Haka Race Itu: Terceiros, com orgulho

Por Danilo Vivan - 25 Mar 2013 - 11h02

"Ia ser legal chegar junto na frente. Mas iam falar que quero ser diferente. Tá bom demais, pelo menos eu não saio da reta. Por isso eu sempre sou. Terceiro! Oba! Oba!". A letra é da música ‘Terceiro’, sucesso do Ultraje a Rigor.

Resolvi iniciar este relato citando a letra de Roger Moreira (líder do Ultraje), porque descreve uma atitude contrária a que tivemos no último final de semana pra conquistar um terceiro lugar na etapa de estreia do Haka Race, em Itu. Sim, pois, na música, Roger mostra uma atitude meio displicente com o pódio. Ele não está ali pra fazer muito esforço: a terceira posição lugar está garantida e tudo ótimo. Não com a Keep Walking!

Vamos à história: a largada, às 09h40 da manhã, do pesqueiro do Tio Oscar, foi, para nós da categoria Sport, mais forte que o de costume: em vez de bikes ou de um trekking curto pra ir pegando ritmo, 10 quilômetros de corrida num ritmo alucinante desde pórtico de largada. Para mim, que sempre me saí melhor na bike, um problemão. Afinal, embora pedale diariamente indo e vindo do trabalho, os treinos de corrida são mais raros. Diferentemente do André, meu colega de equipe, que passa horas na esteira todos os dias, chegando a assistir filmes inteiros enquanto corre. Por isso – e considerando as condições meteorológicas ‘panela de pressão’ do último sábado, com calor, umidade e tempo fechado - esse primeiro sprint foi pesado.

Com muito esforço, conseguia correr, acompanhando o pelotão intermediário, mas perdendo algumas posições. Depois de algum tempo, fui vencido pelo cansaço. Forçava, mas não conseguia manter um ritmo muito forte. Os mais experientes sabem nessas horas o melhor é não lutar e aceitar a situação: trote, mas não pare. Foi o que fiz. E, assim, fui lutando contra pior inimigo de qualquer corredor: a própria cabeça, que insistia em me fazer imaginar que aquele poderia ser o fatídico dia em que pela primeira vez abandonaria uma corrida de aventura.

Já quebrei na São Silvestre, em 2010, e me lembro da sensação horrível de não conseguir correr, as coxas gritando de dor e insistindo em parar. Mas tenho também bem presente a sensação de luta, de insistir em não abandonar, como fiz naquela ocasião, cruzando a linha de chegada mancando. Como diria um ex-ciclista famoso, hoje conhecido pelos métodos pouco fair play para melhorar o próprio desempenho, a dor é passageira, mas desistir é pra sempre. E assim, trotando e buscando um ritmo pra continuar, convenci minha cabeça de que tenho um histórico muito longo de provas completadas pra baixar a cabeça e abandonar. Melhor juntar forças e seguir, como sempre fiz em 10 anos participando de provas.

Chegamos mal no PC 05, em oitavo lugar, perdendo e recuperando posições. Péssimo pra quem havia largado pensando num pódio. Mas a essas alturas, nosso objetivo já era outro: completar a prova com dignidade.

Atingimos o AT onde passaríamos pras bikes e ganhei ânimo. Descemos uma ladeira a toda, ganhando posições, o que ia contribuindo pra restabelecer minha moral. Ganhei mais ânimo também ao perceber que equipes conhecidas, com quem sempre disputamos os primeiros lugares, também sofriam no pelotão do meio.

Mas na primeira subida após o descidão, o cansaço pegou novamente, desta vez com os primeiros sinais de câimbras. E lá fui eu, empurrando a bike morro acima, enquanto o André, pouco na minha frente, insistia em pedalar. Pra meu consolo, pelo menos, paramos de perder posições, como no trekking.

Chegamos, finalmente, no rapel, um viaduto de ferrovia, pra dizer o mínimo, cinematográfico. São mais de um quilômetro de comprimento com mais de 50 metros de altura até a base no ponto mais alto. Detalhe importante: a linha férrea está ativa, ou seja, os trens continuam passando, independentemente de se estar praticando lá rapel ou bungee jump. Que está lá em cima sente a ponte chacoalhar. São essas imagens que ajudam a gente a entender por que ama as corridas de aventura – as imagens do rapel aqui no Adventuremag dão uma ideia do que estou falando.

Como o André estava mais inteiro e costuma descer o rapel ‘queimando as cordas’, na maior velocidade possível, coube a ele a missão, enquanto eu ia pela estrada de terra por mais de 1 quilômetro empurrando as duas bikes, de modo a encontra-lo lá embaixo pra seguirmos até a chegada. Desci junto com o Hugo, colega de treinamento na assessoria esportiva Selva. Fomos conversando e dando risadas, falando de como as provas são apaixonantes, porque nos fazem ir ao limite de nossa resistência e de nossos medos. Quando terminamos, ele soltou um comentário de que provavelmente estaríamos na terceira colocação.

“Caramba! Será?”. André confirmou a previsão quando pegamos as bikes pra seguir. Ele havia assinado a planilha do PC, que estava quase vazia – ou seja, poucas equipes haviam passado por ali.

Essa notícia produz o mesmo tipo de efeito que provoca empatar uma partida dada por perdida numa final de campeonato lá pelos 40 minutos do segundo tempo: renova a energia e a moral. Pegamos as bikes e fomos com força rumo a mais 10 quilômetros, quase todos de subida até a linha final. Então, eu passei a ditar o ritmo da equipe, sempre na frente, pedalando e empurrando. A essas alturas, eu estava mais inteiro que o André, que sofria com câimbras fortíssimas. Sabe-se lá porque, fato é que eu sempre começo devagar e vou ganhando ritmo, enquanto que com o André é o oposto: ele começa forte, mas vai perdendo performance. É esse equilíbrio que faz a força da Keep Walking.

Embora mais inteiro, também sucumbi às câimbras, que me atacavam de tempos em tempos. E, no final de uma descida, a toda velocidade, elas vieram com força total. Minha panturrilha direita travou, quase causando um acidente e me fazendo parar, gritando de dor. Mandei um gole de isotônico, alonguei e segui, as dores ali. “Será que estamos em terceiro?”, pensava. Sem saber a resposta, dava o máximo, sem parar pra alongar e, assim, perder tempo.

Entramos no pesqueiro ainda sem ver a linha de chegada, o que só seria possível após várias curvas dentro da propriedade do Tio Oscar. Por fim, vimos o pórtico do Haka praticamente vazio, o que significava que, sim, tínhamos ido bem. Erguemos os braços e passamos a toda, pra em seguida checar os equipamentos e garantir que estávamos em dia com as regras de segurança.

Posso dizer que foi uma das provas mais difíceis, mas também uma das mais heroicas que já fiz. As câimbras, pelo que apurei, atacaram todas as equipes, o que mostra a dificuldade da corrida e valoriza ainda mais nosso feito. Agradeço ao camarada André, à equipe Selva Aventura, ao Léo, do Haka, e ao pessoal da Ratos do Mato/Aoka, com quem temos dividido o pódio. E especialmente à Renata, minha esposa, sempre apoiando nessas roubadas. Terceiros, com muita luta e muito orgulho!

Danilo Vivan
Keep Walking

Danilo  Vivan
Por Danilo Vivan
25 Mar 2013 - 11h02 | sudeste |
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