La Mision: completar 160 quilômetros pela Cordilheira dos Andes em pouco mais de 3 dias, enfrentando variações de clima e terreno a todo momento e uma altimetria de, literalmente, tirar o fôlego.
Esta 8ª edição do La Mision atraiu 377 atletas para a bela Villa La Angostura, cidade com cerca de 12.000 habitantes às margens do lago Nahuel Huapi e praticamente um parque de diversões na natureza. O Brasil marcou presença com 42 participantes.
A expectativa em relação ao clima era grande nos dias que antecederam a largada. A previsão de chuva e frio deixava os participantes ansiosos pelo que teriam que enfrentar no decorrer do percurso e toda a logística de roupa e comida era reavaliada a todo momento. Uma das novidades este ano foi a utilização de duas sacolas onde os atletas puderam colocar roupas e/ou alimentos e encontraram cada uma delas nos acampamentos, aliviando um pouco o peso a ser carregado durante a corrida.
Os acampamentos são montados em locais aproximados a cada terço do percurso, onde além de encontrar suas sacolas, os atletas podem comprar comida e bebida. Podem também - não é uma regra - encontrar um local mais estruturado para dormir. De qualquer maneira eles carregam como itens obrigatórios um saco de dormir e um bivac e podem parar para descansar onde e quando quiserem.
Os três dias de corrida alternaram frio, vento, chuva, nevasca, sol, subidas, muitas subidas, mais subidas e é claro, as descidas. Estradas de terra, bosques, rio, trilhas, cinzas vulcânicas, pedras e neve foram as variações de terreno ao longo do percurso.
O La Mision é uma corrida exigente fisicamente e os participantes devem ser auto-suficientes, carregando seus equipamentos e alimentação. As primeiras edições exigiam habilidades de orientação com mapa e bússola, mas aos poucos a corrida foi se transformando numa Ultra-Trail, com todo o caminho demarcado e atraindo mais atletas de performance.
Mesmo com essa mudança o espírito do La Misión continua sendo apenas completar os 160 quilômetros, seja em primeiro ou em último lugar. Mesmo caminhando é possivel terminar a prova dentro do tempo limite, mas é preciso estar preparado para as mudanças de clima, saber a hora de parar e descansar, assim como seguir em frente, mesmo com as adversidades.
O clima severo no alto das montanhas, além de outros motivos, acabou por tirar muita gente da prova, sendo que a maioria (96) acabou desistindo no Acampamento 1, aproximadamente 60 quilômetros, alguns com apenas algumas horas de prova e outros, com mais de 24 horas.
A corrida de 2012 - A largada aconteceu às 12h00 de quarta-feira (12) com os atletas seguindo o carro madrinha pela avenida principal da cidade e seguiu até a entrada de um bosque, por onde os atletas começaram a subida do Cerro Bayo. No alto da montanha, uma pequena nevasca foi o primeiro teste dos participantes. Ali puderam ver - tardiamente - se fizeram a escolha correta de roupas e equipamentos.
Em alguns momentos a nuvem branca se dissipava e era possível ver uma fila indiana de atletas pela crista do Cerro Bayo, mas rapidamente a neblina voltava e só percebíamos a chegada dos vultos a alguns metros de distância.
Poucas horas depois da largada, enquanto os lideres começavam a despontar, o rádio da organização já informava as primeiras desistências. Teve atleta que não enfrentou sequer a primeira subida "de verdade".
O ritmo do pelotão de frente estava forte e como começa a escurecer mais tarde na região, o grande desafio do dia, o Cerro O'Connors, foi superado ainda com luz pelos primeiros colocados Era por volta das 20h00 quando os Gonzalo Calisto e Gustavo Reyes chegaram no Acampamento 1, montado próximo ao Km 60.
No final do primeiro dia, a organização tinha anotado 17 desistências. A maioria dos participantes enfrentaram o O'Connors durante a noite e na manhã do segundo dia esse número chegou a a 10% dos que largaram.
E o clima neste segundo dia foi muito diferente. O sol brilhava no céu azul e os participantes tiveram a oportunidade de apreciar um pouco o visual da região. Sempre adiantado, os lideres iniciavam seu caminho final para a chegada em Villa La Angostura quando a grande maioria terminava a segunda seção em Villa Traful, onde foi montado o Acampamento 2.
Quase no final dessa seção os participantes tiveram que cruzar o rio Mineiro e depois encarar a ingreme subida ate o pico do Cerro Piedritas antes de descer para Traful e descansar um poucos as pernas antes de sair para o trecho final.
Apesar de estar no terço final, o percurso escondia mais surpresas. Os participantes tiveram que subir mais uma "parede", o Cerro Buol, antes de voltar para o centro de Villa La Angostura e comemorar sob o pórtico "Mision Cumplida!".
A vitória geral ficou com o equatoriano Gonzalo Calisto, que fechou a prova em 22h43. "Creio que um dos maiores segredos (em fazer a prova rápida) é a motivação. E estar nesses lugares espetaculares de Villa La Angostura geraram uma grande motivação em mim. Ao chegar a cada crista de montanha e ver a paisagem, os lagos, as cordilheiras nevadas me davam energia. Penso que, se amas a natureza, terá energia para chegar à meta".
Entre as mulheres, vitória da argentina Yanet Guzman, com 33h02, em sua terceira participação no La Misión. "É uma corrida longa e não podemos largar a toda velocidade. E também tento desfrutar, porque não se trata apenas de correr, senão é melhor fazer uma corrida urbana, são 10 quilômetros e acabou."
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