ARWC 2011 - 733 de 733km, em 185 horas. Oskalunga Kailash completa a maior e mais dura prova de suas vidas!

Por Alexandre Carrijo - 10.Nov.2011

Até para quem acompanhou de fora a competição foi exaustiva, imagine para quem sentiu os altos e baixos de dentro da prova. Oskalunga terminou essa saga em uma fria madrugada com a sensação de dever cumprido. Não foi o resultado que esperavam, mas o 24º lugar teve sabor de quem não desiste nunca.

O organizador da prova, Craig Bycroft, passou as madrugadas acordado esperando pelos times na linha de chegada para ouvir suas estórias, oferecer pizza e champagne e, mais importante, para congratulá-los pessoalmente pelo grande mérito de completar essa épica expedição. Segundo ele, todas as equipes chegam falando de seus infortúnios e dos "IFs" (se não tivesse me perdido, se não estivesse tão frio, se tivesse feito o rio sem dark zone...). "Todos acham que essas coisas só acontecem com eles, mas a verdade é que todas as equipes tiveram de alguma forma alguns problemas que as freiaram. Em alguma medida todos são afetados por algo inesperado."

E assim foi com Oskalunga. Logo nas primeiras 12 horas chegaram de trekking próximo a um PC que estava localizado na margem errada do rio e perderam 3 horas, pois havia escurecido há 15 minutos e não conseguiram ver o PC como quem ia à frente. Saíram do top 10 por esse motivo.

A seguir, em um MTB de 100 Km que levava ao "midcamp" (onde ocorreu o primeiro sono do time depois de quase 3 dias acordados), a equipe errou uma entrada e outras 3h foram embora. Isso prejudicou bastante o plano de fazer o trecho de 65 Km de trekking remoto todo durante o dia. Ao invés de começarem a caminhar às 4h da matina, só iniciaram com dia claro e, ao final, tiveram que navegar à noite no trecho mais difícil, que era no final dessa perna na montanha.

Na sequência, o maior dos perrengues: 150k de MTB montanhoso com o free hub da roda da Bárbara quebrando aos 20 Km, logo após acabar o push-bike nas dunas. Os três atletas se revezaram empurrando e puxando a garota por mais de 70 km. Segundo eles, não desistiram por pouco diante dessa situação. As equipes que passavam admiraram a coragem da equipe em seguir em frente. Além do frio por não pedalar, Bárbara ainda sofreu várias quedas por "dormir ao volante".

Conseguiram uma roda no meio do nada (pura sorte, segundo o organizador, já que aquela é uma região de mineração apenas) e seguiram para completar 150 Km com média de 8km/h em 36 horas totais. O cansaço os fizeram dormir demais e se atrasarem para a entrada no rio às 6h30 da manhã. Assim, perderam a chance de voltar para as melhores posições caso conseguissem fazer todo o trecho sem serem pegos pela dark zone. Somente um time, os suecos da FJS (Shubi Gumarães correu com eles no Mundial da Suécia em 2006), conseguiu a proeza.

Ao final do rio, já bem desgastados por uma semana de atividade e desmotivados por estarem fora dos 20 primeiros, a equipe levou 17 horas para concluir os últimos 50 Km de MTB, 21 Km de trekking e 35 Km de MTB no asfalto. Os primeiros levaram cerca de 11 horas. Fiz com eles o trekking e todos mancavam. A prova já tinha perdido a graça e agora era tentar chegar o mais rápido possível na linha de chegada para acabar o sofrimento que nessa prova, diga-se de passagem, nunca acaba. A costeira era difícil, a maré estava alta, anoiteceu e a equipe ainda sofreu o ataque final das sangue-sugas. Foram 8h30 para os 21 Km.

Nas palavras dos atletas da Oskalunga, o organizador teve requintes de crueldade nas escolhas de trechos e localização dos PCs. Perguntados sobre quais aspectos da prova foram mais difíceis, Diogo Malagon setenciou, "foi tudo...o frio, o clima, ficar molhado o dia inteiro. Saía da transição e 15 minutos depois estava molhado de novo."

Rafael Melges disse "a dificuldade foi a impiedade do organizador em colocar trechos muito difíceis e no final, um mais difícil ainda, só pra ter certeza de que tinha machucado todo mundo".

Caco Fonseca considerou "o cansaço acumulado de todos esse dias e os trekkings pesados que foram judiando da gente e nos deixaram arrebentados no final da prova.

Bárbara finalizou, dizendo "o clima e as partes técnicas da pernadas... ele botou a gente para fazer umas coisas longas e difíceis e ainda por cima com o clima te dando chicotadas. Quem completou merece parabéns, pois teve que se superar mentalmente, fisicamente, tudo... foi desconforto desde sempre".

A saga de Oskalunga nesse mundial (completaram 55 horas depois do primeiro colocado) só não foi mais dura por conta do navegador Caco Fonseca, que substituiu de última hora Lico Gall. Ao final da prova, havia unanimidade na equipe de que Caco foi fundamental para cruzarem a linha de chegada. A prova foi na costa oeste da Tasmânia e Diogo chegou a dizer de brincadeira que, sem o Caco no time, eles iam terminar os vara-mato em Horbart, extremo leste da ilha !

 

Carrijo Alexandre Carrijo é corredor de aventura e organizador do Brasilia Multisport - bms.vivabrasilia.com.
Ele está na Tasmânia acompanhando o AR World Championship 2011.

 

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