Sem dúvida, participar de uma prova de campeonato mundial fora do pais é uma experiência que todo corredor de aventura gostaria de vivenciar e conosco não foi diferente. Nossas pretensões também eram muito claras: completar a prova!
Alguns atrasos no transporte e recepção no aeroporto em Madrid, mas nada que incomodasse mais que as 5 horas de fuso horário, por isso chegamos um dia antes fato que acabou sendo de extrema utilidade pois tivemos que sair atrás de um cambio novo danificado no transporte.
Marco Aurélio Alcântara, Giorgio Rabolini, Andréia Henssler Koetz e Jean Carlo Finkler
© Cosa Nostra Salomon
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Equipes percorrem as ruas de Ávila
© Cosa Nostra Salomon
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Chegamos em Ávila na noite de 5ª feira. Hospedados num hotel em frente à cidade e suas muralhas e já fomos arrumar as bicicletas. Antonio de La Rosa, o organizador da prova, circulava com sua irmã Vanessa esbanjando simpatia entre as mais diversas equipes do mundo todo, 67 de 31 diferentes países.
Na 6ª feira check material e teste de verticais e no sábado começou a correria. Distribuíram um race book e os 5 tonéis de aproximadamente 200 litros cada para cada modalidade - comida / trekking e verticais / mountain bike / kaiak / rollers - e foi um quebra cabeça tentar aliar o material a ser acomodado em cada tonel baseado no que o race book determinava em termos de cruzamento com cada um desses tonéis nas diferentes áreas de transição. Muitas vezes apenas 1 ou 2 deles estariam na transição e corria-se o risco de faltar um tênis ou uma roupa seca se não se fizesse o calculo certo do que seria usado nesta ou nas etapas anteriores. No nosso caso até que funcionou bem, apenas um dos integrantes esqueceu onde tinha colocado as roupas mais quentes, mas no fim isso não atrapalhou em nada.
O mesmo race book que mostrava as distâncias de cada trecho também estimava o tempo mínimo e máximo que as equipes mais ou menos rápidas levariam e o desnível altimétrico que enfrentaríamos na prova - mais de 20.000 m !!!
Após um almoço rápido foi tirada a foto de cada equipe num monumento em frente ao hotel e seguimos todos com as respectivas bandeiras de cada país em carreata pelos muros de Ávila até o centro histórico, onde entregaram os mapas (40) e explicaram que a prova constaria de diversas "alças" opcionais . O intuito era estabelecer uma estratégia realista para cada equipe para que, abrindo mão dos trechos opcionais que iam e voltavam para o mesmo ponto, se minimizasse o risco de desclassificação para os mais lentos e ao mesmo tempo se mantivesse sempre um "bolo" de equipes agrupadas. Obviamente quem abrisse mão dos trechos opcionais estaria também sendo penalizado em tempo.
Acreditamos que a boa leitura que fizemos desse dispositivo nos permitiu fazer uma prova bem realista e baseada no nosso principal objetivo, que era chegar ao final sem desclassificação. O resultado foi que chegamos na frente de muitas equipes que acabaram não conseguindo vencer o percurso, mesmo que a nossa vontade em determinados momentos fosse a de encarar todos os trechos possíveis.
Um detalhe que chamou atenção foi a má qualidade dos mapas em relação a impressão e a definição dos detalhes de curvas de nível e trilhas e estradas.
A largada da prova foi dentro da cidade histórica, entre os muros de Ávila, com um mapa turístico dos principais pontos a serem visitados e de volta ao hotel para um mountain bike de 80 km com muito vento e muito sobe e desce. Fizemos então uma parte do trecho seguinte de 16 km de orientação e já anoitecendo, com frio e chuva, saímos para mais 76 km de bicicleta, sendo que ao amanhecer paramos num pequeno depósito dentro de um parreiral para uma horinha de sono. Aliás as uvas estavam muito doces e ajudaram a quebrar o sabor da alimentação.
Chegamos num ponto muito difícil em termos de navegação e abrimos mão do trekking/kayak seguintes, seguindo nosso planejamento para mais um trecho de mountain bike com 1850 m de desnível passando por muitos pueblos. Aliás, duas coisas chamavam atenção nesses pueblos além de sua beleza por envolverem a estrada lomba acima: a falta de gente nas ruas e a idade elevada das pessoas que eventualmente se via.
Um outro dado também impressionante, não específico dos pueblos mas da Espanha em geral , é o altíssimo número de fumantes e da tolerância das pessoas em relação a isso também em lugares fechados!
Roller de 6 km subindo e a partir daí um dos trekkings mais bonitos que a gente lembre de ter feito em trilhas de alta montanha, já com a noite alta chegando, até um refugio na região chamada Laguna Grande, na Serra dos Gredos. O refugio nos permitiu tomar um café quente e comer um talharim ao sugo por módicos 10 euros, além de descansar em camas com cobertores aconchegantes para o frio da ocasião.
Depois de duas horas de parada subimos um pico de 2560 m. Nessa região aconteceriam as técnicas verticais que foram suspensos devido ao mau tempo da noite anterior. Fechamos os quase 30 km de trekking com um novo mountain bike até a zona da parada obrigatória de 4 hs.
Abrimos mão novamente de um opcional de kayak/trekking/roller, emendando 3 trechos de mountain bike num total de 150 km quase todos pedaláveis, mas com muitas subidas. Em dois desses trechos não conseguimos encontrar a descida normalmente, optando por uma hora de descanso - apesar do frio - num saco de dormir, aguardando a luz do dia para realinhar o caminho.
Num dos poucos empurra bike que passamos nesse trecho, subimos para uma cidade muito bonita e cheia de restaurantes bonitos e hotéis e pousadas no alto da serra de Francia chamada Alberca. Para tal, saimos de um pueblo aos pés dessa montanha que em um bar excepcionalmente aberto apesar de ser tarde da noite, fomos muito bem recebidos com direito a café quente e aperitivos de queso e jamon para fugir do habitual sabor das nossas comidas usuais.
Finalmente um ultimo trecho de 80 km de mountain bike (esse foi o problema de abrir mão das alças. Normalmente o maior deslocamento era de bicicleta e com isso acabamos repetindo muitas vezes a modalidade. E haja períneo !).
Para o último segmento de 80 Km de canoagem era proibido estar na água das 20.30 às 7h30, fiscalizado através de um rigoroso controle por GPS que levamos o tempo todo na prova. Como chegamos no inicio desse trecho às 17h30 tentamos abater o máximo de distância possível e às 20h29 paramos na margem do rio, já tendo percorrido uns 25 km de represa.
O acampamanento a margem do rio teve direito a fogueira e janta e foi reconfortante e às 7h30 estávamos novamente na água em dois caiaques simples e um duplo, percorrendo os 60 km restantes até Salamanca.
Havia ao menos 5 portagens no trajeto pois era grande o número de barragens e as corredeiras eram muito fracas e não dificultaram o percurso para quase ninguém.
De longe via se o contorno de uma das catedrais de Salamanca e a chegada ainda contou com um pequeno stress de horário, pois ainda nos faltava uma orientação em mapa turístico, similar ao da largada. Eram 17h57, portanto dentro das 18 hs que a organização preconizava quando cruzamos a linha de chegada na 33ª colocação, obviamente cansados mais muito felizes por alcançar o objetivo proposto e pela experiência internacional adquirida.
Giorgio Rabolini
Cosa Nostra Salomon
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