em cima da bicicleta, andando e até comendo. Foi uma experiência muito bacana de convivência em situações adversas. Desde então tentávamos correr juntos novamente, até que, coincidência ou não, voltamos a correr juntos em 2012 e na principal prova de corrida de aventura das Américas. Comemorei 10 anos de corrida de aventura.
Em abril de 2010 o Adolfo me convidou para participar de uma etapa da Brou, não pude. Em setembro de 2011, novamente o Adolfo me chama, agora para o Chauás 300, novamente não pude, mas acompanhei a Leões do início ao fim, até serem sagrados campeões. Vibrei muito naqueles dias, acompanhei tudo pela Internet, senti quando eles deram uma sumida, mas no dia seguinte a surpresa de vê-los campeões. Em novembro me ofereço para o Ecomotion e o Adolfo me liga dizendo que era para eu continuar treinando, pois só em fevereiro de 2012 ele teria uma resposta sobre a minha participação ou não. Passou dezembro, janeiro e só no final de fevereiro veio o convite, por telefone: "topa fazer o Ecomotion com a Leões?". Eu já estava meio desanimado, mas diante do convite me animei muito. Eu precisava confirmar com a esposa, pois tinha acabado de construir uma casa e estava meio sem grana. Mas não podia deixar essa oportunidade escapar e acabei aumentando o valor do empréstimo para a construção e deu tudo certo, fui para a Chapada dos Veadeiros.
Ecomotion Pró 2012...
Pra mim, a parte mais difícil foram os treinos. MUITO treino, afastamento dos amigos e família. Nos finais de semana os treinos tinham, por dia, em torno de 5 a 6h. Mas enfim, a recompensa, o Ecomotion na Chapada dos Veadeiros com os amigos. Na checagem de equipamentos começa o frio na barriga e o pensamento de fazer o melhor. Depois a preparação dos mapas, já com muita ansiedade. Para "ajudar", percebemos que tinha faltado uma parte do segundo jogo de mapas. Preparamos então o jogo de mapas do Adolfo e a metade do meu. Pegaríamos (Pezinho) a outra metade no dia seguinte com a organização.
Na madrugada fria de domingo (13), 4h da manhã, partimos para a largada, onde ocorreu um percurso de 4km de corrida de orientação com mapas na escala 1:10.000. Fui escalado para navegar nesse início, afinal pratico esse esporte desde 1986. Pensei comigo, quanta responsabilidade logo no início, preciso me concentrar para largarmos bem, todos estão confiando em mim.
Mas fomos bem, muita correria, conseguimos entrar na canoagem em 18º. A canoagem foi muito técnica e difícil, estávamos bem até a metade, quando eu e o Adolfo tomamos um "caldo" com direito a uma bela canelada nas pedras. Acho que batemos na mesma pedra. Nesse momento perdi o remo. Na verdade os Papaventuras pegaram e deixaram nas pedras e nós passamos e não vimos.
Fiquei muito sem graça, pois não estava ajudando nas remadas. Até que trocamos de par, a Juliana foi com o Adolfo e eu com o Wagner, e a partir daí melhorou, fomos revezando o remo dele. Nesse momento comecei a perceber o que era uma equipe. Em vez de nos lamentar, criamos uma maneira de aproveitar o máximo de cada um de nós. Eu remava no remanso e ele nas corredeiras, pois ele fazia o leme, além de remarmos com a mão também. Muito bacana. Teve equipe que reclamava da gente, "caramba vocês só têm um remo e a gente não consegue passar vocês! (risos)".
O trekking, também foi muito técnico e difícil, na maior parte do tempo navegamos no cerrado em trilhas feitas pela organização e atletas, que sumia toda hora. Muito azimute, navegação por instrumento literalmente. No primeiro trekking, tivemos que dormir para iniciar pela manhã. Não tinha como navegar, pois as referências eram as elevações. Dormimos bastante e começamos novamente no dia seguinte pela manhã. Os trechos de trekking foram espetaculares em termos de visual: serra, canions, rios, cerrado, caliandras, MUITO, mas muito bonito mesmo. Muitas pedras pelo caminho e consequentemente, como tinha de ser, muitas bolhas. Só o Adolfo pé duro que não teve. (risos)
Em seguida fizemos uma pernada de bike de mais de 140km, com 2h de sono no meio. Foi muito intensa no início. Sofri muito, apesar do Wagner me ajudar bastante empurrando ou puxando. Os trechos de bike foram os mais difíceis pra mim, pois a equipe estava muito bem na bike. E mais uma vez o espírito de equipe se fez mostrar, com os mais fortes ajudando os menos fortes. Todos se empenhando muito, foi muito emocionante, pois eu sempre pensava na minha família, particularmente na frase "desistir nunca" que disse uma vez ao meu filho e ele sempre me cobra isso. "Pai é pra terminar, desistir nunca". E incrível, realmente não passou pela minha cabeça nenhuma vez em desistir e sim, em suportar as dores e terminar o Ecomotion, sempre pensando neles e em me superar.
Tivemos mais uma pernada de bike longa, em torno de 150km. Mas nessa eu me superei, depois de ter recebido do Adolfo uma super dose de multi-vitamínicos com taurina e energético, (risos). Acho que nunca pedalei assim antes.
Enfim chegamos no segundo corte. Dormimos bastante novamente, pois havíamos decidido pegar o corte, pois a Juliana (leoa) estava com o dedo quebrado e não queríamos correr o risco de não concluir a prova. O último trecho de bike, em torno de 30 km, foi muito emocionante. Saímos 30min atrás de uma equipe adversária e conseguimos tirar essa diferença em uns 20km de pedal. Foi alucinante, sexto dia de prova e tendo que tirar 30min em 20km.
Juliana Fernandes, Adolfo Areias, Wagner Malveira e Edson Murakami, os Leões de Judá (GO)
Perto da tirolesa (último PC) encostamos neles mas não passamos, tomamos fôlego e na ordem do capitão "Já", enfileiramos um na roda do outro e passamos parecendo uma equipe do "Le tour de France"... (risos). Foi uma ultrapassagem que nunca mais vou esquecer. Pena que teve um trekking de 5km até a tirolesa, e aí eles nos passaram, pois a Ju não podia correr. E entra novamente o espírito de equipe da Leões, eu carregando a mochila da Ju, o Wagner carregando a Ju e o Adolfo navegando para tentar cortar caminho. Muito legal.
Pra terminar, de todas vezes que senti o espírito de equipe da Leões, há que se destacar o trabalho da equipe de apoio, Acácio, Ivanoel e Leleu. Era muito bacana chegar nos ATs. É muito emocionante ver a equipe pulando quando nos vê chegando. É muito bacana ouvir esses "caras" perguntando "Mura o que você quer? O que estão precisando? Já pegou sua comida? Já comeu? Comi porrr....!!!". Galera do apoio, valeu! A alegria de vocês renova o espírito da gente.
Finalizando...
Para relaxar depois da prova, muita cerveja e cachoeira. Foi muito legal o passeio até a cachoeira junto com a equipe Brou. Muitas risadas e água gelada.
Pessoal, assim como durante a corrida, várias vezes senti vontade de chorar, pela grata satisfação de lembrar dos bons momentos de viver a vida de um jeito diferente, que como todos sabemos, ninguém entende, a não ser nós! Valeu. Foi muito bom conviver com vocês esses 10 dias.
Grande abraço a todos.
Mura
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