Em Carandaí/MG, a 2ª Etapa da Copa AMETUR de Corridas de Aventura exige muita navegação e velocidade dos competidores

Por Guto Freitas, especial para Adventuremag - 14 Ago 2004 - 10h48
Após 9 horas dentro de um ônibus, chego em Carandaí/MG, para a 2ª Etapa da Copa AMETUR de Corridas de Aventura. Logo ao sair do ônibus, sou recebido pelo Rogério, um dos organizadores da prova, que se prontifica a levar minha bike para a área de transição (AT) 1. São 6h30m da manhã e eu largaria apenas 2 horas depois.


Logo após a largada, duplas entram numa gelada!
© Divulgação Copa Ametur de Corrida de Aventura

Após um rápido café da manhã, inicia-se, então, a tradicional correria que marca toda e qualquer competição: checar equipamentos, verificar kit médico - obrigatório em corridas de aventura -, encher mochila de hidratação, pegar mapa, lacrar o celular (equipamento de segurança obrigatório), decidir o percurso, encontrar amigos e aquecer.

Ao pegar o mapa, dôo um cobertor, parte da atividade social dessa etapa.

Com um pequeno atraso, às 9h00 largamos. Somos mais de 100 competidores mineiros, paulistas, cariocas e brazilienses, divididos em três categorias: a dupla amadora, que teria um percurso de 50 km; a dupla graduada, que teria um percurso de 65 km; e a solo, de apenas um solitário corredor, que teria de percorrer 55 km entre montanhas, campos abertos, trilhas, estradas de terra, rios e riachos.

Após a largada, as equipes se dividem: a dupla graduada tem de pular num gelado lago e nadar 70 metros, enquanto a categoria dupla amadora vai para o silo subir a escada de corda e madeira de 8 metros de altura e a categoria solo segue diretamente para o PC 1, a aproximadamente 2 km da largada, por trilhas e pela Estrada Real e num ritmo muito veloz, o que, aliás, marcaria essa etapa: a velocidade. Além de uma boa navegação, a prova exigiu de nós muito fôlego.


Nos silos, as duplas amadoras fazem atividade especial
© Divulgação Copa Ametur de Corrida de Aventura

Do PC 1 ao PC 2, mais um trecho de trekking. Na Fazenda do Sol (PC 2), os corredores da categoria solo, na qual competi, têm que pular em uma lagoa, nadar 40 metros até um ponto fixo e lá pegar a senha “planetaventuras”, que comprovaria o cumprimento da atividade aquática. Como chego nesse PC em 4º lugar, ainda colado nos três primeiros colocados da minha categoria, visto o colete salva-vidas e pulo direto na água, sem sequer verificar a sua temperatura. Nesse momento, descubro porque, na largada, os demais competidores gritavam tanto: a água está geladíssima!!! Completo essa atividade rapidamente e sigo ao PC 3, pouco atrás dos primeiros colocados.

DECISÃO ESTRATÉGICA ENTRE O PC 2 E O PC 3

Nesse trecho, a primeira decisão estratégica da prova. Segundo o mapa, teríamos que chegar ao outro lado do cume de um morro, na Pedreira, onde estaria o PC 3 e onde a categoria dupla amadora faria o seu primeiro rapel, de 45 metros. Ao chegar no pé do morro, fica claro para mim que seguir pelo lado direito do morro não seria uma boa alternativa, uma vez que a trilha marcada no mapa passaria a mais de 300 metros do PC, havendo uma visível mata fechada a ser transposta. Marco Aurélio Farinazzo, vencedor da 1ª etapa em Ouro Branco e que seguia em 1º até o PC 2 (clique aqui para saber como foi a 1ª etapa), optou por seguir essa via e teve problemas para atravessar a referida mata, chegando ao PC 3 em 10º lugar.

Nesse momento, sigo pela esquerda do morro com o Marcelo Cardoso, de Belo Horizonte, um amigo feito pela Orkut (sugiro que entrem na comunidade “Corrida de Aventura” daquele site) e chego ao PC 3, na pedreira, onde as duplas fariam um rapel de 45 metros.


Erro de navegação não impediu Farinazzo de vencer a 2ª etapa
© Divulgação Copa Ametur de Corrida de Aventura

Após, nos dirigimos ao PC 4/AT 1, onde iniciamos o trecho de MTB. Nesse momento, a prova começa a mudar de rumo para mim, pois, ao entregar a bike para ser levada à AT, logo ao chegar em Carandaí, me esqueci de que teria que encher o pneu, parcialmente esvaziado para a viagem, e a minha bomba havia quebrado na semana que antecedeu a prova. Assim, para não mexer nas bikes dos demais competidores sem sua autorização, decido seguir com o pneu murcho mesmo, na esperança de que nada de mais grave aconteceria. Erro bobo e fatal em qualquer prova, sobretudo nessa, que exigia grande velocidade dos competidores.

COM O PNEU MURCHO, DECIDO NÃO TENTAR A BONIFICAÇÃO DO PC 6

Sigo pedalando para o PC 5, onde tomei a segunda decisão estratégica da prova: decido não passar no PC 6, onde ganharia uma bonificação de 45 minutos, indo direto ao PC 7. Com o pneu murcho, não compensava arriscar pedalar mais 8 km, ainda que, segundo o mapa, boa parte desse trecho fosse plana, com duas grandes subidas ao chegar no PC 6 e no PC 7. Além do desgaste físico, o pneu, que vinha murchando gradualmente, não me dava a segurança necessária para tentar a bonificação. Na saída desse PC, sou alcançado pelo Farinazzo.

Sigo diretamente do PC 5 ao PC 7, já evitando pedalar nas subidas, para evitar tração no pneu, que a esse ponto estava tão murcho que o aro da roda traseira já batia no chão. Embora irritado com isso, aproveito para curtir o visual da região, já que, também no downhill não posso correr muito, ainda que apóie todo o meu peso sobre o guidão, na tentativa de liberar peso na roda traseira. Chego ao PC 7 em 5º lugar e, ao sair do PC, tenho de iniciar um rápido bike’n’run, pois o pneu já estava completamente no chão e não queria detonar mais ainda a bike. Sigo assim, correndo e empurrando a bike por, aproximadamente, 3,5 km, dois quais 2 km no plano e em subidas e outros 1,5 km de downhill, até a AT 2/PC 8.

Chego à AT 2/PC 8 desesperado atrás de uma bomba, pois pretendia encher o pneu naquela hora mesmo. Uma vez que poucas bikes se encontravam lá, apenas a do Farinazzo com a bomba (que ele havia negado me emprestar na saída do PC 5), decido seguir em frente, deixando a solução desse problema para depois. Cabe dizer que a organização do evento nos preparou uma ótima surpresa nessa AT, com uma grande mesa de frutas, PowerBar - gel, água e, até, Red Bull para os corredores.


Na pedreira, um rapel de 45 metros
© Divulgação Copa Ametur de Corrida de Aventura

Rumo ao PC 9, decido com o Marcelo um simples corta “campo aberto”, o que economizaria algo como 1 km de percurso, e seguimos pelo lado direito do riacho da cachoeira, até onde faria um rapel de frente, ou seja, desceria uma íngrime pedra de 35 metros andando, com o mosquetão preso na parte traseira da cadeirinha. Nesse PC, as duplas graduadas ainda fariam mais um rapel, por dentro da água e lodo, dessa vez de 40 metros.

Após o PC 9, começava a navegação de fato, com várias opções de caminhos a serem seguidos. Decido seguir pela estrada, ao lado direito do rio da cachoeira, ao invés de seguir pela trilha do lado esquerdo dele. Troto até visualizar o Marcelo e grito para ele que iria tentar cortar caminho pelo pasto entre dois morros, o que, segundo o mapa, ainda que tivesse uma pequena subida e descida a enfrentar, implicaria em reduzir esse trecho pela metade, caso resolvesse seguir pela estrada ao seu redor. Seguido pelo Marcelo e, logo atrás, por mais uma dupla (nesse ponto, as equipes de todas as categorias já começavam a se misturar), seguimos essa alternativa, chegando ao outro lado do morro, onde rapidamente localizamos a estrada que nos levaria ao PC 10.

Chego ao PC 10, na Capela do Engenho Velho, ao lado da Estrada Real, em 4º lugar e cometo um erro fatal: sem olhar o mapa e a bússola, sigo uma dupla que saía do PC. E o pior, sigo convicto de que estava tudo certo.

Corro com o Marcelo, ultrapassando essa dupla, cortando um pasto até uma estrada, onde seguimos a todo vapor, apesar do sol do meio dia batendo forte na cabeça. Seguimos por mais de 2 kms, quando encontramos uma dupla amadora, cuja categoria seguiria direto do PC 11 ao PC 15. Informados de que o PC 11 estava distante, seguimos a orientação dessa dupla e saímos, por entre pastos, pulando cercas etc rumo ao PC 11, perdendo muito tempo e caminhando mais 4 km além do que deveríamos, se tivéssemos feito o caminho correto.


Com o pneu no chão, tenho de fazer um bike'n'run entre os PC's 7 e 8
© Divulgação Copa Ametur de Corrida de Aventura

Chego ao PC 11, pouco após um corredor solo haver saído de lá. Decidido a não perdê-lo de vista, saio ladeira abaixo correndo atrás dele. Após cruzar pastos, um pequeno riacho e enfrentar uma rápida subida (nesse momento a minha falta de preparo físico começou a bater, assim como as cãibras), chego à uma pequena estrada. De lá, verifico no mapa e decido mais uma vez cortar caminho por entre os morros (após a prova, ao tentar entender o erro cometido nesse trecho, descubro que entrei num pequeno vale, paralelo e à esquerda do vale que deveria ter seguido, o qual iria diretamente ao PC 11). Esse erro se deveu, sobretudo, à região onde estávamos, onde o mar de montanhas tornava a localização muito difícil, até porque, as diferenças entre suas alturas, eram bastante pequenas (1018 m, 1035 m, 1015 m, 1024 m, 1035 m, 1043 m, 1000 m, 1010 m, 1021 m, etc).

Apesar do erro, por estarmos sempre trotando, conseguimos chegar ao PC 12 em 7º e 8º lugares, antes daquele corredor que vimos saindo do PC 11. Após picotarmos o mapa e assinarmos a planilha, nos hidratamos e seguimos a prova.

Cabe aqui uma observação/dica: em qualquer prova, qualquer erro de navegação pode ser rapidamente corrigido. Assim, ainda que erre feio algum trecho da prova, mesmo as longas, nunca desista, nem desanime, pois todos estão sujeitos a erros e à problemas com equipamentos (no fim dessa matéria, você verá como mais um erro estratégico me fez perder 3 posições no último trecho da prova).

Saindo do PC 12, rolou uma cena engraçada, já que um corredor solo nos passou trotando, num momento que eu tentava superar cãibras muito fortes nas duas pernas, na parte posterior dos joelhos e inferior das coxas (depois da prova, conversando com a Luciana de Jesus, amiga e fisioterapeuta particular de plantão, fui informado que estirei o tendão da perna direita por não ter parado de correr). Ao ser ultrapassado, olho para o Marcelo e digo: “Nem fu...!” Com cãibra e tudo, o seguimos há poucos metros, trotando quando ele trotava e andando quando ele andava. Aproveito esse momento de “descanso” para me hidratar e alimentar, na esperança de que as cãibras parassem. Após cerca de 2 km desse “jogo” em estradas planas, decidimos ultrapassá-lo, uma vez que minhas dores começavam a passar.

Chegamos ao PC 13, quer dizer, onde deveríamos achar o PC 13 e encontramos diversas duplas e corredores solo, o procurando. Só o achei por tê-lo visto à distância, quando, no alto de um morro, pude ter uma visão geral da região.

Chego nesse PC, seguido de mais 3 corredores solo. Nesse momento, visualizando o mapa, tomo a melhor decisão que tomei nessa prova: fazer o 1º azimute da minha vida!!! Conseguindo visualizar onde estávamos, o formato de dois morros, um à direita e outro à esquerda, e um morro de 1200 metros ao fundo, bem à nossa frente, consigo perceber a direção correta que deveria seguir: marco-a na bússola e saio reto, passando pelo meio de pastos, pulando cercas, cruzando um riacho e uma plantação de eucaliptos, até o PC 15 (a categoria solo não precisava passar pelo PC 14). Meu azar é que um dos corredores solo resolveu nos seguir (a mim e ao Marcelo, que praticamente correu a prova inteira comigo, trocando idéias).

Feliz da vida, chego rapidamente ao PC 15 e, juntando todas as minhas forças, me separo do Marcelo, correndo à sua frente, pois tinha que chegar ao PC 16/AT 3 o mais rápido possível, pois teria que achar uma bomba e encher meu pneu. Chego lá, encho o pneu enquanto mais três outros competidores da solo lá chegam e se preparam para sair, fazendo uma transição um pouco lenta, na minha opinião. Como cheguei ao PC antes deles, decido aguardar a sua saída, enquanto me alimento, hidrato e faço alguns alongamentos.

Ocorre aí meu último e estúpido erro: quando, já descansado, vejo que os três estão saindo, viro a bike, que estava de ponta cabeça para o enchimento do pneu, para sair junto com eles e, no momento oportuno – o mapa indicava um grande downhill, minha “especialidade” -, os ultrapassaria, chegando à sua frente no final da prova. Ao fazer isso, percebo que o pneu havia esvaziado novamente, ou seja, tive que trocar o pneu vendo-os irem embora. Essa estratégia errada, já que, na dúvida, deveria ter trocado o pneu de vez ao chegar na AT/PC, pode ter me causado a perda de 3 posições na classificação final da prova.


Marcelo - amizade criada na Orkut, transforma-se em companheirismo durante a prova
© Divulgação Copa Ametur de Corrida de Aventura

Troco o pneu rapidamente, encho-o e saio a todo vapor, mas, como tratava-se de um trecho com duas breves subidas e dois grandes downhills, já não consigo alcançá-los: aqueles 5 minutos a mais trocando o pneu, foram os suficientes para que não fosse possível alcançá-los até o fim da prova.

Chego ao final da prova em 9º lugar, mas, em virtude da bonificação de um corredor (pela passagem no PC 6), e da penalização de 30’ do Marcelo, que perdeu seu capacete durante a prova, termino a prova em 8º, me garantindo a 3ª posição na classificação geral da Copa AMETUR de Corrida de Aventuras.

Em breve tem mais! Estarei lá, bem treinado e descansado, com a missão de garantir um lugar no pódio dessa Copa, que, pelas suas características e organização, já ocupa lugar de destaque no calendário nacional de corridas de aventura.

PS – Aproveito para parabenizar a organização pelo respeito ao atleta, mantendo ou indicando pontos de hidratação e alimentação em locais chave da prova. Além disso, o atendimento médico era composto de 3 ambulâncias (sendo 1 UTI móvel), 6 profissionais de resgate, 3 enfermeiras, 1 médico responsável pelo evento e um ônibus da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Carandaí que tinha 2 consultórios, consultório dentário, etc, para pouco mais que 100 competidores. Vejo pouco disso nas outras provas que conheço e corro.

Saiba mais: www.planetaventuras.com.br

Guto Freitas, <i>especial para Adventuremag
Por Guto Freitas, especial para Adventuremag
14 Ago 2004 - 10h48 | sudeste |
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