O Campeonato Mundial teve início um mês antes da data oficial, de 14 a 22 de setembro. Diante da extensa lista de equipamentos obrigatórios para as diversas modalidades, todos os atletas já estavam em clima de competição efetivamente correndo atrás de obter todos os equipamentos que a organização exigia. Ainda mais por causa da etapa de alta montanha, que exigia botas específicas com crampon também específico e muita mais parafernália de segurança.
Passada esta etapa, que na verdade só conseguimos concluir realmente no dia 14, já que até os últimos momentos antes da prova seguíamos atrás de equipamentos em lojas de L’Argentière e Briançon, estávamos diante da logística de dividir equipamentos e comida em dois barris, duas caixas e as 4 caixas de bike, todas com pesos e dimensões limitados. Ao dividir toda a comida em pacotes de oportunidades para diferentes números de horas, de acordo com as modalidades, só restava fazer tudo entrar dentro do peso limite. No final das contas, tivemos que tirar praticamente todo o líquido e realmente só deixar comida, que era o essencial. Para piorar um pouco a logística, somente encontrávamos um barril de cada vez durante a prova e as caixas em determinados pontos, tendo então que portear e transferir alimentos em certos pontos para garantir comida até o final da corrida.
Colocamos 250 Euros em nosso kit obrigatório na mochila mas só usamos uns 20 no máximo… isso porque a prova passou por áreas realmente remotas nos alpes, já que cruzamos pouquíssimas cidades, sendo que por algumas delas passamos à noite quando tudo estava fechado. Enfim, não tivemos nenhum luxo, tomamos água do rio e comemos o que tinhamos, poucas vezes com comida quente. Percebíamos que sempre que nos alimentávamos melhor durante a corrida o nosso rendimento melhorava muito e sofremos bastante nos dois primeiros dias pela falta de comida de verdade, por causa da logística de caixas e etc.
Iniciamos a prova bem colocados devido ao nosso quarto lugar no prólogo do dia anterior, assim pudemos fazer parte do primeiro trekking com a Seagate e Thule. Digo parte porque foi pouco mesmo, pois essas equipes imprimiram um ritmo alucinante já na etapa de alta montanha, que tinha tempo congelado de 7h30. Nós a terminamos em 6h15 e tivemos o tempo restante para descansar e, no meu caso, tomar três pontos no joelho devido a uma queda no final da etapa quando tropecei e cai com tudo em uma pedra, abrindo literalmente o joelho. Com o joelho costurado, ja sentía o que me esperava: 450 km de montanhas e montanhas com uma perna e meia, já que com o joelho costurado bem na parte que dobra não poderia esperar muito da perna debilitada.
Após as 7h30 de tempo congelado tivemos a real largada da competição, em um rápido mountain bike seguido de um trekking para compensar as outras 7 horas que deveríamos estar no glaciar cancelado pelas condições climáticas. Nesse trekking alcançamos diversas equipes, dentre elas a Silva e a francesa Raidlight, porém ometemos um erro de orientação no final e terminamos entre as 12 equipes, por onde permanecemos por diversos dias.
Seguimos em bike disputando com a Tecnu e mais uma vez alcançamos outras equipes por conta da nossa boa orientação mais do que tudo. Mountain bike na França é igual a single track, pedras, subidas e descidas duríssimas. Pedalamos muito pouco por estradas e nunca por estradões. Tivemos algo de asfalto, mas sempre era uma subida tão absurda que agradecíamos muito a Deus poder estar num asfalto e ter a oportunidade de conseguir subir pedalando e não empurrando. O Raid in France é conhecido por suas etapas de carrega bike, mas imaginávamos que no mundial mudariam um pouco, pois bike é para pedalar e não para carregar! Mas não mudaram tanto… tivemos etapas de andar obrigatoriamente por dentro do rio carregando as bikes. Realmente desgastante e para nós, um pouco desnecessário… Mas enfim, este é o espirito do Raid in France!
Antes da largada ja sabíamos que deveríamos apertar o ritmo nos dois primeiros dias para passar na primeira dark zone do rafting e caiaque. Fizemos o que pudemos e só conseguimos passar na do rafting, ficando presos junto com mais 8 equipes na dark zone do caiaque. Somente a Seagate e Quechua passaram as duas dark zones e outras duas equipes ficaram presas no meio do segundo rio. Assim, às 6h45 da manhã tivemos uma largada em massa de 8 equipes para um caiaque super divertido de classe 2 e 3. Passamos bem nessa etapa e deixamos boas equipes para trás, como os ingleses da Adidas Terrex, que quebraram um barco…
Em seguida fizemos um pequeno trekking e uma bike com mais de 2000 m de desnivel positivo. Subimos por umas 3 horas num visual alucinante, descemos e depois subimos bastante uma vez mais até chegar a uma transição para um trekking noturno. Esse trekking foi bastante duro para mim pois comecei a ter dificuldade para respirar. De alguma forma estava com o mal da montanha mesmo sem estar tão alto assim… creio que todas as mudanças de temperatura e altitude dos 3 primeiros dias fizeram efeito e nesse trecho eu realmente não podia respirar. Meus companheiros de equipe me ajudaram como puderam, mas eu só conseguía ir a um ritmo e não conseguia passar dele. Acabamos esse trekking buscando umas equipes que estavam na frente e partimos para mais um carrega bike.
Foi realmente um carrega bike pois passamos por um parque nacional por onde é proibido o trânsito de bicicleta, assim tivemos que portear ela por 700 m oficialmente, fora os outros kilômetros de pedras impossïveis de pedalar. Terminamos a bike em um downhill alucinante até a segunda parada obrigatória. Estávamos a menos de 1 hora de 4 equipes, o que nessa altura do campeonato nao é nada. Atrás de nós estava a equipe a AXA, mais de 3 horas atrás…
Descansamos o máximo que pudemos dentro das 4 horas de parada obrigatória e partimos fortes para a etapa de canyoning, noturna. A equipe tem muita experiência em canyoning e conseguiu fazer um bom trabalho para terminar a etapa ganhando duas posições. Continuamos com os neoprenes para entrar numa etapa noturna de caiaque em rio. Eu imaginava que não haveria corredeiras, mas estava enganada. E além do mais, o rio estava com baixo volume de água, então iamos batendo e encalhando em várias pedras por não poder ver bem à noite. Mas conseguimos passar bem e terminamos a etapa de dia, também buscando 4 equipes.
Saimos para um trekking com bastante orientação e com um pequeno canyon no meio, conseguindo terminar junto com outras equipes também. Fizemos a transição para o trecho de mountain bike mais difícil de todos. Não digo difícil pelo percurso, mas sim pelo sono e cansaço. Subimos a montanha em marcha lenta e descemos mais lentos ainda, já que eu dormía muito. O sono acumulado ja começava a fazer efeito e downhill de bike a noite é o pior de todos, além de ser super perigoso dormir no volante, já que as trilhas eram super técnicas e uma queda certamente nos tiraria da competição. Assim seguimos, driblando o sono como pudemos até chegar na transição num refúgio de montanha, onde paramos por umas 2h30. Tinhamos muito sono e tambem aproveitamos para nos alimentar e recuperar para a tacada final.
Saimos do refugio para a tacada final, um trekking de 8 horas, uma bike de 11 horas, um pequeno trekking de 30 min e 5 km de canoagem para a chegada! Passamos duas equipes no trekking, a Ertips e a Adidas Terrex, e a FJS na bike. Saimos antes da FJS para o pequeno trekking até o caiaque final, porém nos esquecemos de duas balizas que estavam no caminho, assim chegamos no pórtico em sétimo, tomamos o champagne e seguimos correndo de volta às duas balizas, pois era melhor ser oitavo que desclassificado!
E assim terminamos, na oitava colocação no Campeonato Mundial de Corrida de Aventura 2012! Uma prova duríssima e maravilhosa ao mesmo tempo, em que somente boas equipes conseguiram terminar. Das 65 que largaram somente 15 completaram todo o percurso.
Agradecemos a nossos patrocinadores Columbia Sportswear, Orbea, Bimont, Nutrisport, Megasport, Compressport, Nordenmark e Bestard por acreditar nesse esporte e ja estamos planejando a temporada 2013!
Bárbara Bomfim
Columbia Vidaraid Adventure Team
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