Por Rebeca Kümmel
A ansiedade com a prova começa uns dias antes, aquele nervosismo. Será que realmente estaria preparada? Tudo o que está na mala será o suficiente? O tênis vai dar conta? A mochila é a ideal? Na chegada à cidade, olho todas aquelas montanhas, todos aqueles corredores pegando os kits. O frio na barriga já começa a ficar cada vez mais forte.
Um dia antes da prova, é aquela agonia: mercado, comida, lanches, água, arrumar mochila e toda aquela incerteza. Antes de sair na noite anterior da prova para jantar em Passa Quatro, conhecemos vários corredores, que me deram a maior força e dicas super úteis que eu poderia usar na montanha e na vida! Afinal, era minha primeira prova longa na montanha e só de estar ali com pessoas torcendo por você e sendo solidárias, toda aquela agonia já começava a valer a pena.
Chega o dia da prova. Tudo pronto, me arrumei, me alimentei bem e rezei, sempre respirando fundo a cada passo que dava em direção à largada. Dada a contagem regressiva, começam todos aqueles aplausos, aquele barulho do tênis batendo no asfalto, a única coisa que eu conseguia pensar era no aqui e no agora.
Entramos na montanha, eu e a minha parceira, Ana Paula. Dizia pra ela até o Refúgio "a subida está ruim, mas está boa". Estávamos tranquilas, dando conta do desafio. No caminho, encontramos pessoas que tinham feito outras provas. Elas nos davam força e nos incentivavam cada vez mais a seguir em frente. Seguíamos um pé na frente do outro, nunca sozinhas por completo, sempre na companhia de alguém que tinha muito a nos ensinar, mesmo sem falar quase nada.
Passamos o Refúgio, chegando à Toca do Lobo. Tínhamos 2 litros de água e muita subida a enfrentar. Ali a prova começou a ficar difícil. Com o fôlego cada vez menor, passamos por partes onde ficamos nós, Deus e o chão lá embaixo, bem longe. A subida estava forte, difícil, sofrida. Estávamos cansadas. Ver algumas pessoas desistindo foi muito ruim pra mim, pois me trazia um sentimento muito forte de incerteza sobre o que eu iria enfrentar lá na frente.
Mas conseguimos! Pensei em todos que tinha conhecido um dia antes, na minha parceira que me dava força e nos corredores que estavam ali. Nos divertimos muito, demos risadas, contamos histórias e isso fez com que a parte dura da prova ficasse mais leve. É muito curioso ver o comportamento dos corredores dentro da montanha. Estávamos todos ali querendo chegar, todos apoiando uns aos outros, dando força, motivando, olhando lá de cima aquela maravilha que Deus criou. É um vínculo que se cria ali dentro daquele ambiente e isso te deixa mais calma, mais segura e você pensa "não, eu não estou sozinha".
Chegamos ao cume! A primeira pessoa que vi foi a Veronica, da organização, fazendo a maior festa. Só de estar lá em cima com ela e com a minha parceira foi suficiente para recuperar minhas forças. Começamos a descer, eu já pensando que ia ser melhor. Me enganei! Descida dura e pesada, começava a anoitecer. Aquela parte também foi difícil, somada a uma superação muito pessoal, pois tenho medo de altura e o trecho estava bem técnico. Mas eu precisava confiar nas cordas e em mim mesma.
Ficamos sozinhas por pelo menos umas 3 horas. O Refúgio parecia estar muito mais longe do que realmente estava. Eu só pensava que já tinham se passado oito horas de prova e minha mãe me esperava na chegada. Escorregamos bastante até o Refúgio, o trecho foi bem duro, mexendo muito com o nosso psicológico. Com os joelhos doendo, pensava nas pessoas que conhecíamos e não faziam ideia de onde estávamos.
Após a descida até o esperado Refúgio, tudo ficou mais fácil! Cantamos a descida inteira, tudo ficou mais leve. O sofrimento lá de cima já havia sido superado por aquele momento. Ao sair da montanha encontramos o Rogério, que também fez a maior festa ao nos ver. Aquilo foi muito bom!
Andamos pela cidade, cansadas, mas os moradores nos parabenizavam e nos deixavam muito orgulhosas de estarmos terminando. Ao ver a linha de chegada resolvemos correr com todas as forças que restavam.
Logo avistei quatro pessoas conhecidas torcendo por nós: minha mãe, que foi a minha inspiração pra correr nesta prova; meu treinador, Sidney; minha colega Bárbara e o Pexe, um dos corredores que tinha conhecido um dia antes e que nos incentivou muito. Só por este momento toda a prova já valia a pena, cada bolha, cada dor no joelho, cada pingo de suor derrubado.
Valeu por aquele momento, por todas as pessoas que torciam por nós e esperavam notícias, nossos pais, namorados, treinadores, primos e amigos. Foi maravilhoso, a minha maior conquista!
Por Rebeca Kümmel
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