Depois de um bom tempo afastado das corridas, em função do trabalho e dos estudos, este ano resolvi voltar as pistas. A final de contas, já estava me sentindo um pouco mal em ficar tanto tempo parado. Em 2012 participei apenas de três provas, mas com certeza elas foram ótimas experiências e, além disso, pude fechar o ano com chave de ouro com a Gralha Azul.
Por ser um circuito relativamente novo a princípio estava meio apreensivo. Mas felizmente a Gralha Azul superou minhas expectativas. No início, parecia uma simples corrida qualquer, mas desde o princípio se mostrava muito bem conduzida pela organização. Apesar dos comentários e orientações durante o briefing, ninguém imaginava o que ainda estava por vir. Em razão daquela normal tensão da pré-largada, poucos atletas conseguiram tirar um cochilo até a largada que iria ocorrer no meio da madrugada.
Duas da manhã em ponto iniciou-se a prova com um trekking curto, que na verdade serviu como um aquecimento para o canyoning que viria logo em seguida. Desde o início dava para perceber que o ritmo dos primeiros colocados seria bem intenso. O canyoning aparentava que ira ser como o de costume, mas grandes surpresas estavam prestes a esquentar esse início de prova. A começar pela grandes pegadas de onça descobertas por um dos integrantes da Equipe Santa Ritta. Pela disposição das mesmas, parecia que ela estava indo na mesma direção que a nossa. Teve até um momento que levei um tremendo susto quando vi dois pontos brilhantes à minha frente. Por um momento pensei que fossem os olhos da fera.
Praticamente, todo o canyoning foi todo feito com as duas duplas (Santa Ritta e Sulbrasilis) e eu, como solo, juntos na liderança. Quando já estávamos por terminar o trecho, demos de cara com um paredão de concreto com alguns túneis bem estreitos. Como não havia como contornar o obstáculo, tivemos que encará-lo. Dentro do túnel demos de cara como um monte de bichos voadores, que, até agora, não sei bem o que eram. Talvez morcegos, talvez pássaros... Só sei que a emoção foi grande, pois passamos correndo pelo túnel e os bichos se colidindo contra nós. Minha preocupação naquele momento era de proteger os olhos e com isso mal podia ver o caminho que estava percorrendo. Felizmente, ao final do túnel, nos deparamos com o AT1.
Após um transição bem rápida, segui juntamente com a Santa Ritta rio abaixo para enfrentar um longo trecho de remo (mais ou menos 5 horas) com diversas corredeiras exuberantes e também com diversos pontos para carregar os ducks. Logo iniciado esse trecho, já podia se perceber o dia clareando. Como estava me sentindo bem a vontade, resolvi dar um esticada, pois não havia como saber do desempemho dos outros atletas de minha categoria e com isso sabia que precisava abrir alguma vantagem sempre que fosse possível.
Chegando ao AT2 um pouco a frente da Santa Ritta, cerca de dez minutos, recebi a informação de que já tinha aberto um certa vantagem do segundo colocado da solo. Mochila reabastecida, reidratado e alimentado, parti para o trecho de bike. As paisagens eram exuberantes, com destaque para Os grandes paredões das serras. Faltando pouco para chegar ao AT3, resolvi juntar-me à primeira equipe que vinha logo atrás, que esperava ser uma dupla, para fazermos o trecho seguinte de trekking juntos, pois por questões de segurança, procuro não correr sozinho à noite. No penúltimo PC antes do AT encontrei com a Santa Ritta e na sua cola a Sulbrasilis. Logo em seguida a Sulbrasilis ultrapassou a Santa Ritta e começou abrir distância, assim resolvi acompanhá-los. Depois de alguns minutos, percebi que o meu pneu havia furado e acabei perdendo a companhia deles. Com isso, voltei a me juntar com a Santa Ritta, e ao final da corrida percebi que "há males que vem para o bem".
Depois do último PC antes do AT, resolvemos optar pelo caminho mais curto, o que mais adiante percebemos que não era o mais rápido. Resolvemos azimutar adentro de plantações de pinus, no entanto, demos de cara com diversos obstáculos intransponíveis, com rios e vegetação muito fechada. E como estávamos dentro de uma plantação de árvores altas, não era possível obter referências para conferir nossa navegação. Depois um bom tempo perdido, resolvemos voltar ao PC anterior e fazer o caminho mais longo, porém mais seguro. Acredito que acabamos perdendo umas duas horas. Chegando ao AT3 parti para o rapel, que foi um show a parte! Além da água da cacheira refrescante, a paisagem espetacular renovaram as minhas energias. Nesse momento a noite já estava caindo. Enquanto aguardava a companhia dos atletas da Santa Ritta, aproveitei para me alimentar e hidratar. Nesse momento cabe destacar os pastéis fritos na hora que o Ricardo (meu GRANDE APOIO e xará) conseguiu encontrar. Naquela momento eles pareciam ser os melhores pastéis do mundo!
Todos prontos, seguimos para o trecho que se previa ser o prior da prova, e foi o que realmente ocorreu. No inicio do trekking parecia que a navegação seria relativamente simples. Mas quando seguimos para o PC da casa de paiol de pedra a coisa começou a ficar preta. Mata fechada com trilhas que sumiam a toda hora. Acho que naquele momento uma lupa de detetive seria mais útil do que uma bússola. Por volta de uma hora da manhã ouvimos algumas vozes se aproximando, era a Sulbrasilis voltando na trilha. Eles haviam desistido de procurar o caminho correto e estavam abandonando a prova depois de estarem perdidos por mais de duas horas. Resolvemos então seguir a frente, com a atenção redobrada, pois sabíamos que as dificuldades seriam grandes.
Chegamos ao rio onde supostamente a Sulbrasilis havia se perdido. Pudemos constatar que realmente a navegação estava bastante complexa o que nos obrigou a dormir um pouco e só prosseguir após clarear. As 06:45h retomamos as nossas procuras pelas trilhas que levavam ao PC. Com a luz do dia ficou tudo mais fácil e pudemos prosseguir na prova. Quando já estávamos bem próximos do AT encontramos com o Heitor que estava a procura das equipes. Ele estava muito preocupado pois a progressão da prova estava bem aquém do que ele havia previsto. Nesse momento, tivemos um boa notícia, ainda mais pelo fato de já estarmos com mais 30 horas de prova: no próximo AT haveria um corte que o transformaria na chegada da corrida. Ufa! Que alívio....
A sensasacao de chegarmos em primeiro, foi muito boa, mas melhor ainda foi a de ter vencido um desafio de mais de 33 horas, sendo que esperávamos no máximo 24 horas de corrida.
Agradeço imensamente companhia e ajuda dos companheiros da Equipe Santa Ritta (Fernando e Gerson) e principalmente ao meu apoio Ricardo, sem os quais com certeza não teria tido sucesso na prova. parabéns e muito obrigado!
Já participo de corridas de aventura há um bom tempo e posso afirmar que a Gralha Azul não deixa nada a dever a qualquer outra competição, inclusive às de maior renome. Com relação à organização, o que mais me impressionou foi a grande capacidade de conduzir de forma impecável toda a corrida com um reduzido número de pessoas. Foi evidente a grande preocupacão de todos os integrantes da organização de que tudo saísse da forma mais perfeita possível. Acredito que esse tenha sido o segredo do sucesso da prova. PARABÉNS a toda equipe em especial para o Heitor, o grande mentor de todo o evento. O percurso da corrida foi um SHOW! Tinha tudo que uma grande corrida de aventura deve ter: paísagens exuberantes, variedade de modalidades, trechos com muitos desafios e navegação bastante complexa em algumas partes.
Acredito que ninguém imaginava que a prova fosse tão difícil, nem mesmo a organização. O que comprova isso foi que apenas uma dupla e um solo terminaram a prova. Apesar disso tenho certeza que mesmo aqueles que não completaram a corrida ficaram muito satisfeitos. PARABÉNS a todos os participantes, vocês todos foram grandes vencedores!
Só desejo que o Heitor e sua equipe estejam cada vez mais motivados em continuar seu grande trabalho, pois ultimamente corridas no estilo da Gralha Azul são cada vez mais raras. E essas provas é que, nós amantes da aventura, estamos sempre procurando, ou seja, com GRANDES DESAFIOS.
Abraços,
Japa.
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