Bolões marcaram os bastidores da primeira edição do Half Mision Brasil. A pergunta principal e responsabilidade recaía sobre um dos favoritos inscritos na competição de 80 km, realizada neste fim de semana no município de Passa Quatro (MG). Sem saber das apostas, Chico Santos largou com os mais de 200 atletas, por volta das 11h da manhã, com a meta de percorrer os mais de 4300 metros de altitude de desnível acumulado em apenas 10 horas.
Os mais céticos acreditavam que o ultraatleta não cumpriria o objetivo em menos de 12horas. Eram muitos os motivos que os levavam à conclusão, pois a competição originada na Patagônia Argentina chegara ao Brasil já intitulada como umas mais duras da América Latina, se não do mundo. E mal sabiam os inscritos que mais tarde a versão tupiniquim tomaria o título para si.
Chico Santos também não sabia, largando em um ritmo alucinando, porém acompanhado por muitos atletas de peso, tanto da própria Half Mision, quanto pela Short Mision, a versão de 40km, porém não menos desafiadora. Os 13 quilômetros iniciais pela subida da estrada terra até a entrada da trilha foram percorridos em apenas 1h19, dez minutos atrás do primeiro colocado da prova menor e apenas três minutos à frente do segundo da mesma que a dele, Daniel Meyer, correndo com seu calçado Five Fingers.
A prova estava apenas começando, afinal a partir da Toca do Lobo os atletas entrariam definitivamente na Serra Fina. Resumido em poucas palavras, o percurso a partir dali seria principalmente de trilhas rochosas, puro single track e muitas, mas muitas subidas.
Tessa Roorda se sentiu à vontade na geografia extremamente técnica, afinal para ela o objetivo era apenas completar e conquistar os dois pontos necessários para a Lavaredo Ultratrail, competição que acontecerá em 27 de junho de 2014 na Itália. Apesar da decisão de participar do Half Mision ter acontecido apenas dois dias antes da largada, o espírito competitivo da atleta sobressaiu. Afinal, como disse o próprio marido, "a Tessa não sabe brincar!".
Correndo entre os top five desde o início, a brasileira largou batendo-papo com os colegas e rivais na linha de frente. Treze quilômetros depois continuava sorrindo, como se ainda estive à caminho da largada. Assim como ela, os atletas de ambas as competições pareciam anestesiados frente à tamanha beleza da região que faz divisa com os estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Descobrindo aquele pedacinho de Brasil estavam representantes da Argentina, Venezuela, Chile, Austrália, França e, claro, muitos brasileiros.
Até a subida do Capim Amarelo, os atletas da Half e da Short Mision continuavam misturados, dividindo a trilha até os 2.400 de altitude. No ponto em que as duas provas se separavam, resgatistas ou patrulheiros como são chamados na Patagônia acompanhavam a progressão e garantiam a segurança de todos competidores, e assim muitos outros seriam notados ao longo dos dois percursos.
Independente da distância escolhida, os atletas foram testados ao extremo. Enganaram-se aqueles que achavam estar se inscrevendo para uma corrida de montanha. Assim como na terra de origem, a franquia La Mision é uma competição expedicionária e de autossuficiência, vencida por aqueles capazes de administrar o esgotamento físico e psicológico. Os vencedores neste caso, independente da classificação, foram todos os que cruzaram a linha de chegada. Cada um tinha um objetivo e história pessoal. Entre eles, um emocionado atleta, vestindo uma camiseta com os dizeres "Eu te amo Margô. Força e Fé! 80 km por você", homenageando a irmã acamada.
Lágrimas, sorrisos, alegrias e tristezas, um turbilhão de sentimentos tomou conta do centro de Passa Quatro, onde estava montada toda a estrutura da prova. Entre os que cruzavam o pórtico e os que chegavam resgatados pela organização, a troca de experiência. Muitos deles já com a vontade da próxima edição e outros com o sentimento de "não volto nunca mais!". Alguns diziam ter participado de algo insano, porém bem ao gosto de muitos. Para dona Lázara, ou Lazinha como prefere, de 70 anos, foi o começo de tudo. Foram 40 quilômetros de alegria na sua primeira prova. Já para a experiente Tomiko, de 63 anos, os 80 quilômetros marcaram a comemoração da 50ª ultramaratona desta querida atleta.
Chico Santos - o alvo das apostas – deixou a meta das 10 horas para o próximo ano. Com 11h15 cruzou a linha de chegada. Em meio a emocionadas lágrimas e flashs, contou ter se surpreendido com a dificuldade do segundo trecho dos 80 km, a subida para o Tijuco Preto. No microfone descreveu a o Half Mision Brasil como a prova mais dura da vida dele, mas a vitória foi comemorada como merecia, sob aplausos, gritos de alegria e muitas felicitações.
Tessa Roorda chegou pouco mais de uma hora depois, surpreendendo aos pouco informados que não a conheciam e alegrando àqueles que a acompanham das corridas de aventura. Definitivamente, ela não sabe brincar! O segundo lugar na classificação geral do Half Mision Brasil ficou com a brasileira, seguida pelo também corredor de aventura Daniel Franquim. O argentino Nicolas Dabas, de apenas 21 anos, foi o primeiro gringo a completar a prova, na quarta colocação geral.
A La Mision Race, por meio do Half Mision e Short Mision Brasil, deixou uma marca nos competidores desta edição 2013. Como são chamados os que completam a prova na Patagônia, os Missioneiros foram para casa com sensação de "o que foi aquilo!?!".
por: Lilian Araujo
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