Quanta aventura!
Uma nova equipe de Corrida de Aventura do Planalto Central, formada por atletas nascidos em Brasília e que sabem o que querem da vida...
Aventura, diversão, superação e momentos inesquecíveis! Esse é o espírito da Brasília Multisport Team.
Após cinco anos de envolvimento com o esporte, acho que meus amigos mais experientes na modalidade depositaram confiança em mim e me integraram a esse time que, ao meu ver, é um time especial e de grande potencial.
Honestamente, eu também buscava por isso. Um time que me puxasse pra cima, que eu pudesse alcançar novos degraus e ter um novo parâmetro da palavra dificuldade. Realmente, dificuldade é uma palavra relativa...
Pois bem, para dar início as aventuras, uma prova de 300 quilômetros em meio a planície litorânea da costa sul do estado de São Paulo.
Um encontro presencial em Brasília, alguns emails e pronto: equipamentos em dia, passagem comprada, carro alugado e eu com uma vontade insana de largar logo e me colocar à prova.
A aventura começou na própria chegada a São Paulo. A mala de nosso Manager Alexandre Carrijo não chegou em São Paulo. Nela, equipamentos que precisaríamos, sobretudo para colocar as bicicletas no rack do carro. Desparafusamos os dois últimos bancos do Doblô, fizemos uma mágica e incrivelmente as quatro bicicletas e todas nossas bagagens couberam no carro, juntamente com os integrantes; o capitão da equipe Guilherme Pahl, a máquina Kenny Sousa, a mulher aventura Tatiana Queiroz e eu, Rafael Serejo, pau pra toda obra...
Que legal! Fazia tempo que eu conversava com meu amigo e companheiro de escalada, nosso capitão, sobre a formação de um novo time de corrida de aventura da Capital. Agora, eu sentia a energia se materializando. Uma felicidade interior muito boa tomava conta de mim.
No caminho até a cidade sede do evento, Juquiá, fizemos uma reunião para acertar os últimos detalhes antes da largada.
Quando chegamos ao hotel, preparamos todos os equipamentos enquanto o Guilherme estudava o mapa e fazia a nossa estratégia de prova. Ele nos mostrou o mapa, como seria a prova e nos preparou psicologicamente para o desafio que estava por vir. Já era de madrugada. Dormimos algo em torno de quatro horas.
Ao despertar, tomamos um bom café. Percebia que todos estavam felizes, ansiosos, mas com um semblante tranquilo. Isso era muito bom! A vontade de largar era evidente em todos!
Acho que na realidade, cada um em seu íntimo, queria saber como o grupo iria funcionar. Não havíamos treinado juntos. Para ser sincero, eu e a Tati havíamos feito dois treinos.
Nossa intenção não era ganhar a prova, mas eu sabia que fisicamente nossa equipe era uma equipe forte e que se fizéssemos tudo certinho teríamos chances. Procurei ser eficiente, agregar informações e conhecimento ao time. Somar acima de tudo. O objetivo em participar da prova era nos conhecermos como grupo e fazermos um treino para o Ecomotion, etapa brasileira do circuito mundial de corrida de aventura que acontece no Brasil desde 2003.
Largamos na Ilha Comprida, em meio às dunas. Colocamos um ritmo razoável, mas fomos nos poupando. Após 3 quilômetros de corrida, chegamos ao PC, escolhemos as embarcações e saímos para um trecho de canoagem de 8 quilômetros.
Ganhamos algumas posições e saímos para um trekking de aproximadamente 25 quilômetros, ora em trechos de asfalto e área urbana, ora subindo e descendo morros do litoral. Terminamos este trecho já à noite.
Fizemos uma transição tranqüila e saímos para um pedal de aproximadamente 70 quilômetros. Esse pedal foi bem interessante. Não fazia muito frio, colocamos um bom ritmo, mas quando chegamos à beira mar o vento contra apareceu com força. Fomos negociando com o vento e, no PC 10, encontramos com o Marcelo, que corria solo, e fomos juntos até o PC12, ponto final do trecho. Acho que gastamos por volta de 5 horas para realizar o trecho.
No PC 12, o Carrijo nos presenteou com um rodízio de pizza. Fizemos a transição e saímos, por volta de 0:45am para outro trecho de aproximadamente 25 km de trekking plano, porém de difícil navegação, sobretudo à noite. A vegetação nativa também era um fator que dificultava nossa progressão. Havia momentos em que não havia trilha e, andar no interior da restinga, repletas de plantas baixas, sobretudo as bromélias cortantes, exigia bastante pericia e atenção. A progressão foi lenta.
Encontramos com o Pablo e o Marcelo, e fomos todos juntos até o momento em que o Marcelo resolveu se antecipar e nos deixou. Pablo, a partir daí, se tornou quase que um quinto elemento do grupo. Ele nos ajudou bastante na navegação e todos falávamos muitas besteiras para nos distrairmos e minimizarmos as condições que nos encontrávamos; o cansaço começava a aparecer, o sono latente era um fator que limitava nosso raciocínio. A escuridão complicava e deixava tudo mais difícil.
Achar o PC 13 não foi fácil nas condições que nos encontrávamos. Ficamos perdidos para encontrar a trilha que ia ao PC 15. Vai e volta, olha mapa, pára, estuda, analisa, e nada...o sono bateu com força em todos. Era quase alvorecer e os navegadores não funcionavam mais. Resolvemos parar por alguns minutos em um barranco recoberto por folhas secas. Deitamos, descansamos rapidamente e, quando retomamos, a luz do dia já predominava no ambiente.
Bom dia, pensei. Que bom que veio o sol para nos aquecer e iluminar.
Tentei ajudar o Guilherme a encontrar a trilha e, depois de muito vai e volta, a encontramos e chegamos ao PC 15. Continuamos até a praia e vimos um nascer do dia lindíssimo. Fomos correndo pela praia, vento contra, mas a paisagem era o nosso prêmio. Estávamos em um local belíssimo!
Terminamos o trecho de trekking junto com o Pablo. Marcelo ainda não havia passado e ficamos imaginando a roubada que ele deveria ter enfrentado sozinho durante a noite. Lanchamos e nos reabastecemos sem pressa. Pablo se adiantou, pois sua embarcação era mais lenta, e nos deixou.
Saímos para um trecho de canoagem de 25 km. Foi incrível. Céu azul e apesar do cansaço estar visível em nossos rostos, os botos cinzas, Guarás Vermelho e a paisagem nos distraiam e davam energia para seguirmos. Este trecho foi bem legal. Mesmo cansados, quantas risadas... Isso é muito bom!
Quando chegamos ao PC 17 fizemos mais uma transição lenta, fomos recepcionados por um atleta de minas, que nos deu churrasco. Eu tomei 1 copo e meio de cerveja.
Neste ponto, nos faltavam 4 trechos; um de 6 km de canoagem, 38 km de trekking e 35 de canoagem e 87 de mountain bike. Fomos avisados pela organização que o trecho seguinte de trekking havia sido reduzido para 13 km e que o trecho de canoagem não seria mais feito, mas em compensação, o pedal havia sido aumentado em 30 km.
Assim, nos apressamos em concluir o trecho de canoagem e fazermos os 13 km de trekking ainda de dia. No trekking, fui navegando junto com o Guilherme, mas em determinado momento, uma lerdeza e sono impressionantes me dominaram por alguns minutos. Uns 20 minutos. Eu estava literalmente dormindo em pé! Foi uma sensação extrema.
Analisando, penso se aquele gole de cerveja potencializou este efeito sobre mim, uma vez que eu não havia sentido nada parecido em toda minha vida, ou se era o cansaço acumulado da prova. Não sei, terei de aumentar meu universo amostral para chegar a alguma conclusão....
Bom, o Guilherme fez uma excelente navegação e nos colocou morro acima. Eu retomei a consciência e voltei a acompanhar o mapa. Quando chegou ao topo do morro, eu já me sentia melhor. Kenny passou a impor um ritmo mais rápido ao time. Aumentamos um pouco o ritmo e descemos o morro. Saímos da trilha plotada no mapa, tomamos uma carreira das vacas e seguimos correndo em direção a área de transição.
Para terminar, um rasga mato em meio ao capim navalha, vegetação arbórea baixa e muitos cipós. Rasga mato classe "A"! O trekking tinha que terminar assim... Completamos a missão. Chegamos ao PC 19 com as luzes do anoitecer. Fizemos mais uma transição sem pressa; trocamos de roupa, nos reabastecemos, comemos bem e descansamos por 15 minutos.
Neste momento, cometi um erro que me custou muito caro. Deixei meu agasalho na transição, não sei o motivo, mas talvez pensando em chegar logo e ir leve, resolvi deixá-lo. Também, mesmo sendo alertado pelo Guilherme, levei pouca comida.
Pablo, que havia nos alcançado no trecho de trekking anterior, teve de esperar sua bicicleta que não havia chegado ao PC e acabou saindo junto conosco.
Iniciamos o trecho pedalando devagar. O cansaço e o sono eram evidentes em todos. Pedalamos uns 50 km, encontramos um tablado de madeira, abrigado do vento e do frio, e decidimos dormir por 10 minutos. Neste momento eu percebi que havia cometido um grande erro em deixar meu casaco. Sentia muito frio e não era nem meia noite... Teríamos de pedalar noite à dentro, por uma estrada que margeava um rio, ou seja, ambiente gelado!
Com o frio, passei a me dispersar mais. Tinha dificuldade em me concentrar e me manter focado. A única coisa que pensava era em não parar. Fomos em frente.
A Tati e o Kenny também sentiam muito frio e também preferiam seguir adiante do que parar (essa foi minha percepção). Todos estavam muito cansados e com muito sono. Guilherme navegou sozinho neste trecho. Eu estava sem o mapa do trecho. Pablo também ajudou, mas os dois estavam bastante cansados.
Em um dado momento, os dois pararam. Tati, Kenny e eu voltamos para encontrá-los e eles haviam simplesmente parado na beira da estrada e estavam dormindo no barranco. Olhei para para a Tati e para o Kenny como quem diz, não quero dormir aqui, mas o Guilherme já nem respondia nada. Rapidamente, tomamos a decisão de dormir também e nos deitamos no chão. Não resistimos 10 minutos.
Tati, Kenny e eu sentíamos muito frio. Levantamos-nos, acordamos o Guilherme e o Pablo e seguimos em frente.
Guilherme passou a dormir sobre a bicicleta, literalmente. Dizia-se, bastante sonolento, que necessitava dormir. Eu e o Kenny passamos a ajudá-lo da maneira que podíamos. Eu facilitava a navegação, medindo as distâncias, e revezava com o Kenny uma forcinha para o Guilherme nas subidas. Tati, mesmo cansada e sonolenta, nos incentivava moralmente e Pablo passou a navegar com mais atenção.
Passamos em um PC virtual.
Decidimos que iríamos parar, sim, mas que iríamos parar em um local abrigado. Após quase uma hora, encontramos um galpão que tinha um piso externo. Havia uma lona e papelão. Alojamo-nos rapidamente e dormimos por quase 30 minutos. Retomamos com muito frio, muito mesmo. Eram quase cinco horas da manhã.
Neste ponto, tínhamos a opção de escolhermos dois caminhos, um por rodovia, mais longo e outro mais curto, por trilhas, em meio às propriedades rurais. Guilherme optou pelo caminho mais curto. Quando adentramos a propriedade, fomos abordados pelo segurança, que impediu nossa entrada. Argumentamos que estávamos competindo e que existia um caminho pela propriedade que nos levaria ao próximo ponto, mas ele não permitiu nossa entrada. Insistimos, ele comprou a "briga". Amedrontou-nos.
Ficamos ali sem saber o que fazer, o segurança nos dizia que deveríamos esperar, que o patrão dele estava a caminho e poderia liberar o acesso. Nós, congelados e com medo dele (pelo menos eu estava), queríamos sair logo dali. Mas ele não nos deixava. Com muito frio cheguei a perguntá-lo se ele poderia nos oferecer uma bebida quente e um piso de concreto, um cobertor... Em vão...
Mesmo pressionados a permanecermos ali até o proprietário chegar, a Tati conseguiu sair e eu, como em uma cena teatral, fiz um drama "hipotérmico" e saí daquele "cenário"...foi cômico!
Logo em seguida, Kenny, Guilherme e Pablo vieram. Estávamos saindo da propriedade quando um carro se aproximou. Era a polícia. Paramos, explicamos, mas não chegamos a um acordo. Não poderíamos passar por ali...
Guilherme tentou outro caminho pelo meio das propriedades, mas também fomos abordados por outra viatura policial.
Foi aí que nosso capitão teve um idéia genial e disse: vamos invadir!! Depois de uma conversa consensual entre o grupo, apagamos as lanternas e fomos em frente! Foi uma invasão, seguida de uma fuga...como nos filmes de ação...quaaanta aventura!!
Guilherme retomou a navegação, fizemos alguns "vai e volta", e tomamos o caminho correto. Eu já estava esgotado, extremamente sonolento e faminto! Por sorte, encontramos uma venda aberta. Paramos, tomamos um café da manhã: pão com mortadela, mel e coca-cola, e seguimos rumo à chegada.
Comecei a refletir sobre a prova e realmente achava que nós éramos merecedores daquela vitória. Havíamos nos superado, nos esforçado ao máximo, todos em busca do seu melhor. Subimos uma serra linda, fizemos um downhill fantástico e fomos, em meio a um ar de celebração e análise dos acontecimentos, rumo a linha de chegada.
Cumprimentamos-nos, celebramos por todos os momentos que compartilhamos juntos, sempre com boa amizade, boas risadas e foco, e finalmente cruzamos a linha de chegada, agora com a certeza de que éramos os campeões!
Gostaria de agradecer àquelas pessoas que nos incentivaram e deram condições para estarmos presentes ali, familiares, amigos, ao Carrijo, nosso Manager, que foi quem nos concedeu a inscrição da prova e mídia, ao Restaurante Natural Green's que nos dá energia de primeira qualidade para podermos encarar uma aventura como esta, e à Keep Healthy, que nos uniformizou.
Do contato que tive com cada um. São só algumas características. tem muito mais e elas se fundem...
Guilherme: astuto, estratégico, perseverante e tranqüilo;
Kenny: focado, forte e arteiro;
Tati: aventureira nata, forte, determinada e super mulher;
Carrijo: disposto, otimista, administrador e visionário;
Eu: deixo esta parte pra vocês...
Todos nós: FEH INABALÁVEL
Foi uma satisfação tremenda poder compartilhar com vocês essa experiência!
Obrigado a todos por me proporcionarem momentos assim, de superação total!
A dificuldade é relativa aos olhos do observador e às experiências de vida...
Rumo ao Ecomotion!
Um abraço a todos,
Rafael Serejo de Jesus
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