A noite de sábado já prometia uma prova muito interessante. O número de participantes seria Record (460 atletas em 115 equipes), o tempo nublado, o frio e a altitude exigiriam energia e disposição extra dos atletas.
A largada foi precedida por um momento de emoção e esperança, com a largada do Adventure Kids, para crianças entre 7 e 11 anos. A curiosidade foi a presença de 6 meninas e apenas 1 menino. É isso aí mulheres, precisamos muito de vocês !
A largada ocorreu no Horto Florestal pontualmente as 8h00 e em menos de 1 km as equipes tiveram que segurar o forte ritmo inicial, pois já começava a subida na estrada de terra em direção ao PC 1. Já neste PC a prova começou a se mostrar muito interessante do ponto de vista da navegação. Quase chegando ao PC 1, dava para ver uma fila indiana de atletas subindo a trilha pouco acima da estrada por onde vínhamos. Alguns navegadores menos atentos, no calor e na adrenalina do começo da prova, optaram por um corta caminho muito convidativo em direção à esta fila de atletas pouco acima. Não perceberam, porém, que estavam “pulando” o PC 1, que estava estrategicamente posicionado depois de uma curva, uns 100 metros abaixo. Com isso, várias equipes tiveram que voltar no contra-fluxo de volta ao PC 1, por onde passamos em 28 o lugar.
Um single track pelo meio dos pinheiros proporcionava um trote delicioso sobre o farto e macio depósito das folhas dos pinheiros (aliás, sempre tive dúvida se são chamados de folhas aqueles fiozinhos secos dos pinheiros que parecem vassoura de piaçava...). O tempo continuava nublado, mas não dava pra sentir o frio... No final deste single track dava pra ver no mapa que deveríamos seguir para uma segunda estrada à esquerda, paralela à primeira e que levaria direto pro PC 2. O ritmo veloz da corrida em descida não permitiu visualizar o que deveria ser essa segunda entrada, e nossa equipe junto com todas à frente, seguiu pela primeira. Conseguimos perceber o erro e felizmente havia uma trilha curta que levou a maioria das equipes para a estrada certa e para o PC 2. Provavelmente devido ao erro de navegação, havíamos caído para a 42 a posição.
Chegamos ao PC 3 (arvorismo) e demoramos um pouco pra conseguir abrir o saco plástico da organização e nos equipar. Com isso, acabei saindo afoito em direção à base 1 sem conferir se o Beto me seguia. Ainda bem que a estrada pra base 1 passava bem embaixo de onde estavam todos os atletas se equipando. Com a ajuda de amigos que lá estavam assistindo, o Beto me localizou e me deu uma merecida bronca: “Filipão, assim não dá... calma! Vai com CAAALMA, pô! Não adianta se afobar!!!”
Acho que demos sorte de fazermos a “base 1”, que foi muito rápida e fácil, pois parece que outras bases eram mais legais, porém mais difíceis e lentas. Enquanto Beto e eu fazíamos a base, Andréa e Fernando descansavam. Com isso, demos a saída no PC 3 na 41 a. posição e seguimos correndo sem parar até o PC 5, passando pelo PC 4, que era o mesmo do PC 2.
Pra minha surpresa chegamos ao PC 5 em 28 o, tendo ultrapassado várias equipes na corrida e provavelmente poucas outras que erraram o fácil caminho até o PC. Parabenizamos a organização por obrigar ali a checagem dos 2 apitos e 2 cobertores de emergência por equipe. Entenderíamos mais tarde o por quê...
O PC 5 estava a 1515 m de altitude e marcava o início da longa subida em direção ao PC 6, que estaria acima de 1900m de altitude! Praticamente todo o trecho foi feito em single track no meio do pasto, e em vários pontos dava pra ver a linda fila de atletas tanto à nossa frente no alto, como atrás e embaixo ao longo da subida. O branco dos coletes contrastava com o verde amarelado do pasto já meio queimado pelo frio do outono. Passando dos 1700m de altitude, o vento muito frio e a neblina deram um tom diferente à prova. Com a neblina, pelo menos duas bifurcações traiçoeiras fizeram com que algumas equipes errassem o caminho e perdessem precioso tempo. A subida foi muito cansativa e tivemos que superar o cansaço para conseguir manter um forte e ininterrupto ritmo de subida. Algumas equipes, como a Cão do Mato e a 100 Stress, conseguiam imprimir um ritmo mais forte na subida e nos ultrapassaram, mas seguimos disciplinados no nosso ritmo.
O PC 6 estava localizado próximo ao ponto mais alto de aproximadamente 1920 m de altitude ainda NaTRILHA que levaria ao PC 7. Mudamos ligeiramente do azimute S + SE 130 o desde o PC 5, para o SW 220 o em direção ao PC 7. Continuamos o nosso tracking / trote NaTRILHA pelo espigão, até o PC 7 onde encontraríamos nossas bikes, deixadas na noite anterior. Depois de trocas constantes de posição com a equipe 100 Stress dos amigos Décio e Gabi chegamos para nossa mui grata surpresa em 12 o lugar ao PC 7. Ué, tínhamos sido ultrapassados por algumas equipes e não havíamos ultrapassado mais do que 3 ou 4 outras, mas tínhamos ganhado 9 posições... a navegação aparentemente fácil, tinha feito, portanto, mais “vitimas”!
Num rápido trabalho de equipe, troquei o tênis pela sapatilha, instalei o porta mapas na bike e saímos rapidamente. O gatorade deixado nas caramanholas na noite anterior ainda estava geladíssimo... tanto quanto cada um de nós. Subida à direita e pouco mais de 1km a frente, dobrar a esquerda antes de uma longa descida... Eu vinha navegando “curto”, conferindo freqüentemente nosso posicionamento no mapa a cada curva, a cada mudança de azimute, a cada referência geográfica. Com isso, fiquei surpreso ao encontrar o PC 8 posicionado errado, quase 1 km antes da bifurcação onde deveria estar. Alertei a simpática staff que confessou já ter sido avisada disso por... pra minha eufórica surpresa... uma das 5 equipes que já haviam passado por ali... SIM, isso mesmo, estávamos em 6 o lugar, juntos com a equipe 100 Stress em 7º!!
Rumo ao PC 9 fomos ultrapassados pela 100 Stress e pela forte Lobo Guará iniciando portanto o duck em 8º Lugar. Nossa estratégia de equipe foi muito boa nesse momento: enquanto Beto e eu, fortes remadores, fizemos rapidamente o percurso ao redor das bóias, o Fernando e a Andréa correram ida e volta até o PC 10 virtual. Todas as equipes tinham que buscar os remos em 2 botes ancorados no meio do lago. Teve gente que optou por carregar o duck pela margem até uma posição de travessia mais curta enquanto outros, como nós, preferiram não perder tempo e entrar direto na água e começar a remar com as mãos. O vento soprava contra e a água estava gelada. Depois de pegar os remos, tanto Beto como eu, que não gostamos de remar com as luvas, sequer pensamos em tirá-las por causa do frio. Entrava muita água em nosso duck e o Beto estava com dificuldade em fazer o leme. Encostamos numa das margens e trocamos de lugar para que eu passasse a fazer o leme. Optamos, porém, por não parar pra trocar de duck e seguimos remando não tão forte como gostaríamos.
Saímos da água encharcados e com muito frio, mas subimos rapidamente nas bikes para a longa, porém final, perna de bike. Sentíamos que estávamos bem, numa excelente posição considerando que todas as grandes equipes de aventura estavam competindo, e não tínhamos pressão aparente de outras equipes. O Fernando sentia muitas câimbras depois da corrida pro PC 10, mas acredito que a excitação de tudo o que estava acontecendo o ajudou a superar a dor que vinha e voltava. Demos a saída no PC 11 em 7 o. lugar, pois havíamos ultrapassado a Lobo Guará no duck.
O caminho até o PC 12 (que ficava na saída do PC 7) era fácil e conhecido, pois já o havíamos feito de carro na noite anterior para deixar as bikes no PC 7. Várias alternativas de caminho levavam ao PC 13. Optei por um que era um pouco mais longo, mas que me pareceu menos arriscado quanto a relevo e navegação. O trecho foi bastante tranqüilo de fato e não encontramos nenhuma equipe pelo percurso. Um km antes do PC, as gostosas retas e descidas se transformaram numa subida cansativa mas curta, dada a excitação da proximidade do final da prova . Ao chegarmos ao PC 13, nova surpresa. Estávamos em 6º lugar novamente, atrás da Cão do Mato em 5º, ainda à frente da Lobo Guará e com a 100 Stress no nosso encalço. Eles haviam escolhido um caminho mais curto porém mais difícil do que o nosso e portanto estávamos à frente. Saímos rapidamente em direção ao PC 14 na esperança de não sermos alcançados pela 100 Stress.
No meio do caminho porém, escutei o Fernando dizer que a 100 Stress estava nos alcançando. Ele estava enganado, pois quem mais uma vez nos ultrapassou, sempre com a forte Gabi à frente, foi a Lobo Guará e não a 100 Stress. Eles estavam bem mais rápidos do que nós e eu sabia que não adiantaria encarar aquele ritmo, mas estava feliz por ver que nossa escolha de caminho fora melhor do que a deles. 1 km adiante, porém, nos encontramos de novo com eles, que haviam parado numa bifurcação com dúvida de que caminho seguir. Chequei o azimute e descemos rapidamente à esquerda numa estradinha muito ruim, mas a Lobo veio logo atrás e nos passou em seguida.
Aquele trecho onde estávamos seria a opção de caminho de volta do PC 14 para a chegada, mas a condição ruim da estrada e o forte desnível que teríamos que encarar, me fizeram mudar de idéia. Fizemos um sinuoso e gostoso down-hill para depois encarar mais uma cansativa subida. No meio dela havia uma bifurcação com uma fita zebrada amarela e preta (dessas usadas em prova pra sinalizar caminhos...) que parecia indicar o caminho à esquerda, mas que levava a uma descida enquanto tínhamos que subir e cujo azimute não batia. Assim, seguimos à direita. Neste trecho, o Fernando apontou várias equipes percorrendo o topo do morro vizinho na mesma direção que nós. Dei uma rápida olhada no mapa e fiquei ainda mais confiante de que estávamos NaTRILHA certa, pois enquanto rumávamos para o PC 14, aquelas equipes passavam pelo caminho que já havíamos trilhado e rumavam para o PC 8, que ficava no mesmo lugar do PC 14. Um km mais e chegávamos felizes ao PC 14. Missão quase cumprida...
Foi quando fomos premiados com uma nova e excitante surpresa: ao invés do esperado 7º lugar, constatei quase incrédulo que estávamos em 5º (QUINTO) LUGAR à frente da equipe Cão do Mato que não havia passado ainda por ali, bem como da Lobo Guará que deve ter pego a bifurcação à esquerda... Nesse caso, eu sabia que seria um erro rapidamente corrigido por eles e que devíamos portanto nos apressar.
Naquele momento, optei por mudar o caminho de volta para a cidade que nos levaria a linha de chegada, pois havíamos notado a dificuldade do trecho que acabáramos de percorrer, bem como já conhecíamos o fácil caminho de 2,5 km até o asfalto que havia nos levado do PC 8 até o PC 9. A escolha foi acertadíssima e só nos restava torcer para que a Lobo Guará não fizesse a mesma escolha... Estávamos há apenas 10 km da chegada e com praticamente só down-hill de asfalto pela frente!
Mas infelizmente não foi o que ocorreu, e ainda na estrada de terra, sempre com a Gabi à frente, lá veio a Lobo Guará no seu ritmo forte e nos passou de novo. Com um suspiro de lamentação e de alívio ao mesmo tempo, seu navegador passou por mim e disse “só faltava essa... errar o caminho bem no finalzinho, não dá, né?!”. Ele tinha de fato errado, mas como todo bom navegador, soube corrigir rapidamente. Infelizmente pra nós.
Praticamente todo esse trecho de bike foi feito em uma altitude muito elevada de +/- 1800 m, com vento e muito frio. O Beto e eu que estávamos com as mão e os pés encharcados e gelados desde a remada no lago do Pico do Itapeva e sofremos bastante com isso.
As 15h12 depois de um delicioso, rapidíssimo e merecido down-hill pelo asfalto, passamos eufóricos pelo pórtico de CHEGADA num excepcional e honroso 6º LUGAR, apenas 1 minuto atrás da Lobo Guará, 13 minutos à frente da 100 Stress em que chegou em 7 o. quase 20 min à frente da forte Cão do Mato. O bom amigo Fabio da Cão do Mato depois me contou que tinham perdido precioso tempo com 1 pneu furado e 1 corrente quebrada...
Ficamos radiantes com nosso excelente desempenho e disposição, e confiantes de que uma boa cadência, muita atenção na navegação e principalmente muita união, alegria e espírito de equipe podem fazer uma equipe vencedora. Pois como bem disse o Beto num dos trechos da prova “nem sempre só quem chega em primeiro é o vencedor...”. De fato, hoje nos consideramos dignos vencedores pelo nosso feito. UUUUhuuuuuuuu, NaTRILHA!!!
Nos divertimos muito nessa prova, encontramos amigos e colegas, encaramos o perrenge e vencemos com muito prazer mais esta aventura. E por isso gostaríamos de agradecer ao Zolino e a todo o staff do Adventure Camp pela dura, inteligente e muito linda prova, à colega de equipe Alessandra e às nossas namoradas que nos receberam também muito felizes na chegada. Obrigado à Northbrasil que desde o princípio acreditou no nosso potencial. Obrigado ainda à Ciclovece e à Empório Aventura pelo apoio que também têm nos dado. Agradeço ainda ao meu bom amigo e treinador Amendoim e aos amigos e treinadores do Pinheiros Rodrigo Taddei e Duda. ATÉ A PRÓXIMA AVENTURA !!
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