A equipe Espírito Livre/Adventuremag relata a participação no Raid Terra Aventura 2004

Por Jorge Elage - 25 Mar 2004 - 23h56

O Ronaldo bateu o carro uma hora antes de sairmos da capital e o João teve que trabalhar até as 19 hs da quinta. A largada era as 24hs.


Jorge e Fabi durante o primeiro trekking
foto: Ronaldo Grego


João e André tentam colocar o ombro do Ronaldo no lugar
foto: Jorge Elage


Oskalunga Brasil Telecom na madrugada
foto: Jorge Elage


Local da portagem obrigatória
foto: Jorge Elage


Já desclassificados, a equipe fez a etapa de mountain bike durante a noite
foto: Jorge Elage


Equipe Bichodomato.net durante o trekking
foto: Jorge Elage

Chegamos lá as 21hs ( Jorge Elage , Fabi Mello, Ronaldo Grego e Luiz). Corremos para fazer tudo a tempo. Checamos equipamentos, documentos... às 23hs chegou o João! O pneu furou e ele atrasou um pouco. O primeiro problema estava solucionado.

Largamos bem, trotando no ritmo imposto pelos líderes da prova, procurando nos manter nas primeiras posições. Passamos no PC1 em 15 º – estava tudo embolado. Uma pegadinha na trilha plotada no mapa, ao lado de um pasto, confundiu muita gente, inclusive a nós. Corremos de um lado para o outro procurando um caminho, mas a solução mostrou ser um vara mato. Continuamos fortes, trotando. Encontramos muitas equipes, navegamos bem e chegamos em 12 o lugar, pouco mais de uma hora atrás dos líderes. Sentíamos bem.

PC 2 AT 1
Em 15 minutos ficamos prontos para sair. Aí vieram más notícias. O Bruno falou que um duck estava furado e que tinha feito um remendo com silver tape!. O remendo não deu certo e resolvemos levar o fole para poder encher o duck durante a descida e, sem querer perder tempo, entramos no rio sem consertá-lo.

Em poucas remadas descobrimos que os 4 remos estavam ajustados para canhotos, deixando o controle da remada muito prejudicada. Ainda mais pela quantidade de galhos no rio. Segundo o Ronaldo, parecia que a gente remava com “uma colher e um garfo”.

De repente eu vi o duck do Ronaldo virar e ele gritar que O OMBRO SAIU DO LUGAR – Ahhh!!!
- Segura o remo dele!
- Vamos sair do rio...

Decidimos chamar o resgate. Estávamos a menos de 10 minutos do AT. O João tinha acabado de ir pela trilha quando o Ronaldo começou a gargalhar e gritar.
- Volta João!! João. Pode voltar. Voltou sozinho pro lugar.

Não entendi nada... Ele estava berrando de dor e de repente sorria e queria seguir.
- Beleza, vamos nessa!

Trocamos de posição (tiramos o Ronaldo do leme) e continuamos. Neste período fomos ultrapassados por 4 equipes.

Seguimos em ritmo tranquilo, tomando muitas galhadas na cabeça. Muitas mesmo. Arranhões e espinhos passados, chegamos em uma portagem. Encontramos as meninas da Atenah. Elas estavam sendo atendidas no carro, pelo Dr. Clemar. Os espinhos de um galho cortaram o queixo e a orelha da Marcela, que levou 8 pontos ali mesmo, e depois continuou a prova. O clima estava tenso. Interagimos um pouco e logo seguimos.

Terminamos a portagem e colocamos os barcos na margem, observando o rio. A linha d’agua era boa, nível dois. Enquanto o João e o Ronaldo se preparavam para entrar na água, enchi a lateral furada do meu duck e falei com a Fabi.

Saímos logo em seguida. Foi a mais forte corredeira que descemos. Passada esta boa aventura, voltaram os problemas. Pouco tempo depois, na última corredeira, fomos jogados em direção a... adivinha?! Outra galheira de árvore!!! O duck encalhou e logo em seguida virou. Caímos na água e o duck ficou jogado sobre nossos ombros, ainda no ar.

Com as mãos eu segurei o galho, o remo, o fole e a Fabi, que dizia não ter apoio e que estava sendo puxada pela correnteza. Consegui puxar a mão da Fabi até um galho mais grosso e perdi o fole...

Este processo tirou de nossos ombros o apoio do duck, que caiu virado na água e começou a ir embora. Peguei o duck e corri atrás do fole. A correnteza me levou alguns metros, bati as costas em algumas pedras. Consegui apoio e me recompus. Deixei a salvo todos os itens – duck, fole, remo, mochila e falei com o João:
- Tomamos uma vaca, a Fabi tá segurando na árvore lá em cima, preciso voltar pra buscar ela!

E ele – Velho, a gente também caiu. O ombro do Ronaldo saiu do lugar de novo, ele tá lá esperneando de dor!
- Ajuda ele, eu volto com a Fabi e daqui a pouco a gente conversa.

Quando eu subi o rio pela margem e gritei pela FABI!, ela não estava mais. Confesso que eu pensei que ela tinha se afogado ou algo assim. Aí ouvi o João. Ela estava na mata, no alto de uma parede de pedra que beirava o rio, olhando pra baixo e conversando com ele, vendo tudo de cima.

Voltei. Falei com o Ronaldo e concordamos em tentar a redução (voltar o braço para o lugar). Apoiei meu ombro sob o ombro dele e puxei, com o João segurando ele pelo outro lado... Não deu certo.

Chegou a Atenah. A acidentada e já bem humorada Marcela deu a dica:
- Já tive isso várias vezes. Tem que fazer a manobra puxando o braço nesta angulação (mostrou), usando o apoio dos pés perto do ombro.

A agonizante dor já durava uns 15 a 20 minutos.
- Com os pés na costela? Tranqüilo eu disse, já perguntando para o Ronaldo se podia tirar fotos.

O André também tentou. Não deu certo.

Eles seguiram. Pedimos que comunicassem nossa desistência e chamassem auxílio médico. Aguardaríamos pelo resgate na primeira ponte.

Pegamos a Fabi na margem mais baixa, um pouco à frente e seguimos descendo o rio por um bom tempo antes que chegássemos ao local onde fomos resgatados.

A lesão voltou a posição e a dor se foi. Logo depois nosso astral melhorou. Duas horas e meia de agonia. Perguntei ao Ronaldo o nível da dor que ele sentia. Dez, ele disse.
– Agora eu imagino a dor do parto.

Voltamos a dar risadas e a se divertir. Chegamos a pensar em continuar, mas a incerteza quanto a possibilidade de nova fratura, associado a proximidade do corte, nos desestimulou.

A ponte era baixa, de madeira, com portagem aconselhada (tinha perigo de furar o duck embaixo dela). Não havia nenhum staff e nenhuma sinalização. Durante o tempo em que estivemos lá orientamos as outras equipes sobre a portagem, ajudávamos a carregar os ducks, fotografamos, conversamos e incentivamos a todos os amigos competidores. A pedido do organizador, que passou de carro dizendo que precisava ir a outro PC e logo voltava para nos buscar, utilizamos nossos sacos de lixo 50 L (obrigatórios, só pode ser para esta função!) e catamos todo o lixo nas proximidades do local. Enchemos um sacão. Depois ele nos premiou pela iniciativa. Sinceramente, acho que é apenas o mínimo que todos devemos praticar.

O resgate logo voltou e nos levou para o PC 6, onde encontramos nosso apoio.

O Ronaldo decidiu voltar para São Paulo com o Bruno e eu e o João convencemos a Fabi e o Luiz a continuarem no apoio. Formamos então a equipe REPORTER ADVENTUREMAG. Faríamos o pedal, e no dia seguinte decidiríamos quanto ao futuro.

Pedalamos e fotografamos. Encontramos as equipes Brisa e Matero na bike e Oskalunga e a Bicho do Mato.net saindo para o trekking. Na transição comemos, tomamos banho e dormimos bem, até tarde, curtindo os benefícios de sermos atletas desclassificados.

Durante o dia acompanhamos a prova. Ao entardecer conseguimos dois remos (destros) e decidimos fazer a canoagem (pulamos as etapas de 60km de trekking e 30km bike).

Fotografamos e filmamos a saída das equipes Paranaventura e Bicho do Mato.net, que entraram no rio juntas na penúltima transição. Nos arrumamos e vimos OsKalungas chegarem. 40 minutos depois dos líderes entramos no rio (nós e oskalunga).

Descansados,remamos bem e conseguimos alcançar a Bicho do Mato quando eles tiravam os barcos d’água. Esperamos Oskalunga sair do rio e depois abandonamos a prova novamente, facilmente dominados pelo bom café e pelo macarrão carinhosamente preparado pelo nosso apoio.

O dia seguinte foi de conversas e socialização.

A Equipe Espírito Livre Adventuremag conta com apoio das marcas: ZKL Rolamentos, O Tao do Pedal, Deuter Backpacks, Tênis Salomon, Solo Outterwear, Scorza Fisioterapia e Noventa Graus – Ginásio de Escalada Indoor.

Informações sobre a equipe: www.adventuremag.com.br/equipe

Jorge Elage
Por Jorge Elage
25 Mar 2004 - 23h56 | sudeste |
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