Dia 11 de maio acontece em La Palma a quarta edição da já considerada a mais dura ultramaratona das Ilhas Canárias, na Espanha, a Transvulcania. Grandes nomes mundiais do esporte já confirmaram presença na competição de 83 quilômetros e mais de 8,5 mil metros de desnível acumulado.
Entre eles, estão Kilian Jornet - o ultramaratonista campeão, entre outras, do Ultra-Trail Du Mont Blanc (UTMB) e que se reveza em pódios mundiais de esqui de montanha no inverno e de ultramaratonas no verão; Anton Kupricka - vencedor de provas como Leadville 100 e conhecido por correr com o mínimo possível de equipamentos, de preferência apenas com um par de tênis e uma bermuda; e o atual campeão da prova, Dakota Jones - ultramaratonista de apenas 22 anos que ainda adolescente já havia participado de 13 corridas de 50 km, das quais sete terminou entre os três primeiros, sendo três em primeiro lugar.
Quem terá a oportunidade de encontrar esses gigantes mundiais das ultramaratonas na Transvulcania é a brasileira Rosália Camargo. Já aprovada para participar da competição, Rosália leva no currículo pódios que vão do primeiro lugar no XTERRA de 50 quilômetros, da Ilhabela em 2012, à vitória de uma competição de 100 km em Portugal. Caso seja mantido o índice de competidores em La Palma, arquipélago de Gran Canária, a brasileira será umas poucas mulheres a ter coragem de enfrentar o desafio da Transvulcania. No ano passado, a presença feminina foi de menos de 10% entre os cerca de 300 atletas participantes.
Os moradores do Rio de Janeiro, muito provavelmente, já devem ter cruzado com a Rosália correndo pelas ruas, avenidas, praias e favelas da cidade. Sem saber, a comunidade carioca assiste o treinamento de uma brasileira que carrega a bandeira do País em competições ao redor do mundo. É possível acompanhar parte dos preparativos da atleta no blog www.webrun.com.br/comunidade/blog/home/id/21 .
Ao Adventuremag, Rosália conta um pouco da trajetória e experiência nas ultramaratonas.
Fale um pouco das suas últimas experiências internacionais em ultramaratonas
O Cruce de Los Andes foi a primeira prova internacional que venci. Foi em 2012 e estava correndo em dupla com a Cristina Carvalho. Além do Cruce fiz outras três provas internacionais: em 2011 corri 42km da K42 em Villa Angostura (Argentina) e conclui a prova em 3º lugar. Ano passado fui a Ilha da Madeira, Portugal, e fiz minha estréia em provas acima de 100km... Venci a prova!
Este ano, decidi correr o Cruce na categoria solo, pois tive uma ótima experiência em 2012. A organização do evento é excelente e me encantou tanto a nova modalidade como o fato que íamos passar por três vulcões!
Tive um pouco de dificuldade com o fato da prova ser dividida em três dias, pois meu perfil é correr distâncias mais longas, em um ritmo constante progressivo. No segundo dia, torci o pé e minha canela direita estava bastante dolorida. No último dia de prova, já tinha corrido 28 quilômetros e sofria com dores nas pernas. Lembro de estar na planície do Vulcão Lanin e o vento estava gelado. Eu estava sendo constantemente ultrapassada... Até que um colombiano passou por mim, segurou minha mão e disse: "Força brasileira... Você está em quinto!!!". Aquilo de certa forma me deu energia... As pernas foram ficando ágeis e consegui correr como eu gosto... até a chegada.
Tive a oportunidade de correr com as melhores atletas do mundo de trilhas. Mesmo terminando em 5º lugar no feminino, fiquei muito satisfeita com meu resultado no geral. Apenas quatro homens brasileiros chegaram na minha frente!
Quais os principais atrativos de correr no exterior?
Eu viajo em busca de provas longas. Aqui no Brasil ainda estamos focados em distâncias como 21km e 50km. No exterior, as provas longas já têm estrutura mais elaborada e uma quantidade maior de atletas. Apesar disso, as provas nacionais que fiz - basicamente da Serie K42 e XTERRA Endurance Challenge - são extremamente bem organizadas, bem marcadas, conseguem traçar percursos interessantes e que exploram a paisagem que estão inseridas. Ainda não temos provas longas no Brasil, mas nossos eventos têm sido excelentes.
Conte um pouco sobre seu histórico nas corridas.
Eu corro há aproximadamente 15 anos. Comecei com a clássica maratona do Rio, que sai do Recreio e chega no Aterro do Flamengo. Naquela época eu ainda estava na UFRJ. Lembro que diversos amigos, também estudantes de arquitetura, se espalharam pelo percurso para me incentivar. Completei em 3h58' e no momento em que cruzei a linha de chegada sabia que tinha descoberto o que realmente gostava de fazer!!!
Nunca treinei em equipe, sempre gostei de fazer minhas programações e praticamente corria todos os dias um pouquinho. Acho que a grande mudança foi quando conheci meu marido. Ele também era atleta e nosso programa sempre incluía uma corrida. Comecei a fazer Ironman, que é um triathlon de longa duração, mas depois de 6 anos consecutivos decidi investir apenas nas corridas em montanhas.
Como foi sua primeira prova de montanha?
Foi a maratona Cross de Búzios, em 2010. Me apaixonei!!! Foram 42 quilômetros percorrendo Búzios, um lugar que frequento desde pequena e achava que conhecia tudo. Mas essa prova me levou a lugares incríveis, que eu ainda não conhecia. Provas de trilhas têm o dom de levar os atletas a lugares exclusivos e, ao mesmo tempo, oferece hidratação e perfeita marcação do trajeto. Venci a prova e, na chegada, estava tão feliz que corri no sentido contrário para buscar meu marido, que ainda não tinha chegado!
Quais outras provas você já correu?
A lista cresce a cada mês!!! Em 2011 fiz a K42 de Bombinhas e, como eu ganhei a prova, parte da premiação foi fazer a K42 de Villa Angostura, que fiquei em 3º lugar. No mesmo ano, também fiz minha primeira prova noturna, os 50 Km de Mangaratiba. Também venci e me apaixonei por essa prova! Depois fiz outros 50 Km em Ilhabela, com outro 1º lugar numa disputa incrível com a americana Helen Cospolich.
Comecei 2012 com o Cruce de los Andes (1º lugar), na sequência fiz os 80 Km do XTERRA Endurance Challenge de Ilhabela (4º lugar) e depois venci a K21 de Arraial do Cabo e a Madeira Island Ultra Trail (MIUT) de 100km. E para fechar o ano, venci as duas provas do XTERRA Endurance Challenge - Mangaratiba (quebrando meu próprio recorde de prova) e de Tiradentes - ambas com 50 quilômetros de distância. A última do ano foi a maratona Cross de Búzios 42 km, que terminei em 2º lugar.
E sua primeira ultra qual foi?
Minha primeira ultra foi no asfalto... Também inesquecível! Foram 50 quilômetros pela estrada, ligando Teresópolis a Friburgo. Saí correndo forte, estava em primeiro e tinha certeza que ia vencer a prova. Estava tão feliz! Mas eram 50 quilômetros e comecei a notar meu corpo perdendo performance. Sofri muito, mas terminei com um sorriso e um lugar no pódio!
O que te atrai nas corridas de montanha?
A liberdade; a paisagem; a solidão; as variações de altimetria, de ritmo de passadas, de pisos... Tudo isso é encantador! O mesmo percurso pode ser completamente diferente, dependendo do clima. Se chove, tudo muda!!!
Como é sua rotina de treinamentos?
Sou arquiteta com mestrado em urbanismo. Minha rotina é, literalmente, correr para o escritório diariamente. Vendi o carro há uns três anos e, desde então, corro do Leblon a Urca todos os dias... E da Urca pro Leblon no final do dia (risos). Não participo de nenhuma assessoria, treino apenas com meu marido nos finais de semana. Adoro a liberdade de treinar sozinha. Corro pela cidade, tiro fotos e organizo meus pensamentos. Hoje, considero a corrida muito mais do que apenas um treinamento.
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