Novas tecnologias de comunicação X novos adeptos aos esportes de nicho

Por Wladimir Togumi - 16 Jan 2018 - 17h16

O Facebook anunciou nos últimos dias uma mudança em seu algoritmo (uma espécie de fórmula matemática) que dará maior relevância para as postagens de amigos e familiares. Para as páginas de marcas (e isso inclui os organizadores de provas) resta anunciar na plataforma ou usar de toda a sua criatividade para chamar a atenção do seu público.

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© Rodion Kutsaev

A publicação direto na plataforma ao invés de colar links torna a postagem mais relevante, mas ainda assim menor que a de uma pessoa. Outra opção – e que algumas organizações já utilizam – é a divulgação através de embaixadores. Como essas postagens são feitas no perfil pessoal o alcance é maior, mas por outro lado pode deixar de atingir um público maior, porque ficará praticamente restrito aos amigos e familiares (dependendo da configuração atinge os amigos dos amigos).

E as redes sociais ganharam tanta força que tem gente que acredita que o Facebook é a Internet.

Mas o assunto aqui é como esse novo mundo da difusão de informações pode estar dificultando a entrada de novos participantes, principalmente nos esportes de nicho como a corrida de aventura.

A internet nos trouxe a possibilidade de saber tudo sobre qualquer coisa, mas as novas tecnologias estão criando mundos cada vez mais fechados. Os algoritmos nos mostram coisas que acreditam ser mais relevantes ao nosso interesse e nos fecham em círculos que no fim, acabamos vendo mais do mesmo.

As discussões que antes aconteciam nos sites dos eventos migraram para as redes sociais e agora, para os grupos de Whatsapp, uma forma rápida e fácil de interagir e trocar informações (apesar de não ser uma unanimidade), permitindo que as pessoas recebam as novidades sem precisar estar na frente do computador. Mas os grupos são uma espécie de sociedade secreta. Se você não conhece quem está dentro, nunca tomará conhecimento de sua existência.

Diferente das redes sociais, onde você poderia fazer uma busca, pedir para entrar em um grupo e, se aprovado, em pouco tempo estaria se enturmando e se interando dos assuntos.

Se o grupo de Whatsapp fosse um filme, depois de conhecer alguém você teria que seguir a instrução para chegar em um beco escuro onde encontraria uma pequena porta e sua primeira senha seria bater em uma sequência ritmada pré-definida. Um segurança te olharia por uma pequena abertura e perguntaria seu nome e a contra-senha. Só então permitiria sua entrada.

É inegável que a plataforma funciona para quem já conhece o esporte, mas perde-se a entrada espontânea de novos participantes, aqueles que nem sabem que ele existe e poderiam ver alguma coisa sobre a modalidade em algum lugar “de fora”, se interessar e correr atrás de informações. E nos casos das discussões, poderiam dar de cara com uma conversa sobre o assunto, passar a interagir e ser um novo praticante.

Boa parte dos primeiros corredores de aventura do Brasil, e quem sabe do mundo, descobrirar as corridas de aventura ao ver as belas imagens de malucos correndo, pedalando e remando em lugares paradisíacos nos programas da Discovery Channel e AXN.

Em tempos passados a divulgação em massa (leia-se canais de TV abertos, revistas) sempre foi o sonho de qualquer organizador. Mesmo que um programa de nível nacional tenha uma grande diversidade de telespectadores, uma pequena porcentagem de interessados significa uma grande quantidade de potenciais clientes.

Lembro de alguns anos atrás estar fazendo acertos no Adventuremag numa manhã de domingo (pode parecer mentira, mas não é) quando passou uma reportagem sobre corrida de obstáculos no Esporte Espetacular.

Havia publicado alguns artigos sobre o assunto e passei a acompanhar as visitas no site em tempo real. Vi as visitações subirem enquanto a reportagem estava no ar e se mantiveram alguns minutos depois do término.

Isso é o que os especialistas chamam de segunda tela. As pessoas passaram a assistir televisão com o celular ou tablet na mão e interagem em tempo real nas redes sociais ou fazem buscas sobre assunto que está sendo transmitindo.

Esses potenciais novos clientes que estavam assistindo o programa se depararam com algo que gostaram e correram atrás de informações.

Essa possibilidade de atrair a atenção de pessoas “de fora” vale também para a TV fechada, que tem um público mais restrito, é verdade, mas a situação é a mesma.

“Mas as pessoas estão assistindo menos televisão!”. É verdade, mas a televisão foi apenas o exemplo de uma época. O que precisamos é não se fechar e tentar deixar o esporte acessível ao maior número de pessoas.
E mesmo quando sabemos o nome de um evento, às vezes é difícil encontrar informações básicas.

Ter um site ainda é importante para concentrar as informações em um só local, mas com a chegada do Facebook e a facilidade de publicação, alguns organizadores decidiram migrar. A verdade é que a linha do tempo do Facebook é um grande buraco negro. Depois de algum tempo você não encontra mais nada. Quem leu, leu. Quem não leu... manda mensagem perguntando.

Encontrar uma informação nova, um cronograma, uma informação específica ou um informativo se torna um martírio. A postagem inicial se mistura com dúvidas, piadas e outros comentários. E isso acontecia quando as postagens eram mostradas em ordem cronológica. Quando o Facebook alterou para mostrar as postagens mais relevantes, a situação piorou.

E para fomentar os esportes de nicho isso não é nada positivo. Não é possível ficar dependendo apenas de atletas atuais trazerem amigos e conhecidos. É preciso trabalhar na divulgação diferenciada para trazer os desconhecidos.

Wladimir Togumi
Por Wladimir Togumi
16 Jan 2018 - 17h16 | geral | Mercado
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