La Mision é muito mais que uma corrida, é como uma peregrinação, onde centenas de atletas realizam um esforço sublime para alcançar suas metas. Não importa chegar em primeiro ou por último, o importante é concluir o percurso e viver a aventura.
Gerenciar forças, escolher lugares para descansar, desfrutar da paisagem e enfrentar os caprichos do tempo. Tudo isso se reflete em no lema do "La Mision ....chegar é ganhar ". Atingir o objetivo da Missão é uma grande recompensa do esforço realizado e ganhar a medalha de "Missão Cumprida" é um privilégio na vida.
Nossa participação na “La Mision” começou em 2010 com a cara e a coragem, sem saber o que realmente acontecia por lá, já que a única referencia que tínhamos eram algumas dicas que o velho carcará (Sidão Togumi) do La Mision tinha nos passado...(risos). Nesse ano, a corrida ainda precisava de orientação e tinha duplas como formação. Pesquisamos na internet, pedimos ajuda a amigos para conhecemos melhor o clima do local, os tipos de roupa, equipamentos e até mesmo que tipo alimentação levar.
No mesmo ano, um programa de esportes de uma grande emissora teve o conhecimento da nossa participação e se interessou pela corrida, em especial, pelo fato da Giuliana participar de uma prova tão grande somente 4 meses após dar a luz. Chegamos até solicitar uma autorização especial para que a Giu amamentasse nos postos de controle, mas infelizmente abandonamos a prova nos 68 km devido aos problemas físicos. Em 2011, voltamos muito bem preparados fisicamente, mas novamente a Giu abandonou a prova e acabei completando a prova sozinho. Mesmo assim, continuei com certa frustração, pois somos uma equipe e gostaria muito de ver minha esposa passando pelo pórtico ao meu lado.
Eis que abre as inscrições para 2012 e imediatamente as realizei sem ao menos avisá-la, já que esse ano seria decisivo. Passamos o ano focado nessa prova, trabalhando tanto fisicamente como psicologicamente, com a participação em duas provas importantes, Desafio das Serras e Half Mision, ambas de 80km, contando sempre com a ajuda dos treinadores matadooo Daniel/AKSA e José Virginio, ícone das corridas de montanhas no Brasil.
Saímos do Brasil para mais um "La Mision" com a meta de finalizar a prova em 40 horas e, como meta pessoal, garantir a passagem da Giu pelo pórtico. Malas prontas, equipamentos conferidos dez vezes, já que a falta de um pode ser a diferença entre vida ou morte, principalmente quando se trata de alta montanha.
Em Villa La Angostura/Argentina, acordamos cedo e logo percebemos que a prova seria mais dura que imaginávamos, pois havia previsão de chuva e tormentas nas montanhas.
Dito e feito, largamos com chuva fina e temperatura de 12º C. Daí em diante só piorou. Atravessamos quatro montanhas com mais de 1800 metros de desnível e quatro por volta de 1500 metros, totalizando 7500 metros de desnível. Muitas dessas foram debaixo de chuva na maior parte do tempo com rajadas de vento com mais de 100km/h. Nossos rostos acabaram sendo castigados com pequenas pedras de gelo, fazendo com que a sensação térmica despencasse. Cheguei a perder a conta de quantos riachos de águas gélidas atravessamos. Isso misturado ao frio intenso que congelava nossos pés e mãos, tempestades de areia misturado com cinzas vulcânicas - em 2011 a cidade foi castigada pelo vulcão Puyehue do Chile - , sem contar com a fome, sono e varias dores que iamos ganhando pelos caminhos da floresta andina. No fundo, eu adoro isso tudo...(risos)
Mas nada disso foi suficiente dessa vez para abalar a determinação da dupla. Digo dupla, pois apesar da prova ser solo, corremos sempre juntos. Pelo menos para mim não vejo sentido em correr sem ela e muito menos em não levar nossas crianças para dar uma força extra.
Como sempre digo "A felicidade só existe se for compartilhada", e seguindo sempre esse lema, fomos pouco a pouco conquistando cada quilômetro daquele lugar espetacular e único, mesmo prejudicados com 8 horas pelo fechamento de uma montanha devido as más condições climáticas e termos errado o trecho final da prova, onde subimos mais uma montanha de 1.870m que nos custou umas 3 horas...dá pra acreditar? (risos)
Mas o que importa mesmo é que conseguimos cumprir nossa missão. Levar muito tempo ou pouco tempo é relativo no "La Mision". Isso já não importava mais, o que importava era o romper da Giuliana pelo pórtico adentro e seu choro engasgado saindo como se fosse um grito de satisfação e missão cumprida. Parabéns minha esposa, amiga, dupla, parceira, guerreira ou seja lá que for...
Depois de 2010 o La Mision repercutiu muito aqui no Brasil e nossas estórias e de outros inspiram pessoas até hoje. Em 2011 e 2012 conhecemos mais pessoas que participaram da prova só por ter visto os relatos de 2010. Algumas conseguiram completar e outras não, por isso deixo meu recado a essas futuras pessoas que tenham interesse em vivenciar uma aventura desse porte: peça ajuda, tirem informações, procure alguém que já tenha vivenciado. Infelizmente ainda vejo pessoas chegarem na cidade sem noção do que irão enfrentar, carregando somente o espirito de aventura e acabam saindo frustradas e colocando suas vidas em risco.
Agradecemos a nossos familiares pela paciência, aos nossos amigos e em especial a nossa equipe de apoio, "Nossa Maria", que cuida de nossas crianças enquanto corremos.
Bilkis e Giuliana
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