Sentir na pele o que é uma corrida de aventura pode ser uma paixão a primeira corrida ou uma repulsa total a esse tipo de competição. Organização, logística, equipamentos, raciocínio rápido, orientação, bom senso, paciência, força, rapidez, preparo físico e, principalmente, companheirismo, são alguns dos requisitos básicos para fazer parte deste universo.
Nossa equipe era eclética: O capitão e navegador, Alexandre Vasarhelyi, é um corredor experiente, tendo inclusive já corrido com equipes de ponta; Erika Duarte, minha companheira de treinos na Floresta da Tijuca, é forte e cheia de gás, mas nunca tinha assistido uma prova de perto. Mônica Duarte, corajosa e com uma baita personalidade, foi apresentada para os esportes na clínica e à prova no momento da largada. De mim, posso dizer que tenho uma experiência média com os esportes outdoor, estou com a saúde em dia, mas não tenho a menor experiência como corredora. E no decorrer da prova é fácil perceber o quanto isso é importante... Além da disposição, logística e estratégia são vitais e fazem toda diferença na hora de chegar em 1º. ou 11º....
Largada: devagar e sempre
Largamos no Horto Florestal sem muita correria, optando pela prova mais curta, já que não sabíamos como nossos corpos iriam se comportar. A falta de experiência logo marcou presença quando na ida ao PC2 não apoiamos nosso navegador. Ao invés de esperar em silêncio que ele se concentrasse no mapa e na bússola, fizemos uma pressão enorme para seguir os outros participantes e um carro da organização que passava pelo local. Resultado: perdemos a trilha, energia e uns bons 40 minutos nessa brincadeira. Lição 1: Sempre apóie e ajude o navegador. Se o mapa for algo totalmente indecifrável para você, fique calado e deixe o indivíduo se concentrar.
Arborismo: descontração e carga de energia
Chegamos na área das técnicas verticais excitados... 6 bases de arborismo foram montadas no meio de um bosque de eucaliptos. Visual de primeira... O capitão decidiu que eu e Erika faríamos a etapa, já que somente dois integrantes da equipe enfrentariam esta atividade. E, como não se discute com o capitão (principalmente quando só ele sabe para onde está o norte), lá fomos nós! Primeiro uma “ponte” suspensa feita com cabos de aço. Depois, duas tirolesas deliciosas. Lição 2: Mesmo que você esteja lutando pelas primeiras colocações ou esteja morto, divirta-se e aprecie o visual! Esse é o grande diferencial dos esportes outdoor.
Pernas e pulmões: Subida infinita até o PC7
A próxima etapa seria um trekking pesado até o PC7, onde pegaríamos as bikes. Para quem conhece um pouco de Campos do Jordão, nossa saída foi no Horto Florestal e nossas bikes estavam próximas ao Pico do Itapeva, a mais de 2 mil metros de altitude. Para nossa surpresa, a etapa mais dura acabou sendo a de nossa melhor performance. A ala feminina da equipe andou muito bem, tentando seguir o ritmo forte do Alexandre. A Mônica foi a revelação. Apesar de inexperiente no trekking, deu um gás absurdo e venceu o desnível de 480 metros entre o PC5 e PC6 na maior moral e, como em toda prova, com um enorme bom humor.
Conforme íamos chegando ao PC7 o frio aumentava. Pegamos a bike e sem descanso começamos a etapa seguinte: um trecho bastante acidentado em direção a represa onde faríamos a remada. O MTB era a modalidade que mais nos preocupava. Além de estar com uma bike pesada, a Mônica não estava muito à vontade com o pedal. Mas, a etapa mais “temida” acabou sendo a mais bacana, pois nesse momento trabalhamos como uma equipe. Todos se ajudaram e acabamos chegando na Represa de Itapeva inteiros e felizes. Lição 3: Não existe corrida de aventura sem uma equipe sintonizada. Todas as vantagens e virtudes de cada um dos integrantes devem sempre ser usadas em favor da equipe, pois não vai adiantar nada se o mais forte chegar na frente ou se somente o mais equilibrado emocionalmente conseguir se manter firme até o final da prova. Corrida de aventura é sinônimo de equipe.
Remo, água, frio e PC virtual
Na etapa seguinte a equipe se dividia em dois: Alexandre e Erika foram para o duck, enquanto eu e Mônica fazíamos um trekking até o PC10, virtual. Os dois que entraram na represa sofreram... além do esforço físico de remar contra o vento e se molhar na água gelada, o frio à essa altura estava de rachar! Segundo a organização, a média de temperatura durante a prova não passou dos 12º.C...
Equipe reunida, mais uma etapa de bike pela frente. Dessa vez, rumo a chegada! Nesse momento, o emocional começou a pesar e mais uma vez o trabalho de equipe foi determinante. Teríamos que pedalar boa parte do que havíamos pedalado para chegar na represa, só que na direção contrária. Quando lembramos de todas as deliciosas e rápidas descidas que passamos, começamos a imaginar como seria subir tudo novamente... Nessa altura, já estávamos com mais de 6 horas de atividades física non-stop!
Trabalho de equipe: todos por todos
Como diz meu querido amigo João Paulo Barbosa, em corridas de aventura você precisa amar a pessoa que está correndo do seu lado. É a equipe que vence, que perde ou que desiste de uma corrida. Uma equipe entrosada e harmônica consegue superar outras equipes, mesmo que estas sejam mais fortes ou experientes. E lá fomos nós novamente, emprestando força um para o outro, dando risada (para desespero do capitão) e encarando as tais subidas com vontade. Mais uma etapa vencida, quando começamos a voltar para a civilização percebemos que estávamos próximos da chegada. Nessa hora parece que a energia se renova e tudo que você quer é seguir em frente!
Chegada: Felizes e inteiros... ou quase
Atravessamos felizes o pórtico de chegada montado na praça da Vila Capivary. Eram 15h06m, o que totalizava 7h6m de prova. Lição 4: Equilíbrio de forças e personalidades na equipe. Alguém precisa ter o sangue mais frio, se manter mais razão do que emoção durante toda prova. Isso pode evitar erros terríveis! Também é preciso que alguém seja adrenado, que coloque pilha, que mantenha o espírito de competição mesmo nas situações mais adversas. Com estas características bem equilibradas você já tem meio caminho andado para o sucesso da equipe na prova.
Na minha opinião, o Caloi Adventure Camp foi perfeito para pessoas como nós, que queriam sentir o gostinho de uma corrida de aventura. O cenário escolhido não poderia ser melhor, o apoio dos organizadores foi fantástico, as informações claras e a sensação de estar em segurança foi importante. Lição 5: se você tem uma pontinha de vontade de se aventurar nessa, não perca tempo e, principalmente, não deixe de sentir estas sensações na sua pele. No dia 25 de julho tem mais uma etapa do Adventure Camp e pode ser uma boa oportunidade para você colocar mais emoção na sua vida.
Jaqueline Pedreira (jaque@pobox.com) é Engenheira de Computação e diretora do site Aventure-se (www.aventure-se.com.br), canal de esportes de aventura do iG. Trocou a fita, arco e bola da Ginástica Rítmica pela bike, tênis, mosquetão e mochila.
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