Era o ano de 1973 quando um grupo de amigos decidiu desbravar a Mata Atlântica, no trecho pertencente ao município de Ubatuba, litoral Norte de São Paulo. Sem pretensões sobre quanto tempo levariam, os jovens desbravaram algum ponto da selva entre as praias de Ubatumirim e Prumirim. A Rodovia Rio-Santos estava saindo do papel e chegar a qualquer uma das praias já era uma aventura. O desafio estava lançado e a diversão estava garantida. As paisagens deslumbrantes incluíam trechos que os faziam esquecer a proximidade com o oceano.
Passados 40 anos, apesar do asfalto que hoje corta aquele pedaço da costa litorânea paulista, José Russo, o tio Zé, estava de volta àquele cenário ainda praticamente intacto. O peso da sua idade não abalaria a motivação para participar pela primeira vez de uma corrida de montanha, a Ubatuba Trail Run. Para Tio Zé seria uma verdadeira viagem no tempo, desta vez na companhia do sobrinho de coração André Nucci.
O clima amistoso entre os competidores e a beleza daquele domingo ensolarado resumiam o sorriso incessante. Enquanto boa parte dos atletas se aquecia nas areias de Ubatumirim, tio Zé fotograva. Munido de uma máquina profissional, ele e o companheiro largaram para os 15 quilômetros em ritmo tranquilo, de quem apenas queria apreciar cada momento.
André também ficou responsável pela mochila, que carregaria tanto a alimentação do percurso sem hora para acabar quanto, por vezes, a pesada máquina fotográfica. Enquanto tio Zé clicava a longa praia de Ubatumirim, na praia de Puruba acontecia a largada da etapa de 7 km.
A versão menor da Ubatuba Trail Run também estava carregada de histórias. Entre elas a de Luisa Siqueira. Com apenas 14 anos, a atleta mais jovem da etapa também estreava nas corridas de montanha. Filha de atletas da corrida de aventura, a adolescente é tão ou mais competitiva que os próprios pais. Se na prova de 15 km tio Zé dava um passo por vez na expectativa de fazer o sonho durar, na segunda competição Luisa ignorava o coração acelerado.
Independente das subidas intermináveis ou do terreno técnico, a garota manteve um ritmo forte. Os conselhos do pai para que tentasse dosar o cansaço obviamente foram ignorados. Afinal, ninguém na idade dela entraria numa competição apenas para curtir o visual. Ela queria mesmo a cruzar a linha de chegada. E assim o fez, com um belo sorriso no rosto, conquistou o terceiro lugar na geral feminina.
Como Luisa, os atletas de ponta Michel Luiz dos Santos e Alessandro Neves, respectivamente 1º e 2º lugar, disputaram lado a lado os 15 km da prova maior. Em menos de 50 minutos de prova, decidiram a classificação há apenas poucos metros do pórtico. Também com sorrisos adolescentes, os dois comemoraram o resultado abraçando-se como irmãos. "Aprendi muito com o Michel hoje. Ele me ensinou muita coisa", resumiu Alessandro.
Quilômetros atrás, André e Tio Zé mantinham o ritmo turístico. Fecharam a prova horas depois dos primeiros colocados. Sem se importar com o resultado, tio Zé sentiu-se como se estivesse de volta a 1963.
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